Juros futuros voltam a subir com cenário de preocupação no Brasil e no exterior

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira em alta, com a curva a termo voltando a refletir fatores de preocupação como a desconfiança na política fiscal no Brasil, os receios em torno da inflação, a eleição nos Estados Unidos e a decepção com os estímulos econômicos da China.

Este conjunto de fatores fez as taxas subirem pela nona sessão em um total de 13 no mês de outubro.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,184%, ante 11,164% do ajuste anterior.

A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,685%, ante o ajuste de 12,639%, e o vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,845%, ante 12,809%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,88%, ante 12,799%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,82%, ante 12,736%.

No exterior o dia também foi de alta para os rendimentos dos Treasuries, impulsionados pela divulgação de dados positivos sobre a economia norte-americana.

As vendas no varejo dos EUA subiram 0,4% em setembro, acima do 0,3% das projeções de economistas, enquanto os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 19.000 na semana passada, bem abaixo da previsão de 260.000 pedidos.

O avanço dos yields deu sustentação às taxas dos DIs no Brasil, mas a curva também reagia a fatores mais gerais, como a possibilidade de vitória de Donald Trump nas eleições de 5 de novembro.

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“Nos últimos dias Trump passou a ganhar favoritismo de acordo com alguns mercados preditivos e algumas pesquisas, o que aumenta a incerteza global”, comentou Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.

“(A possível vitória de Trump) é um evento que adiciona maior grau de aversão a risco, que é altista para o dólar. Nos últimos dias este risco vem crescendo marginalmente, o que vem penalizando economias emergentes como a do Brasil”, acrescentou.

Os ativos de emergentes também eram pressionados pela decepção com novas medidas anunciadas pela China para impulsionar o setor imobiliário. O país asiático anunciou que ampliará uma lista de projetos habitacionais elegíveis para financiamento e aumentará os empréstimos bancários para esses empreendimentos até o fim do ano. Analistas viram o anúncio apenas como um complemento de planos apresentados anteriormente.

Internamente, o mercado ainda aguardava por medidas concretas de contenção de gastos pelo governo Lula, prometidas para depois das eleições municipais, enquanto no campo monetário permaneciam as preocupações com a desancoragem da inflação.

Pela manhã, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que alta do Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) acelerou de forma acentuada em outubro, para 1,34%, após avançar 0,18% no mês anterior. O resultado ficou em linha com o esperado por analistas.

“Há uma maior aversão a risco motivada por fatores domésticos. Quando ocorre isso, você também fica muito vulnerável aos fatores externos”, disse Cunha.

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Neste cenário, as taxas de vencimentos como janeiro 2027 e janeiro 2028 chegaram a oscilar na faixa de 12,90%.

Na ponta curta da curva, as taxas passaram a precificar chances um pouco maiores -- ainda que minoritárias -- de o Banco Central subir a taxa básica Selic em 75 pontos-base em novembro, e não em 50 pontos. Perto do fechamento, a curva precificava 88% de probabilidade de alta de 50 pontos-base, contra 12% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na quarta-feira os percentuais eram de 93% e 7%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.

Às 16h39, o rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha alta de 4 pontos-base, a 3,976%. Já o retorno do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento -- subia 8 pontos-base, a 4,091%.

(Edição de Pedro Fonseca)

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