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ONU desenvolve método com radiação para destruir vírus zika

Jonathan Tirone

12/02/2016 10h35

(Bloomberg) -- A Intrexon chamou a atenção dos investidores neste mês com a perspectiva de que seus mosquitos geneticamente modificados possam ajudar a controlar o vírus zika, que está se espalhando pelo Brasil. Agora, a empresa de biotecnologia pode perder a corrida para uma solução nuclear desenvolvida pela Organização das Nações Unidas.

As ações da Intrexon subiram mais de 60 por cento desde 13 de janeiro, aumentando o valor da empresa em US$ 1 bilhão, enquanto cientistas do setor público da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, em Viena, se preparavam para oferecer sua própria solução às autoridades brasileiras. A Intrexon modifica o DNA do mosquito para que o inseto morra antes de transmitir o vírus, e a AIEA utiliza radiação para esterilizar a larva masculina para que, quando os mosquitos se acasalem, suas larvas não se desenvolvam. E a agência oferecerá sua tecnologia gratuitamente.

"Nós transmitimos as tecnologias, treinamos outros cientistas e depois deixamos que os países assumam a liderança", disse Rosemary Lees, médica entomologista da AIEA.

Cientistas da AIEA visitarão o Brasil na semana que vem nos preparativos para fornecer suas tecnologias nucleares às autoridades de saúde do país. Marie Rossi, porta-voz da Intrexon, disse que sua empresa dá as boas-vindas a todos os esforços para controlar a propagação do zika. Ela disse que os insetos da Intrexon foram testados em campo desde 2009 e que a mais recente técnica da AIEA não passou por testes nem entrou em produção em massa.

A epidemia brasileira de zika foi declarada uma emergência global pela Organização Mundial da Saúde, aumentando os problemas enfrentados pela presidente Dilma Rousseff. Dilma está lutando para evitar o impeachment em um momento em que a economia está desmoronando e os olhos do mundo estão voltados aos preparativos para os Jogos Olímpicos.

Combate ao zika

O vírus zika está ligado a um salto na incidência de defeitos congênitos e pode infectar até 4 milhões de pessoas em toda a América Latina, segundo a OMS. Atualmente, não existe cura.

A Intrexon diz que está produzindo cerca de 2 milhões de insetos transgênicos por semana em sua fábrica no Brasil e se prepara para abrir uma segunda unidade. A empresa informou no mês passado que reduziu as populações de mosquito em cerca de 80 por cento em bairros afetados de Eldorado e Piracicaba. A OMS disse no dia 8 de fevereiro que os mosquitos modificados geneticamente poderiam ajudar a deter a propagação do zika.

O método da AIEA pode produzir cerca de um milhão de mosquitos machos estéreis por cerca de US$ 400 quando as operações forem intensificadas, disse Romeo Bellini, entomologista da Universidade de Bolonha que desenvolve programas de controle de insetos há 25 anos. Embora a tecnologia ainda esteja em uma fase relativamente inicial, uma fábrica de moscas auxiliada pela AIEA na Guatemala já está liberando cerca de 3 bilhões de insetos por semana.

Drones

Hadyn Parry, presidente da unidade Oxitec que administra o programa de insetos da Intrexon, disse que os insetos de sua empresa são competitivos com qualquer coisa que a AIEA possa oferecer, embora tenha preferido não dizer quais são os custos de produção.

"Acho que ninguém sabe qual técnica vai prevalecer", disse Bellini. "Não temos informações suficientes nem estudos de casos reais no que diz respeito aos mosquitos".

De fato, as equipes rivais se conhecem bem, porque os cientistas da agência trabalharam lado a lado com seus pares do campo comercial. Lees, da AIEA, anteriormente trabalhou na Oxitec, e o cientista sênior da Oxitec, Neil Morrison, criou insetos em massa nos laboratórios da agência.

O maior desafio é entregar mosquitos para as zonas afetadas em números suficientes para fazer a diferença. Enquanto as moscas de fruta e tsé-tsé podem ser lançadas de aviões após serem esterilizadas, os mosquitos precisam ser tratados com mais cuidado.

Por essa razão, a AIEA vem trabalhando com a fabricante de drones Height Tech, com sede em Bielefeld, na Alemanha, para entregar milhares de machos esterilizados de cada vez. Essa tecnologia permitiria até que a equipe liberasse os insetos dentro de cidades, segundo Konstantinos Bourtzis, biólogo molecular dos laboratórios da AIEA.