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Mercado evita 'fim do mundo' com Trump, mas incerteza continua

Josué Leonel

09/11/2016 12h52

(Bloomberg) -- Tudo o que se pode dizer até agora é que o mercado vai absorvendo sem maiores traumas o primeiro impacto da surpreendente eleição de Donald Trump nos EUA. O dólar sobe menos de 2% contra o real, após máxima de +2,5%. O Ibovespa cede perto de 1%, após mínima de -3,7%, e o S&P, de Nova York, já reverteu a queda. O peso mexicano sofre mais pesadamente, com baixa de 8,5%, após a queda atingir 12% mais cedo. As incertezas, contudo, ainda são maiores que as certezas.

No Brasil, alguns analistas atribuíram a reação moderada do mercado ao discurso feito por Trump na madrugada de hoje, após ultrapassar os 270 votos necessários no colégio eleitoral. Em nada lembrando o tom agressivo que adotou na campanha, o republicano disse que governará para todos os americanos, que trabalharão "juntos" para unificar o país e que os EUA vão se dar bem com "países que quiserem ter relações".

O cenário de "fim do mundo" previsto pelo mercado como a reação a uma vitória de Trump, até ontem visto como pouco provável, não se confirmou até agora e não deve se materializar se o presidente mantiver o discurso conciliador, diz Olavo Souza, chefe de renda fixa da Mirae Asset Wealth Management. Por isso, as palavras de Trump terão forte peso a partir de agora, diz Souza. "Agora fala o presidente eleito, não mais o candidato."

A mudança de discurso mostra que Trump é um "operador político", diz Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria. Este tom mais ameno, contudo, não significa que o republicano não vai cumprir, ao menos parcialmente, suas promessas, que envolviam desde um trato mais duro com os imigrantes ao protecionismo contra importações do México e China. Trump pode não não cumprir algumas ameaças, como a deportar imigrantes, mas não pode simplesmente esquecer todas as promessas, como as que fez a empresários e trabalhadores que têm sofrido com a globalização e que o ajudaram a se eleger, diz o consultor.

Blanche lembra ainda que a vitória de Trump com sua retórica protecionista não é um fato isolado, mas se inscreve em uma tendência mundial de fortalecimento das forças contrárias ao comércio global. "Esta é uma antirrevolução da economia globalizada. O Brexit foi apenas um primeiro passo."

Para o Brasil, a incerteza com a vitória de Trump flagra o país justamente num momento em que o governo conta com as reformas, inflação mais baixa e um câmbio estabilizado para assegurar a queda dos juros e a retomada da economia. Embora o primeiro estrago do fator Trump sobre o mercado tenha sido limitado, a incerteza e a volatilidade devem imperar enquanto não fiquem claras as linhas do novo presidente americano.

Mais do que a reação dos ativos financeiros, o principal impacto negativo de uma eventual guinada protecionista dos EUA será sobre o crescimento brasileiro, diz o consultor da Tendências. "Para ampliar a produtividade e retomar o crescimento, o Brasil precisa de mais, e não menos integração ao comércio mundial."