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Deflação dos mais pobres é passageira, diz FGV

06/03/2018 13h51

Fatores sazonais envolvendo o setor de alimentação levaram ao recuo de 0,01% no Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) de fevereiro, ante alta de 0,50% em janeiro. Nesta terça-feira (6), a Fundação Getulio Vargas (FGV) anunciou o desempenho do índice, que apura evolução de preços em famílias com ganhos até 2,5 salários mínimos mensais, e foi influenciada por fim do auge de elevação de preços nos alimentos in natura, que sempre mostram inflação mais pressionada no começo do ano devido a problemas de oferta, causados por clima mais errático.


Na prática, como o clima deve mostrar maior regularidade, a deflação do indicador não deve durar, e o índice deve caminhar para taxas positivas, próximas de zero, em torno de 0,15% a 0,20%, projetou André Braz, economista da FGV. "Devemos ter, nos próximos resultados, um cenário de maior rigidez nos preços, sem grandes 'saltos' no setor de alimentação", disse.


De janeiro para fevereiro, a variação de preços no grupo Alimentação, que representa sozinho 31,5% do IPC-C1, saiu de alta de 1,19% para recuo de 0,31%. Pelo grande peso na formação do indicador, qualquer evolução na trajetória do índice acaba por influenciar de forma expressiva o resultado do IPC-C1. No mesmo período, houve mudança na trajetória de variação de preços de hortaliças e legumes (de 16,03% para -0,39%) e em frutas (de 5,05% para 0,05%). "Foi uma alta muito concentrada em alimentos in natura, a do mês passado", afirmou.


O especialista considerou que, nos próximos resultados do indicador, este movimento de deflação no grupo dos alimentos como um todo não deve continuar. Além de já ter sido captado pelo indicador o ajuste na oferta de itens in natura, o técnico lembrou de notícias sobre quebra de safra de soja na Argentina. Isto, na prática, deve conduzir a aumentos de preço na soja no mercado internacional, com impacto em seus derivados no mercado brasileiro, informou ele. O farelo de soja é muito usado na confecção de ração. Ou seja: o custo do produtor se eleva, e ocorre repasse da alta para produtos como carnes, por exemplo, devido à ração mais cara.


Mas ele não acredita que o cenário, nos próximos meses, conte com algum choque agrícola expressivo, que possa conduzir a aumentos mais expressivos nas taxas inflacionárias do varejo. "Não existe choque agrícola no horizonte. O que existe é uma oferta mais equilibrada de alimentos. Estamos saindo do verão, e quando saímos do verão nos deslocamos dos choques [agrícolas, devido a clima]", disse, explicando esperar taxas positivas para a classe de despesa.


"Além disso, não temos surpresa para habitação; a tarifa de energia está com bandeira verde para março. A parte de [reajuste de] seguro saúde, deve sair no fim de março, e [reajuste de] medicamentos, somente em 31 de março, então, só teremos impacto na inflação de abril", disse. "Transportes públicos, não temos expectativa de reajuste para março. Acho que a taxa [do IPC-C1] para março não deve ser negativa como a de fevereiro. Mas, mesmo positiva, deve ser uma taxa baixa, que ainda mantém o cenário da inflação do varejo para os mais pobres em patamar confortável", afirmou.