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Drones são usados no Brasil para buscar falhas nas plantações

André Cabette Fábio

Do UOL, Em São Paulo (SP)

28/08/2013 06h00

Desenvolvidas para uso militar, as aeronaves não tripuladas ou "drones" (palavra em inglês que significa "zangões") mudaram a forma de se fazer guerra no mundo, servindo para vigiar inimigos ou até mesmo bombardeá-los. Mas esses equipamentos têm se mostrado cada vez mais úteis também em missões pacíficas.

No Brasil, os drones ou vants (sigla de veículos aéreos não tripulados) começam a ser utilizados na agricultura. O país é um dos pioneiros na área, mas a falta de regras específicas para esses aparelhos tem dificultado o avanço da tecnologia.

Falhas nas plantações, áreas com excesso ou falta d'água e parcelas onde é preciso utilizar agrotóxicos são alguns dos problemas que os drones ajudam a localizar, ao tirar fotos dando rasantes sobre os plantios.

As imagens são utilizadas para formar um mapa das áreas. Os dados são então analisados com ajuda do computador e, assim, é possível agir exatamente onde há problemas.

A estratégia pode aumentar de 15% a 20% a produtividade da lavoura, afirma Adriano Kancelkis, diretor-presidente da AGX, empresa de São Carlos (SP) que vende drones para mapeamento agrícola.

"A agricultura é uma área prioritária para desenvolver os vants. Primeiro porque tem muito dinheiro, segundo porque acontece em áreas com pouca gente. Uma coisa é um vant de quatro quilos cair na cidade; outra coisa é ele cair no campo", diz o professor Onofre Trindade Júnior, do ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação) da USP (Universidade de São Paulo), em São Carlos, no interior paulista.

Além da agricultura, os drones são usados no Brasil também em ações policiais, como ocorre na cidade de Macaé, no Rio de Janeiro, assim como em operações de fiscalização de fronteiras da Polícia Federal e pelo DNPN (Departamento Nacional de Produção Mineral) em áreas de mineração.

Com drones, empresa encontra falhas na plantação em metade do tempo

Com faturamento de R$ 300 milhões anuais, a usina São Fernando Açúcar e Álcool usa seis drones importados nos 60 mil hectares em que cultiva cana em Dourados, em Mato Grosso do Sul. Segundo Gustavo Nogueira, gerente de TI (tecnologia da informação) da empresa, os pequenos aparelhos cortam pela metade o tempo gasto em visitas para procurar falhas na plantação.

"Antes, era preciso rodar de carro pelos pontos mais altos e tentar ver em que parte da plantação havia falhas", afirma. Agora, um agrônomo controla os drones com um tablet, que transmite informações para o computador, onde podem ser imediatamente analisadas por outro profissional.

Cresce indústria dos drones

Dos seis drones que utiliza, apenas dois são da usina. Um deles, um quadricóptero (modelo com quatro hélices), foi comprado juntamente com o sistema de operação por R$ 50 mil; o outro, um octocóptero (com oito hélices), custou R$ 28 mil e é operado com o mesmo sistema.

Os demais aparelhos utilizados pertencem à Bio TI, empresa de Araçatuba (SP) que tem uma parceria com a São Fernando para o desenvolvimento de um software que realize automaticamente a análise das imagens captadas por drones.

Marcelo Cambraia, diretor comercial da Bio TI, espera oferecer o serviço de mapeamento cobrando entre R$ 5 e R$ 10 por hectare. Em 2012, a empresa especializada em tecnologia para a área agrícola faturou R$ 2,7 milhões. Neste ano, espera crescer 30%.

O mapeamento da plantação também pode ser feito por satélite. No entanto, segundo Adriano Kancelkis, da AGX, o trabalho feito por um vant teria um quarto do custo do levantamento por satélite e teria uma precisão 30 vezes maior, podendo ser realizado mesmo em dias nublados.

A  AGX é uma das pioneiras no desenvolvimento desse tipo de equipamentos no país, fruto de parceria iniciada em 2005 com a USP-São Carlos e com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). As vendas começaram em 2007 e hoje a empresa oferece ao mercado modelos como o AGPlane e o Tiriba. As naves se parecem com aviões de aeromodelismo e custam de R$ 60 mil a R$ 300 mil e podem carregar de 1,2 kg a 4 kg.

Falta de regulamentação gera insegurança no uso de drones

Mesmo com o crescimento do uso e da fabricação de drones no Brasil nos últimos anos – já são mais de dez fabricantes, segundo Onofre Trindade, da USP – , ainda não há uma regulamentação própria sobre a tecnologia na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

A agência não possui dados sobre o número total de vants ou seus fabricantes no país, e afirma que apenas quatro aeronaves receberam autorização para voo, todos em caráter experimental. O resto opera com liminares na justiça, acordos com as agências reguladoras ou de forma irregular. Há quatro vants aguardando na fila para aprovação da Anac.

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"Queremos regulamentação para podermos prestar nossos serviços", afirma Adriano Kancelkis, da AGX . Segundo o executivo, sempre que é necessário testar o avião de um cliente, a empresa precisa obter uma permissão da Justiça.

Gustavo Nogueira, da São Fernando Açúcar e Álcool, diz que seus vants têm capacidade para alcançar até 50 metros de altura e voar numa rota programada. Mas, sem autorização da Anac, não sobem mais de 30 metros e só voam por controle remoto.

Segundo a Anac, até hoje apenas um dono de vant foi autuado no país por usar o equipamento sem autorização. Uma proposta de regulamentação deve ficar pronta até o final de 2013, com previsão para ser aprovada no final de 2014, informa a agência.