Dólar recua em linha com o exterior após escolha de Trump para o Tesouro
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava frente ao real nesta segunda-feira, em linha com a perda de força da moeda norte-americana em mercados emergentes, após o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escolher o investidor Scott Bessent como seu secretário do Tesouro.
Às 9h39, o dólar à vista caía 0,46%, a 5,7875 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,32%, a 5,791 reais na venda.
Nesta sessão, os mercados globais reagiam pela primeira vez à indicação de Bessent na noite de sexta-feira para liderar o Departamento do Tesouro dos EUA. O veterano de Wall Street é considerado um conservador fiscal, o que reduzia temores dos investidores com o aumento do déficit da maior economia do mundo.
O dólar vinha acumulando ganhos desde a vitória de Trump na eleição, uma vez que suas medidas prometidas durante a campanha, como tarifas e cortes de impostos, levaram operadores a projetar uma inflação mais alta nos EUA, além de aumento da dívida pública, elevando os rendimentos dos Treasuries.
Os rendimentos dos títulos dos EUA cediam nesta manhã. O rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 5 pontos-base, a 4,355%.
Com isso, o dólar recuava ante moedas de países emergentes, perdendo frente ao peso mexicano, ao rand sul-africano e ao peso chileno.
"O dólar está sofrendo com a notícia da escolha ortodoxa de Trump para o cargo-chave de secretário do Tesouro. A nomeação de Scott Bessent, um conhecido 'fiscal hawk' que não gosta de déficits e que critica a política do Fed como sendo muito branda, coloca em questão o grau exato de inflação no segundo mandato de Trump", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,06%, a 106,990.
Investidores aguardam os primeiros comentários de Bessent pós nomeação, uma vez que, apesar de ser um conservador fiscal, ele tem defendido ao longo do último ano as medidas mais expansionistas de Trump.
As atenções se voltarão nesta semana para a leitura do índice PCE para outubro -- o indicador de inflação preferida do Federal Reserve -- e para a divulgação da ata da mais recente reunião de política monetária do banco central dos EUA.
No cenário doméstico, o mercado continua à espera do anúncio de medidas de contenção de gastos pelo governo, com a expectativa de que elas possam ser divulgadas nesta semana.
A demora pelo anúncio do pacote, que havia sido prometido para depois do segundo turno das eleições municipais, tem gerado pressão sobre os ativos brasileiros.
"Não descartamos a possibilidade de um cenário mais benigno, com desaceleração da inflação e valorização do real, caso o ajuste fiscal seja mais forte do que aquele por nós esperado e se a política econômica dos EUA se mostrar menos inflacionária", disseram analistas do BTG Pactual em relatório.
Na noite de sexta-feira, o governo anunciou um bloqueio adicional de 6,04 bilhões de reais em despesas orçamentárias do ano para assegurar o cumprimento do limite de crescimento das despesas previsto no arcabouço fiscal.
Analistas consultados pelo Banco Central em sua pesquisa Focus subiram novamente a projeção para a cotação do dólar em 2024, agora em 5,70 reais, de 5,60 reais na semana anterior. No próximo ano, a moeda norte-americana deve atingir 5,55 reais, segundo os analistas, ante 5,50 reais há uma semana.
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