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A sabedoria para guiar negócio em tempos de crises e euforias transitórias

Marco Roza

Colunista do UOL

15/07/2015 06h00

Basta uma neblina mais ou menos persistente para termos a certeza absoluta que a viagem está perdida e que nunca chegaremos ao nosso destino. Ou um sol escaldante para acreditarmos que nenhuma gota de chuva, ou mesmo uma neblina importuna, atrapalhará nossas viagens de férias.

Parece que temos um mecanismo que transforma vivências transitórias (especialmente as que consideramos alheias ao nosso controle) em fenômenos permanentes ou eternos.

Quando estamos no comando de uma empresa essa sensação pode comprometer nosso desempenho gerencial. As fases boas, com sequência de clientes novos e bons contratos, criam um clima de euforia, transformada em relaxamento, que estimula o empreendedor a ter certezas absolutas. Certeza de que é realmente um bom administrador. Que é competente. Um iluminado.

Até que a neblina das fases ruins (que com certeza surgirão) o transformem no pior dos gerentes, no mais estúpido e no mais endividado. Cheio de dúvidas. Duvida de si mesmo. De suas decisões. Dos gastos que fez em vez de economizar para estes tempos nebulosos.

Claro que nem a fase boa dura para sempre. Nem os tempos nebulosos permanecem.

Mas, como acreditar e se ajustar a esta mutação permanente?

Talvez o ideal é criarmos vários indicadores de desempenho da organização que dirigimos. Assim, o faturamento será apenas um dos itens. E prestaremos a mesma atenção à motivação de nossos colaboradores; ao interesse renovado ou não de nossos clientes; à chegada de um concorrente; às mudanças de humor do gerente do banco; à nossa energia alocada ao próprio negócio. Etc.

Aprenderemos que as mudanças de humor dos negócios, como a ocorrência das neblinas ou do tempo firme, não são fenômenos isolados. Mas resultam de combinações de vários outros humores da natureza, como direção dos ventos, umidade, El Niño, etc.

Quem sabe, assim, aprenderemos que uma crise, que aparentemente escapa ao nosso controle, pode ser navegada com a serenidade de quem não se prende ao seu valor de face e às manipulações de concorrentes mais sábios que a gente.

Exercitaremos para espanto de nossos parentes mais chegados, nossa família e principalmente nossos concorrentes, a serenidade e a sabedoria atenta que nos ajudará a aproveitar nuances a nosso favor.

Assim, o faturamento, as dívidas, os sinais de sucesso ou de fracasso, se tornam relativos porque transitórios e absolutamente superáveis.
Na neblina, na tempestade ou na bonança de nossos empreendimentos.