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Árvores aromáticas de US$ 1.500 prosperam no deserto australiano

Rebecca Keenan e Pratik Parija

23/02/2017 07h24

(Bloomberg) -- Em um lugar de clima ideal, no extremo norte do deserto interior australiano, 15 anos de paciência de duas das maiores produtoras de árvores de sândalo do mundo podem estar prestes a serem recompensados.

Essas árvores parasitas -- apreciadas por sua madeira aromática e pelo óleo essencial usado em perfumes, cosméticos e medicamentos -- estão chegando à maturidade, mais de uma década após o plantio.

As árvores estão amadurecendo justamente em um momento de alta dos preços em meio ao déficit na Índia, a maior produtora, e à crescente demanda da China. Um quilo de óleo de sândalo indiano atualmente é vendido por cerca de US$ 3.000, ou cerca de cinco vezes o preço da prata, e os preços estão subindo pelo menos 20 por cento a 25 por cento ao ano, segundo a Associação de Negociantes e Exportadores de Produtos de Sândalo do Sul da Índia. Com isso, as árvores maduras das plantações australianas administradas pelas empresas TFS e Santanol Group, esta de propriedade da KKR, valem cerca de US$ 1.500 cada.

"Há um desequilíbrio fundamental entre oferta e demanda", disse o CEO da TFS, Frank Wilson, em entrevista, de Perth, Austrália. "Nós fazemos o preço."

A demanda global pelo sândalo deverá se multiplicar por cinco, para 20.000 toneladas de madeira por ano, na década até 2025, segundo a TFS, a maior operadora de plantações da Austrália. A China, onde a madeira é usada em medicamentos tradicionais, no artesanato e em fragrâncias, responderá por metade do aumento. Esta situação ocorre em um momento em que, segundo M. M. Gupta, secretário honorário da Associação de Negociantes e Exportadores de Produtos de Sândalo do Sul da Índia, a oferta de sândalo fornecido legalmente pela Índia é parcialmente limitada por restrições do governo à produção e às exportações.

"Esse negócio pode vir a ser muito grande", disse Remi Clero, CEO da Santanol, por telefone, de Paris. A Santanol atualmente comercializa o óleo por pouco menos de US$ 3.000 o quilo, o que, segundo Clero, "corresponde ao preço de longo prazo".

Historicamente, a Índia é a fornecedora dominante, mas as vendas dos leilões do governo despencaram nos últimos anos devido à superexploração e ao contrabando, segundo estudos apresentados em uma conferência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura em 2011. Restrições impostas há séculos, que mantêm todo o sândalo como propriedade do governo na Índia, também desencorajaram severamente os produtores privados, disse Gupta, em resposta por e-mail a perguntas.

A plantação da Santanol em Kununurra, na fronteira da Austrália Ocidental com o Território do Norte, a cerca de 3.000 quilômetros de Perth, será uma das fontes que preencherão a lacuna, disse Clero.

A estimativa é que as vendas de sândalo retirado ilegalmente das florestas nativas da Índia sejam muito maiores do que a produção oficial, basicamente controlada pelo governo até meados do ano passado. A oferta da Índia é variável e caiu para apenas 250 toneladas de madeira por ano em 2016, contra quase 4.000 toneladas por ano em 1970 e mais de 1.300 toneladas em 2002, segundo dados do governo. A variabilidade aumenta a atratividade da oferta de plantações.