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Opinião: As reações certas e erradas ao presidente Trump

Os Editores

20/01/2017 13h57

(Bloomberg) -- Por ocasião da posse de Donald Trump como 45º presidente dos Estados Unidos, seus críticos mais duros e seus defensores mais ferrenhos precisarão respirar fundo e analisar aonde querem ir a partir de agora.

Os críticos estão certos ao afirmar que Trump possui características problemáticas para um presidente. Mas a reação míope escolhida por alguns -- boicotar a cerimônia de posse e declará-lo um presidente "ilegítimo" -- apenas enfraquece a base da democracia: a transição pacífica de poder. Isso pode gerar consequências desastrosas no futuro.

Independentemente da ação de hackers russos, Trump ganhou mais votos eleitorais que Hillary Clinton em uma eleição não corrompida por fraude eleitoral. Sua vitória foi legítima e aqueles que negam isso -- incluindo heróis americanos como o representante John Lewis -- refletem a imagem daqueles que tentaram deslegitimar o presidente Barack Obama.

De forma similar, muitos democratas que criticaram os republicanos por bloquear o presidente Obama a cada oportunidade agora prometem adotar a mesma abordagem com Trump. Mudar de lado faz parte do jogo, mas os democratas apenas prejudicarão o país, e sua própria causa, se se recusarem a cooperar com Trump em assuntos nos quais é possível ter interesses comuns, como infraestrutura, crédito fiscal de rendimentos auferidos, assistência à infância e assistência médica a veteranos. Protestos e obstruções podem ser parte útil de uma estratégia política, mas não devem ser a principal.

Quem apoia Trump também precisa dar um tempo. Por exemplo, muitos congressistas republicanos estão avançando precipitadamente com uma agenda improvisada, a começar pela revogação rápida da Affordable Care Act (Lei de Cuidados Acessíveis). Alguns políticos, como os senadores Bob Corker e Rand Paul, se opõem à revogação sem que haja uma substituta pronta. Outros devem se somar a eles.

Os republicanos também expressaram muito pouca preocupação em relação aos conflitos de interesse de Trump, que têm o potencial de ser uma grande distração para o novo presidente -- ou algo pior. O debate sobre se Trump viola a cláusula de emolumentos da Constituição dos EUA quase certamente levará a uma ação legal. Os pedidos de impeachment não demorarão muito para chegar. Para evitar isso, líderes de ambos os partidos devem se unir e pressionar Trump a se separar de seus interesses privados.

Trump foi eleito porque prometeu se livrar dos problemas. Os eleitores precisam insistir para que ele dê o exemplo.

Existe uma lição maior que se aplica a todos: Trump provavelmente continuará produzindo mais drama político do que o nível saudável para qualquer república. Em vez de se envolver nisso, os americanos -- e o mundo -- devem avaliar a questão com discernimento. O primeiro passo é separar as reflexões das redes sociais da política real e julgar o governo mais por suas ações que por suas palavras.

Os próximos dias sem dúvida testarão a paciência de muitos americanos. Mas a unidade nacional não pode ser sacrificada diante de considerações políticas míopes. Se o dia da posse traz uma verdade, é essa: os EUA são mais duradouros do que qualquer presidente.