Piora recente de cenário para atividade econômica deve se consolidar no Brasil no início de 2025 e pesar sobre confiança
Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O impacto da piora do cenário econômico nacional vista nas últimas semanas sobre a atividade deve começar a aparecer nos resultados do quarto trimestre e ficar mais evidente no início de 2025, com potencial de atrapalhar a demanda por crédito e a confiança de consumidor e empresários, disse nesta terça-feira o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani.
A disparada recente do dólar, que vem batendo recordes históricos sucessivos acima de 6 reais, e a piora das condições financeiras ajudam a ampliar a pressão que já se via na inflação, e com isso o custo do crédito tende a subir, em um ambiente de famílias já endividadas.
"Os mercados financeiros, o noticiário, tudo isso acaba entrando nessa conta de condições financeiras e confiança, com impacto negativo. Os efeitos vão se juntando e são cumulativos, até chegar efetivamente na ponta, no comércio e na produção", disse Padovani.
"Começaremos a perceber no quarto trimestre, mas essa confusão que a gente tem vivido ficaria mais clara nos indicadores econômicos do começo do ano", completou ele, calculando expansão de 0,3% no quarto trimestre e de 2% em 2025.
O mercado já vinha estressado com a demora do governo em apresentar medidas de cortes de gastos, uma vez que elas tinham sido prometidas para depois do segundo turno das eleições municipais, que aconteceu em 27 de outubro.
Finalmente apresentado na semana passada, o corte de 71,9 bilhões de reais em despesas em dois anos foi, em geral, bem recebido, mas o anúncio inesperado da isenção do Imposto de Renda para quem ganha acima de 5 mil reais por mês foi criticado. Isso acabou azedando os mercados de forma generalizada e desvalorizando ainda mais os ativos brasileiros, em meio a dúvidas persistentes sobre a sustentabilidade fiscal.
Especialistas já tinham a expectativa de desaceleração do Produto Interno Bruto no quarto trimestre e também em 2025, principalmente como efeito de um menor impulso fiscal, fator importante de estímulo ao consumo no ano.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil desacelerou no terceiro trimestre a 0,9% em relação aos três meses anteriores, mas ainda mostrou uma economia aquecida mesmo diante da política monetária contracionista, com destaque para os investimentos e o consumo das famílias.
"O impulso fiscal muito provavelmente tende a ser negativo no ano que vem, a despeito da discussão do pacote. Vemos uma barra muito alta para o governo adicionar mais estímulo", avaliou Gabriel Couto, economista do Santander.
Para ele, a atividade econômica à frente ficará presa em uma conjunção de impulsos baixistas -- fiscal e monetário negativos ao mesmo tempo -- levando a expansão econômica a desacelerar a 1,8% em 2025.
Soma-se a isso a pressão cambial que, segundo Padovani, conecta-se com o PIB porque uma alta do dólar com economia aquecida significa que as empresas terão pressão de custos, mas principalmente terão espaço para repassar esse custo sem perder mercado.
"O Banco Central já estava pressionado pelo mercado de trabalho aquecido, e agora o dólar é a grande novidade", disse ele.
O BC realiza sua última reunião de política monetária do ano na próxima semana, com a Selic atualmente em 11,25%. Cresceram recentemente as apostas de que o Comitê de Política Monetária pode voltar a apertar o passo e decidir por um aumento de 0,75 ponto percentual.
"O câmbio desvalorizado pode contar um pouco o vazamento externo da demanda, mas tem a questão de inflação, que pode corroer a renda das famílias e tem impacto direto sobre o consumo, forças meio conflitantes que deixam incerto o impacto para ano que vem", disse Couto.
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