Ibovespa recua mais de 1% por preocupações com cenário fiscal e EUA
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira, interrompendo a sequência de dois dias de alta, com analistas reforçando preocupações com o cenário fiscal brasileiro e em meio a novo noticiário envolvendo os planos tarifários do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa perdeu 1,27%, a 119.624,51 pontos, tendo marcado 121.160,25 na máxima e 119.351,34 na mínima da sessão.
O volume financeiro somou 19,44 bilhões de reais, ainda reduzido em comparação com a média diária do ano passado, de 24 bilhões de reais.
Pesou sobre os ativos a mudança na perspectiva quanto à agressividade econômica de Trump, após reportagem da CNN indicar que ele estaria considerando declarar emergência econômica nacional nos EUA como uma forma de fornecer justificativa legal para a imposição de grandes tarifas de importação.
A notícia reverte o alívio observado nos mercados no início desta semana, quando reportagem do Washington Post sugeriu que as tarifas de Trump seriam mais moderadas que o esperado.
Para Diogo da Silva, trader na Daycoval Corretora, o novo noticiário retoma uma "retórica protecionista" nociva principalmente para ativos de economias emergentes, como o Brasil, trazendo insegurança e elevando apostas de maior inflação e juros em patamar restritivo nos EUA.
Autoridades do Federal Reserve destacaram em ata da reunião mais recente do Fed, apresentada nesta tarde, novos riscos de inflação relacionados às políticas de Trump.
Investidores também monitoraram a publicação de novos dados sobre o mercado de trabalho norte-americano, no aquecimento para o "payroll" de sexta-feira, que deve fornecer mais pistas sobre os próximos passos do banco central norte-americano.
Na cena doméstica, o Brasil fechou 2024 com uma saída líquida total de 18,014 bilhões de dólares do país, no pior resultado para o fluxo cambial desde 2020, conforme dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central.
"Tem ainda bastante incerteza com o lado fiscal no Brasil, com o lado da dívida, como que o governo vai tocar essa pauta nesses dois anos", disse Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos. "Esse início de ano está um pouco nisso. O mercado ainda não está tão confiante na bolsa."
DESTAQUES
- ITAÚ UNIBANCO PN recuou 1,62%, fornecendo peso relevante sobre a queda do índice, assim como BRADESCO PN, que perdeu 1,55%, enquanto BANCO DO BRASIL ON caiu 0,37% e SANTANDER BRASIL ON declinou 1,31%.
- VALE ON perdeu 0,96%, sétimo pregão consecutivo de declínio, em meio a nova sessão de queda dos contratos futuros do minério de ferro na China. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com queda de 0,73%, a 747,5 iuanes (101,96 dólares) a tonelada.
- PETROBRAS PN teve queda de 0,81%, em linha com o declínio nos preços do petróleo no exterior, que reverteram curso ao longo do dia. O barril de Brent encerrou com queda de 1,16%, a 76,16 dólares. No setor, PRIO perdeu 0,55%, mesmo após reportar alta mensal na produção em dezembro, e BRAVA ENERGIA ON teve acréscimo de 0,17%.
- LOCALIZA ON caiu 3,94%, após desvalorização de mais de 40% no ano passado. Analistas do BTG Pactual alertaram esta semana que o recente aumento nos juros representa um grande obstáculo para a empresa este ano. "Também há um sentimento de dúvida sobre a dinâmica do mercado automotivo no exercício de 2025, já que os volumes devem recuar em um cenário de taxas de juros mais altas, afetando a dinâmica de preços de carros novos", afirmaram, acrescentando que a depreciação permanece como uma preocupação.
- GRUPO CARREFOUR BRASIL ON afundou 12,2%, liderando as quedas percentuais no Ibovespa, depois de subir nos últimos dois pregões. Ainda no varejo de alimentos, ASSAÍ ON caiu 2,76%, enquanto GPA ON avançou 1,06%.
- EMBRAER ON caiu 1,4%. A fabricante de aeronaves informou na noite da véspera que entregou 75 aviões no quarto trimestre, mesmo volume registrado nos últimos três meses de 2023 e acima das 59 aeronaves despachadas a clientes entre julho e setembro do ano passado. Analistas do Itaú BBA consideraram os números sólidos, afirmando que a leitura dá maior confiança sobre o atingimento das projeções de entregas deste ano.
- AZUL PN subiu 0,25%, após movimento de ajuste na terça-feira. Segundo reportagem do jornal Valor Econômico publicada nesta quarta-feira, pouco antes do fechamento do mercado, a Azul e a controladora da Gol, Abra, devem assinar um memorando de entendimento nas próximas semanas para discutir uma eventual fusão dos negócios.
- MARFRIG ON subiu 0,89%, destoando das rivais JBS ON, que registrou queda de 0,59%, e MINERVA ON, que teve decréscimo de 2,02%.
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