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Negociação com a Grécia fica tensa, e prossegue a busca por acordo

24/06/2015 18h28

Bruxelas, 24 Jun 2015 (AFP) - As negociações entre a Grécia e seus sócios ficaram tensas nesta quarta-feira, em Bruxelas, devido a uma contraproposta dos credores de Atenas, que foi rejeitada pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.

A Grécia e seus sócios da zona do euro tentam fechar um acordo de reformas e ajustes. O objetivo é desbloquear uma parcela de 7,2 bilhões de euros de que Atenas precisa para evitar a moratória no dia 30 de junho, quando deve pagar ao FMI cerca de 1,5 bilhão de euros.

Na segunda-feira, Atenas apresentou seu plano, pedido por seus sócios em troca dos recursos. Entretanto, a contraproposta das instituições - UE e FMI - foi rejeitada por Atenas nesta quarta-feira, tensionando a negociação.

Tsipras chegou a Bruxelas para se reunir com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, com o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, e da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, a fim de chegar a um acordo.

Após quase sete horas de reunião, a delegação dirigida por Tsipras e os responsáveis das instituições credoras de Atenas interromperam as discussões, segundo uma fonte europeia, para informar sobre o estado da negociação aos ministros da Economia do Eurogrupo.

O encontro dos ministros durou apenas uma hora e eles decidiram interrompê-lo até a quinta-feira às 8h (de Brasília), antes da cúpula de 28 chefes de Estado e de governo.

"Ainda não chegamos a um acordo. Mas estamos decididos a continuar trabalhando, para fazer o necessário. Agora deixamos a reunião mais para frente, e voltaremos a nos ver amanhã, às 13h (horário local)", disse à imprensa o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.

"Queremos que a Grécia fique na zona do euro (...) com reformas sólidas", disse o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici.

Várias fontes com acesso às negociações disseram nesta quarta-feira que as conversas têm sido "difíceis" e "duras".

Uma fonte informou que Tsipras voltará a reunir-se nesta noite com Juncker, depois do encontro do Eurogrupo.

Proposta e contraproposta

A contraproposta das instituições não foi bem aceita por Atenas.

Da capital grega, uma fonte do governo disse que a sua delegação "não pode concordar" com as últimas propostas e afirmou que "as negociações continuam em todos os níveis".

"A delegação grega discutiu sobre a base das propostas de segunda-feira. As instituições apresentaram uma nova proposta com consequências injustas sobre os empregados e aposentados (...) propondo medidas que não afetam aos mais ricos", acrescentou a fonte.

Entre os pontos que bloqueia o acordo é a insistência da Grécia em obter a reestruturação da dívida em mãos do Banco Central Europeu, pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate da zona do euro. Isso permitiria obter juros e condições mais interessantes, segundo o ministro austríaco Hans-Jörg Schelling.

"Para muitos países, é um terceiro programa (de assistência) disfarçado", ressaltou.

"O tema da dívida, considerada insustentável, deve ser tratado nas discussões em curso, estimou o ministro francês das Finanças, Michel Sapin.

Entretanto, a grande maioria de países da zona do euro se opõe a uma reestruturação.

As negociações também são difíceis pela posição do FMI, segundo Atenas que lhe atribui uma "responsabilidade criminosa" pela situação na Grécia.

Antes de viajar a Bruxelas, Tsipras disparou contra o Fundo, sem citá-lo, por rejeitar algumas "medidas compensatórias" que Atenas propõe a seus credores.

"A repetida rejeição às medidas compensatórias por algumas instituições nunca aconteceu antes, nem com a Irlanda nem com Portugal", dois países que receberam um programa de assistência financeira, escreveu Tsipras em sua conta oficial do Twitter.

"Esta postura pouco comum parece indicar que ou não há interesse em um acordo ou que são respaldados interesses especiais", acrescentou em outra mensagem.

As propostas gregas apontam um esforço fiscal de 8 bilhões de euros em 2015 e 2016. Cerca de 93% deste valor viria de um aumento de impostos e corte de gastos.

Alcançado o acordo, Tsipras terá que levá-lo a seu Parlamento, o que pode ser uma etapa delicada. Isso também abrirá caminho para que o Bundestag alemão e outros parlamentos do bloco se pronunciem nos próximos dias, o que tampouco será fácil.