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Microcrédito como impulsionador de microempreendedores

Rose Mary Lopes

Colunista do UOL

20/03/2015 06h00

No mundo, muitos milhões de pessoas têm iniciativas minúsculas que dependem não somente de sua força de trabalho para prosseguir: dependem de equipamentos, ferramentas e adaptações para melhorar seu processo. E certamente necessitam de dinheiro.

Há sempre a possibilidade de se recorrer a pessoas a sua volta, na sua rede familiar, entre amigos e vizinhos. Mas, dependendo da realidade destes, muitas vezes eles também não têm como ajudar por não disporem dos recursos.

Na maioria dos casos, a quantidade de dinheiro para adquirir recursos é pequena, muito pequena. Foi o que descobriu há décadas atrás Muhammad Yunus, de Bangladesh, ao trabalhar em bancos e se dar conta de que o sistema bancário fazia exigências impossíveis para quem necessitava de pequenas (micro) quantias.

Teve ciência que mulheres que precisavam adquirir materiais para fabricar pequenos produtos para sua sobrevivência levantavam quantias insignificantes com agiotas que cobravam juros exorbitantes diários pelos centavos emprestados.

Em 1976, fez a experiência de emprestar de seu bolso a um grupo de mulheres e constatou que elas conseguiram melhorar suas vidas e devolver o dinheiro com pontualidade. Daí resolveu ampliar este processo por meio do banco – Grameen - que deu aos pobres o acesso ao crédito para que pudesse capitalizar suas habilidades gerando renda para si próprios.

Cunhou o termo microcrédito, que não era utilizado até a década de 1970. Não porque não existisse a prática de pequenos empréstimos entre familiares, amigos ou vizinhos para viabilizar pequenos negócios. O que não existia eram instituições bancárias ou agências – privadas ou públicas - que fizessem do microcrédito o seu negócio.

Se pensarmos na multidão de microempreendedores – formalizados ou não - a nossa volta e que, muitas vezes, com poucas centenas ou milhares de reais poderiam tornar a sua forma de sobreviver mais efetiva, vamos nos dar conta do quanto o microcrédito pode impulsionar suas vidas.

Pense no pintor autônomo que trabalha juntamente com outra pessoa. Mas que não tem como bancar a aquisição de um novo equipamento que lhe permitiria, por exemplo, pulverizar a tinta nas paredes e tetos de forma mais homogênea. Ou no jardineiro que sonha com poder comprar um aparador de cerca-viva e um soprador.

Ou na boleira que gostaria de adquirir batedeira e forno mais adequados para poder ampliar a fabricação de seus bolos. Ou no mototaxista que precisa trocar sua moto para prosseguir prestando transporte de qualidade e seguro para seus clientes.

Só no universo de microempreendedores individuais (MEI – formalizados), segundo o portal Empresômetro, já atingimos a marca de mais de 4,6 milhões de pessoas. Entretanto, se pensarmos na parcela de micronegócios não formalizados, este número se amplia absurdamente. Todos eles podem se beneficiar com o microcrédito.

No Brasil, desde 1998 o governo paulista instituiu o Banco do Povo Paulista, cuja experiência precursora foi seguida por outros governos e instituições financeiras públicas e privadas. De lá para cá tivemos mudanças políticas que fizeram com que 2% dos depósitos à vista sejam destinados ao microcrédito produtivo orientado.

Em 2013 atingimos crescimento expressivo - quase R$ 5 bilhões emprestados a microempreendedores. Estes podem pleitear empréstimos para capital de giro e investimentos fixos. Os limites de empréstimo variam em função da finalidade, da apresentação de avalista ou não, se já teve e quitou microcrédito anteriormente ou não.

Como pessoa física ou produtor rural, os limites de empréstimo são menores. Exemplo: entre R$ 300 a 6.000 com prazo de 24 meses. Como pessoa jurídica, cooperativa ou associação produtivas podem variar, por exemplo, de R$ 200 a R$ 15 mil com prazo de 36 meses. Os juros são bem baixos: em torno de 0,35% mensais, pré-fixados.

Mesmo com o avanço, o presidente da Caixa Crescer – João Carlos Garcia - afirmava, no início deste ano, que se tem uma possibilidade de atingir 17 milhões novos clientes para o microcrédito. Para chegar a eles as instituições estão selecionando pessoas dos próprios locais onde estes empreendedores vivem.

Não só pela proximidade. Sobretudo por conhecerem melhor estes clientes e suas realidades. Estes são treinados para ir até eles e ajudá-los em suas necessidades e oferecer orientação e acompanhamento de seus negócios. Com o microcrédito e este apoio, poderão impulsionar seus negócios contribuindo significativamente para o país.