Dólar tem mínima em uma semana com atuação do BC e exterior
O dólar fechou em queda de mais de 1% pelo segundo dia consecutivo, o que levou a moeda a registrar a maior desvalorização de dois pregões em quatro meses.
No término dos negócios no mercado interbancário, a cotação cedeu 1,18%, a R$ 3,6451. É o menor patamar de encerramento desde o último dia 14 (R$ 3,6275).
Em duas sessões, a queda é de 2,56%, a mais intensa desde a baixa acumulada entre os dias 24 e 25 de janeiro deste ano (-3,26%).
Na mínima da sessão, a divisa foi a R$ 3,6296, diferença de quase 15 centavos em relação ao pico de R$ 3,7760 alcançado há apenas dois pregões.
Moedas emergentes se recuperam
Assim como ontem, a combinação entre ambiente externo favorável a moedas emergentes e o reforço das atuações do Banco Central no mercado local ajudou a "queimar" parte da "gordura" conquistada pelo dólar nas últimas sessões.
O BC voltou hoje a despejar US$ 750 milhões no mercado via contratos de swap cambial tradicional. Com isso, as vendas líquidas de swap - ou seja, o dinheiro "novo" colocado no mercado - ao longo deste mês já soma US$ 2,75 bilhões. A expectativa é que, até o fim de maio, mais US$ 3,75 bilhões entrem no mercado, totalizando ao fim do mês venda líquida de moeda no montante de US$ 6,5 bilhões.
Se confirmado, será a maior colocação de dólares para um mês desde maio do ano passado, quando, na esteira das delações da JBS, o BC injetou US$ 10 bilhões no mercado futuro via swaps.
Hoje, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reiterou a disposição do BC em vender swaps em caso de necessidade. Em entrevista ao Valor, Ilan disse que "não tem preconceito" contra a venda desses contratos - cuja colocação equivale a uma injeção de dólares no mercado futuro. O presidente do BC acrescentou que a redução do estoque de swaps - da casa de US$ 100 bilhões para cerca de US$ 23 bilhões - foi para ter um "amortecedor" para os momentos em que isso fosse necessário. Ilan também não estipulou limite para a venda dos swaps.
"A impressão que dava até semana passada era que, sim, o BC parecia ter algum preconceito contra os swaps", diz Roberto Campos, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos. "Mas com o reforço das atuações, acho que ele conseguiu tirar volatilidade, e o real pode ter um desempenho melhor daqui para a frente, ainda que se deprecie", acrescenta, lembrando que a alta recente do dólar é um fenômeno global.
Para Jaime Ferreira, diretor de câmbio da Intercam, o mercado "antecipou" a alta do dólar prevista para pouco antes das eleições, o que justifica a correção de baixa na moeda vista desde ontem. Porém, "dificilmente" a cotação descerá abaixo de R$ 3,55, considerando todos os riscos ainda presentes.
A região de R$ 3,55 funciona como um forte ponto de suporte, já que uma queda até lá representaria cerca de 38% do caminho a máxima perto de R$ 3,80 alcançada na semana passada e a mínima em torno de R$ 3,12 atingida no último mês de janeiro.
A marca de 38% é uma das linhas de uma ferramenta de análise técnica chamada Retração de Fibonacci.
O profissional ainda espera alta do dólar, uma vez que os fatores de incerteza - seja no exterior, com alta de juros nos EUA, seja aqui, do lado eleitoral - persistem. "Espaço para subir o dólar ainda tem. É uma questão de ajustar agora para um nível razoável. Mas espaço para subir ainda existe."
O real ainda cai 9,1% no acumulado de 2018, terceiro pior desempenho global - peso argentino (-23,3%) e lira turca (-18,8%) perdem ainda mais. E, para, o Morgan Stanley, os fatores que têm contribuído para o fraco desempenho do câmbio brasileiro vieram para ficar.
"Achamos que o baixo 'carry' e a maior sensibilidade ao risco, com um pano de fundo de turbulência nos mercados nos últimos meses, levaram investidores a buscar proteção na venda de reais", dizem estrategistas do banco.
Eles esperam que os prêmios de risco dos ativos brasileiros continuem "elevados" nos próximos meses. E, com isso, a "underperformance" do real pode se intensificar nos próximos trimestres.
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