Dólar tem leve alta com temores de guerra comercial em foco
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista tinha leve alta ante o real nesta quarta-feira, devolvendo alguns ganhos de mais cedo, com os investidores demonstrando temores de uma guerra comercial global, o que se sobrepunha a dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos que foram, em tese, positivos para moeda brasileira.
Às 11h10, o dólar à vista subia 0,14%, a R$5,8192 na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,01%, a R$5,832 na venda.
Nesta sessão, as atenções dos mercados globais estão voltadas para as crescentes tensões comerciais ao redor do globo, depois que as tarifas de 25% prometidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre importações de aço e alumínio entraram em vigor durante a madrugada.
As taxas implementadas por Trump, universais e anunciadas no mês passado, atingem uma série de países que não haviam sido alvos das medidas comerciais do novo governo, como a União Europeia e o Brasil, além de outros parceiros que já vêm sofrendo ameaças tarifárias dos EUA, como México e Canadá.
Sem a possibilidade de acordos no horizonte, os países atingidos pelas tarifas já começavam a anunciar medidas de retaliação.
A Comissão Europeia disse que imporá tarifas retaliatórias sobre 26 bilhões de euros em produtos norte-americanos a partir do próximo mês, enquanto o Canadá indicou que implementará 29,8 bilhões de dólares canadenses em taxas retaliatórias contra o vizinho.
As notícias aumentavam as preocupações pelo início de uma guerra comercial ampla, o que, segundo analistas, pode distorcer cadeias de suprimentos no mundo todo, aumentando os preços de mercadorias e provocando uma recessão econômica.
"A questão global sobre os desdobramentos das políticas tarifárias de Trump, o receio de guerra comercial e impacto em uma recessão global, seguem mesmo ditando o mercado", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
"Todo mundo perde com a deflagração de uma guerra comercial."
Com esse cenário pessimista em vista, investidores optavam por ativos mais seguros neste pregão, o que nas primeiras negociações no Brasil significava apostas no dólar, com perdas para o real.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,21%, a 103,670.
Na máxima da sessão no Brasil, o dólar atingiu R$5,8467 (+0,61%), às 10h03.
Mas a divisa dos EUA devolveu quase todos os ganhos após falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as tarifas implementadas por Trump.
Haddad afirmou que o governo brasileiro não deve promover uma retaliação imediata às tarifas dos EUA, ressaltando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu calma na análise do tema. Ele acrescentou que a Fazenda vai estudar propostas apresentadas pelo setor de aço e uma nota técnica sobre o tema.
As declarações deixaram o mercado nacional menos avesso ao risco diante da abertura do país em negociar com o governo dos EUA e não entrar na onda de retaliações tarifárias.
O foco em torno das questões comerciais ainda fazia os investidores ignorarem a agenda de dados desta quarta, que incluiu dados de inflação no Brasil e nos EUA.
O IBGE informou que inflação no Brasil acelerou com força em fevereiro e atingiu o maior nível em quase três anos diante do aumento dos preços da energia elétrica, levando a taxa em 12 meses acima de 5%.
Já nos EUA, os preços ao consumidor subiram menos do que o esperado por economistas em fevereiro, aproximando o nível dos preços ainda mais da meta de 2% perseguida pelo Federal Reserve.
Ambos os resultados, por implicarem a possibilidade de maior diferencial de juros entre os dois países, com maior aperto monetário no Brasil e espaço para afrouxamento nos EUA, seriam positivos para a moeda brasileira, mas não tinham muito impacto nas negociações desta quarta.
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