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Davi X Golias: internacionalização de micro e pequenos empreendedores

Rose Mary Almeida Lopes

Colunista do UOL, em São Paulo

28/06/2013 06h00

O Brasil parece ter despertado, mais ainda é um time de várzea no comércio internacional. Em 2012 não passou de 1,3% das trocas comerciais internacionais.

Com o esforço hercúleo dos nossos craques – grandes, médios, pequenos e micros empreendedores (e suas empresas) toda a nossa exportação totalizou 11% do nosso PIB. O saldo de 2012 – exportações menos as importações – não ultrapassou a barreira dos 20 bilhões de dólares (precisamente 19.431 bilhões).

Grande parte de nossas exportações passam pelos nossos portos – cerca de 90%. Entretanto, a eficiência deles não nos daria sequer o direito de jogar com o time do Tahiti, fazendo uma analogia futebolística (estamos em época de Copa!).

Ficamos na 135.ª posição em qualidade da infraestrutura portuária no Relatório Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial. Acresçam-se a má qualidade das estradas, a maior distância percorrida, e temos o custo de US$ 85 por tonelada transportada, comparados a US$ 23 pagos pelos exportadores americanos.

E aí nesse cenário, qual é o placar de nossos micro e pequenos empreendedores? Lembrando que eles encabeçam praticamente 99% do número total de empresas no Brasil. Um dos dados (2010) aponta que 46% do volume exportado deveu-se ao esforço dos micro e pequenos exportadores.

Entretanto, o valor não passou de US$ 2 bilhões, o que representa só 1% das exportações brasileiras.

Bom, esse quadro parece o da luta de Davi jovem, inexperiente, com armas rudimentares ante um gigante – Golias – campeão dos filisteus, treinado e bem armado. Davi aceita o desafio, com coragem e confiança na sua missão.

Assim, parecem estar agindo nossos micro e pequenos empreendedores. Contudo, podem se preparar melhor para alcançar resultados mais promissores antes os obstáculos.

Se é que se pode dar uma dica: considere muito a sua localização e distância dos portos. Isso pode ser um fator decisivo. E, além disso, alguns outros fatores são críticos.

A atitude do empreendedor frente ao risco pesa na balança, visto que a exploração de oportunidades de internacionalização é bem arriscada. A distância cultural e do sistema legal são obstáculos. Para minimizá-lo há de pesquisar muito, esforçar-se ao máximo para conhecer o país para o qual pretende exportar.

Pode ser por isso que 25% dos micros e 22% dos pequenos exportam para a América Latina.

A busca e avaliação de oportunidades certamente dependem do contexto e do perfil do indivíduo empreendedor. A cultura do país – mais ou menos criativa e tolerante à incerteza – associada aos objetivos e expectativas de retorno do empreendedor pode direcionar ou não os seus esforços para a internacionalização.

A capacidade de inovar é um diferencial importante. Os produtos ou serviços precisam incorporar um diferencial. Se você vai exportar pedras preciosas, agregue valor com a qualidade da lapidação, com o design das peças.

Se for exportar vestuário, lembre-se da qualidade e da criatividade, desde os materiais ao estilo, além de acabamento.

Há de ter muita disposição para adaptação, o que significa modificar processos, estrutura, controles etc. O empreendedor tem de puxar a mudança e responder ao que é necessário ante a demanda internacional.

Pode ser que tenha de implantar um rigoroso sistema de rastreamento de origem das matérias primas (exemplo: se estiver lidando com móveis de madeira). Há que alinhar a estratégia à estrutura e aos processos.

Os empreendedores precisam desenvolver seus recursos competitivos. Isso abrange desde recursos financeiros, pessoal, estrutura física, até a possibilidade de conseguir algum incentivo do país para o qual pretende exportar.

E sem se expor, sem buscar conhecer e ser conhecido, ampliando e se inserindo em redes de contato, não será possível ampliar informação, conhecimento, nível de confiança, identificar ou lhe serem oferecidas as oportunidades, além de abrir brechas para ter acesso à inovação e até aos recursos físicos.

Vale muito se aproximar de quem já tem experiência, fazer viagens técnicas, frequentar feiras e fazer outras explorações.

Mesmo com o contexto desfavorável, estamos fazendo progressos. Os empreendedores certamente estão fazendo a sua parte. Torço para que se acelerem as mudanças que favoreceriam a todos.