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Com falta de encomendas, gigante Airbus A380 completa uma década no céu

Andrea Rothman

28/04/2015 09h07Atualizada em 28/04/2015 12h05

(Bloomberg) -- Na tenra idade de 10 anos, o Airbus A380 já está entrando em uma crise de meia-idade.

O avião de dois andares (double-decker) não conseguiu uma encomenda sequer de nenhuma nova empresa aérea cliente nos últimos dois anos. Altos executivos se viram forçados a sair em defesa da aeronave em dezembro depois que a empresa-mãe da fabricante apresentou a possibilidade de eliminar definitivamente o A380.

A metade do ano está se aproximando, e o avião novamente não registrou nenhum pedido até aqui.

Trata-se de uma grande diferença em relação ao júbilo de 2005, quando a aeronave gigante decolou pela primeira vez, saudada como a estrela da aviação do século 21.

A Airbus disse que o A380, certificado para transportar até 853 passageiros, tiraria da arquirrival Boeing o monopólio entre os jatos jumbo mantido há décadas e anunciaria uma nova era das viagens, combinando o ultraluxo com o transporte massivo e, ao mesmo tempo, aliviando a pressão sobre aeroportos congestionados.

"A verdade é que o mercado não se desenvolveu tanto quanto gostaríamos", disse o diretor-executivo da Airbus, Fabrice Brégier, neste mês. "Este avião provavelmente foi lançado com um adiantamento de 10 anos".

Brégier agora está tentando dar nova vida à campanha do A380. A Airbus montou uma equipe de funcionários para os setores de vendas, marketing, engenharia e design para fazer lobby pelo avião entre clientes atuais e futuros -- incluindo aqueles que poderiam comprar o avião de segunda mão.

Adicionando assentos

Em resposta perguntas, a Airbus disse que a "nova organização melhorará nossa capacidade de responder às tendências de mercado e às necessidades do cliente mais rapidamente, desenvolvendo e empregando soluções completas de uma maneira mais ágil -- de forma a explorar e abrir novos segmentos de mercado".

A falta de sucesso comercial reside em parte em um desvio da finalidade básica do A380. Quando a Airbus lançou o avião, ele foi apresentado como a resposta ideal para o congestionamento do céu, com as empresas aéreas tirando proveito da escala e de uma economia melhor acondicionando mais assentos.

Em vez disso, as empresas aéreas utilizaram o enorme espaço para adotar extravagâncias personalizadas, como bares, chuveiros e zonas de compra livres de impostos, transformando muitos A380 mais em aviões de luxo exótico do que em veículos de transporte de massa.

A Airbus quer que os clientes redescubram o A380 como um avião pé de boi. A empresa está incentivando os compradores existentes e futuros a utilizarem configurações mais densas, acomodando 11 assentos por fileira na classe econômica em vez de 10 e ao mesmo tempo explorando o tamanho da cabine para manter regalias, como bares, que distinguem o avião. A empresa elevou a capacidade padrão de assentos a 544 em uma tentativa de atrair clientes.

Layout com duas classes

Isso já ajudou a Qantas Airways a ir nessa direção e a Singapore Airlines agora está reformulando seus 19 aviões A380 para adicionar assentos premium na classe econômica. A Emirates, maior operadora do modelo A380, com 60 jatos em uso e outros 80 encomendados, tem algumas unidades de dois andares em voo em uma disposição de duas classes, com 615 assentos, eliminando suas camas da primeira classe.

Um sucesso modesto que a Airbus busca celebrar neste ano é que não produz mais cada A380 com prejuízo, embora admita que o programa em si, como um todo, jamais recuperará seu investimento de US$ 25 bilhões.

Enquanto a Airbus puder convencer a empresa-mãe a lidar com a escassez atual de pedidos, o A380 tem uma chance de encontrar uma nova geração de compradores atraídos pela economia oferecida pelo avião.

Isso, pelo menos, na visão de John Leahy, 64, um vendedor da Airbus que negociou mais de 12 mil aviões em duas décadas.

"Esse programa continuará existindo por 40 a 50 anos", disse Leahy, em um vídeo promocional que a Airbus lançou para o aniversário do avião. "Não tenho dúvidas quanto a isso".