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Gol vê investidor de dívida fugir com medo do pior

Fabiola Moura e Paula Sambo

18/01/2016 11h20

(Bloomberg) -- Os investidores em títulos não estão esperando para ver se a segunda maior empresa aérea do Brasil é capaz de suportar a crise econômica e a queda do real.

A Gol viu seus US$ 325 milhões em títulos para 2022 caírem 62% nos últimos 12 meses, para US$ 0,35 por dólar, mostram dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

Embora tenha caixa suficiente para cobrir suas obrigações financeiras e a queima de caixa deste ano, a Gol, com sede em São Paulo, está enfrentando prejuízos estratosféricos no momento em que a recessão mais aguda do Brasil em um século estrangula a demanda por viagens aéreas no maior mercado da companhia.

A queda de 33% do real em relação ao dólar em 2015 também tornou o serviço da dívida mais caro para a Gol, já que 87% dela está denominada em moedas estrangeiras.

"Os investidores saem vendendo com os números tão ruins e o medo de um possível default mais à frente", disse Carlos Gribel, diretor de renda fixa do Andbanc em Miami.

A Gol tinha R$ 3,1 bilhões em caixa em dezembro, o que significa, segundo Gribel, que a empresa tem recursos para administrar suas dívidas no ano.

A assessoria de imprensa da Gol preferiu não comentar sobre os preços dos títulos e o temor do investidor de que a empresa possa ter de renegociar os termos de suas dívidas.

A Gol, que obtém cerca de 86% de sua receita no Brasil, disse em 12 de novembro que teve um prejuízo recorde de R$ 2,1 bilhões (US$ 526 milhões) no terceiro trimestre.

A situação apenas piorou para a maior economia da América Latina desde então.

Analistas consultados pelo Banco Central preveem que o produto interno bruto do Brasil encolherá 2,99% em 2016 após uma contração de 3,73% no ano passado. Esta seria a pior recessão de dois anos de duração desde 1901.

"Hoje em dia, quanto maior sua exposição ao Brasil, pior a situação em que você está", disse George Ferguson, analista de empresas aéreas da Bloomberg Intelligence, em Nova York. "É muita exposição a um mercado que está encolhendo e muitas coisas trabalham contra você sob uma perspectiva cambial".

A queda do real mais do que anulou os benefícios obtidos pela Gol com o combustível mais barato, tendo em vista que os preços do petróleo estão no nível mais baixo em 12 anos.

Os títulos da empresa agora têm um rendimento de 32 pontos percentuais a mais do que títulos do Tesouro dos EUA com vencimento similar. Isso é mais de três vezes o limite para dívidas consideradas em dificuldade.

A forte posição de caixa da Gol indica que seu risco de liquidez no curto prazo é administrável, disse Cristiane Spercel, analista sênior da Moody's Investors Service em São Paulo. A empresa está classificada em B3, o que implica uma expectativa de recuperação de crédito de mais de 95%, disse Spercel.

"Alguma assimetria de mercado pode acontecer em determinados momentos de aversão a risco de crédito, risco do país e muitas empresas no Brasil estão com um 'gap' maior em função dessa aversão", disse Spencer.

Para reforçar o caixa, a Gol estendeu o vencimento de sua dívida, atrasou as entregas de novos jatos e congelou as contratações. Em outubro, a Delta, que tem sede em Atlanta, aumentou sua participação acionária na empresa com uma compra de ações de até US$ 56 milhões, enquanto o acionista controlador, o Fundo de Investimento em Participações Volluto, investiu cerca de US$ 90 milhões.

O analista do UBS Rogério Araújo disse em um relatório, em 5 de janeiro, que a Gol pode precisar de outra capitalização no primeiro semestre de 2017. Ele estima que a empresa aérea queima R$ 340 milhões por trimestre.

"As operações da Gol atualmente parecem insustentáveis", escreveu Araújo. "A empresa ainda precisa de uma melhora drástica nas operações para parar de consumir caixa".