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Análise: Fuga estrangeira de bônus do Tesouro freia qualquer rali

Lisa Abramowicz

02/01/2017 17h40

(Bloomberg) -- Os maiores compradores de títulos do Tesouro dos Estados Unidos estão batendo rapidamente em retirada depois de anos de compras recordes desse tipo de ativos.

Essa é uma dinâmica importante para se entender o possível destino do mercado de títulos do Tesouro, que movimenta US$ 13,6 trilhões, em 2017. É difícil ver como esses bônus podem subir significativamente, mesmo diante de más notícias, devido ao êxodo de bancos centrais estrangeiros do mercado de dívida do governo americano.

Grandes investidores venderam bônus do Tesouro em outubro no maior ritmo mensal desde 2000. A China reduziu suas posições para o menor nível desde 2010, enquanto o Japão e o Brasil também liquidaram seus estoques em um ritmo constante.

E não são apenas os grandes governos que estão vendendo. Investidores estrangeiros do setor privado também têm sido vendedores líquidos, como destacado em um relatório recente pelo estrategista de juros Boris Rjavinski, da Wells Fargo Securities.

Tudo isso ajudou a alimentar a maior onda de vendas de bônus desde 2009. Embora muitos analistas tenham atribuído a venda de títulos à inesperada eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA e, consequentemente, às expectativas de maior crescimento e inflação, os fluxos estrangeiros complicam o quadro.

Por muitos anos, vários países foram enormes compradores de bônus do Tesouro como resposta ao objetivo de acumular reservas em moeda estrangeira. Muitos agora precisam de dinheiro e estão vendendo títulos.

A China, por exemplo, está gastando toneladas de dinheiro para sustentar seu depreciado yuan e para reforçar seu sistema financeiro, que mostra sinais de estresse diante das medidas do governo para restringir práticas arriscadas de financiamento. A economia brasileira está em frangalhos, por isso precisa de todos os recursos disponíveis para fechar os rombos do orçamento.

Estes saques estrangeiros provavelmente continuarão em um futuro previsível, disse Rjavinski.

Isso não significa que o mergulho dos preços dos títulos do governo dos EUA irá acelerar drasticamente nos próximos meses. Na verdade, há um sólido argumento de que a última venda generalizada foi exagerada e uma correção virá em breve.

Tenho argumentado que os investidores foram muito longe com esta ideia de que Trump será capaz de implementar rapidamente políticas que irão alimentar a exata quantidade de inflação e crescimento para tirar a economia da trajetória de expansão lenta. Mantenho minha opinião.

Mas este cenário de vendas por investidores estrangeiros é importante. O rendimento dos bônus do Tesouro com vencimento em 10 anos pode não subir rapidamente, mas provavelmente não voltará ao nível de 1,36 por cento visto em julho. Os dias de rendimentos extremamente baixos parecem ser coisa do passado, independentemente de se Trump será capaz de cumprir suas promessas e implementar suas políticas no curto prazo ou não.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg L.P. e de seus controladores.