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Investidores têm dúvida sobre disciplina fiscal com Barbosa

Agência Brasil
Imagem: Agência Brasil

Anna Edgerton e Ney Hayashi

23/12/2015 15h06

(Bloomberg) -- Os investidores no Brasil não têm muitas esperanças de que o novo ministro da Fazenda possa recuperar a economia e melhorar as finanças do país. Para ser justo, seria um trabalho difícil para qualquer um.

Nelson Barbosa assume a liderança da remodelada equipe econômica de Dilma Rousseff no momento em que a maior economia da América Latina está em meio à sua mais longa recessão desde os anos 1930.

O rombo orçamentário subiu para 9,5% do PIB (Produto Interno Bruto) com o desemprego crescente e as falências reduzindo a receita fiscal.

E um amplo escândalo de corrupção, que paralisou algumas das maiores empresas do Brasil e deixou políticos importantes lutando por sua sobrevivência política, não mostra sinais de abrandamento.

Trata-se de um quadro drasticamente diferente de quando o antecessor de Barbosa, Joaquim Levy, foi nomeado ministro da Fazenda, no fim do ano passado.

Enquanto Levy tinha reputação de redutor implacável de orçamentos, os investidores não estão dando a Barbosa o benefício da dúvida. Os mercados reagiram ao anúncio do novo ministro da Fazenda, na sexta-feira, vendendo ações e títulos em meio à especulação de que Barbosa não será tão agressivo no corte de gastos e que ficará preso a interesses políticos.

"Não foi a mudança de um nome, foi uma mudança no perfil da política econômica", disse Rogério Freitas, sócio do fundo hedge Teórica Investimentos, com sede no Rio de Janeiro. "Estamos voltando ao perfil que tínhamos antes do Levy".

Os questionamentos a respeito da disciplina fiscal de Barbosa já estão fazendo os investidores precificarem mais aumentos da taxa de juros pelo BC para conter a inflação. No início do mês, eles apostavam que as taxas atingiriam um pico de 16,5% em janeiro, contra a atual de 14,25%.

Agora, os investidores preveem que o BC a elevará para mais perto de 17,5% até julho de 2017.

Real mais fraco

Os investidores também preveem que o real será mais fraco com Barbosa do que seria com Levy.

Os contratos a termo mostram a moeda sendo negociada a cerca de R$ 4,49 por dólar no fim de 2016, contra expectativas de R$ 4,37 no início da semana passada, segundo dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

Isso colocaria o real a caminho de uma queda de 11% no ano que vem após uma queda de 33% em 2015.

Barbosa e o Ministério da Fazenda não responderam aos pedidos de comentário.

Nesta época, no ano passado, enquanto Levy se preparava para assumir, os analistas previam que a economia brasileira cresceria em 2015 e em 2016. Em vez disso, a economia deverá encolher 3,5% e 2,5%, respectivamente, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

Déficit primário

Com a piora da recessão, também piorou a perspectiva fiscal. Levy assumiu prometendo um superávit primário de 1,1% do PIB. O Congresso recentemente aprovou uma nova meta de déficit primário de 1%.

Em suas primeiras falas públicas desde que foi nomeado ministro da Fazenda, na sexta-feira, Barbosa disse que está comprometido em fazer o que for preciso para atingir a meta fiscal do ano que vem: um superávit primário de 0,5% do PIB, o qual exclui os juros pagos sobre as dívidas do governo.

"O compromisso com a estabilidade fiscal é o mesmo", disse ele em entrevista coletiva na sexta-feira. O ministro prometeu focar na mudança da regulamentação para alguns setores, na reforma da previdência e na simplificação do sistema tributário, além da aprovação da CPMF, que deverá captar R$ 12,7 bilhões (US$ 3,2 bilhões) para ajudar a financiar o orçamento do ano que vem.

Cenário político

Se Barbosa será capaz ou não de cumprir a meta fiscal de 2016 é algo que dependerá de como ele lidará com o difícil cenário político. Levy teve problemas, ao longo do ano, para conseguir apoio para suas medidas de corte de gastos porque o abrangente escândalo de corrupção iniciado na Petrobras desviou o foco dos parlamentares.

Em 16 de dezembro, a agência de classificação de risco Fitch se tornou a segunda das três principais agências de classificação de dívidas a reduzir a nota do Brasil para grau especulativo.

Os US$ 4,3 bilhões em títulos do Brasil para 2025 eram negociados na terça-feira no nível mais baixo desde que foram emitidos, em 2013, enquanto o Ibovespa atingiu a mínima dos últimos seis anos nesta semana.

"O mercado está cético", disse Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências, em entrevista por telefone. Existe uma "falta de confiança" por causa do histórico de Barbosa e dos desafios do atual cenário político e econômico, disse ele.