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Reino Unido reduz gravidez na adolescência e vira exemplo

Chris Stokel-Walker

23/03/2017 14h04

(Bloomberg) -- O índice de gravidez entre adolescentes está caindo tão rapidamente em certas partes do Reino Unido que as taxas de concepção das mulheres acima dos 40 anos poderão em breve superar as das garotas com menos da metade dessa idade.

Trata-se de uma reviravolta notável para as jovens da Inglaterra e do País de Gales, enquanto aquelas que estão em uma etapa mais avançada da vida desfrutam de uma saúde melhor e da melhora das tecnologias para os casais que não conseguem conceber naturalmente. Os índices de gravidez na adolescência atualmente são os mais baixos desde o início dos registros, em 1969, enquanto a taxa de concepção para mulheres acima dos 40 anos mais do que dobrou de 1990 para cá, mostram dados de 2015 divulgados nesta semana pelo Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido.

Os pesquisadores atribuem o declínio em grande parte à melhora da educação, ao acesso generalizado à contracepção gratuita e ao estigma social maior. Em 2015, 21 de cada 1.000 garotas com 15 a 17 anos ficaram grávidas, uma queda de cerca de 50 por cento em relação a 2007. Ao mesmo tempo, o número de abortos de garotas nessa faixa etária também caiu pela metade.

Essa história de sucesso do combate à gravidez na adolescência vem à tona em um momento em que os EUA estudam o cancelamento da destinação de recursos para a organização Planned Parenthood, uma grande provedora de serviços de saúde e abortos, reacendendo o debate a respeito do planejamento familiar. O projeto de lei dos deputados do Partido Republicano para substituição da Lei de Cuidados Acessíveis (ACA, na sigla em inglês) cortaria todo o dinheiro destinado ao grupo, que oferece abortos, mas não utiliza dólares federais diretamente para os serviços.

Uma medida desse tipo seria "um desastre", disse Kaye Wellings, professora de pesquisa em saúde sexual e reprodutiva da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

"Existe um debate nos EUA sobre o que é necessário, educação ou contracepção", disse Wellings. "É uma discussão tola: a educação não impede a gravidez de ninguém. Ela oferece a motivação para não engravidar. A contracepção oferece os meios que possibilitam evitar a gravidez. As duas coisas são necessárias."

O Guttmacher Institute, uma organização de políticas de saúde sexual e reprodutiva de Washington e Nova York, estima que sem serviços de planejamento familiar com financiamento público os índices de gravidez na adolescência dos EUA seriam 73 por cento superiores aos atuais.

A Casa Branca afirmou que apoiará o financiamento à Planned Parenthood se a organização deixar de oferecer abortos.

O Reino Unido usou uma estratégia abrangente para combater a gravidez na adolescência. Em 1999, o governo do Partido Trabalhista empreendeu uma grande iniciativa e investiu centenas de milhões de libras para expandir os serviços contraceptivos e melhorar a educação sexual. Os tabloides britânicos aproveitavam a deixa, com manchetes como "Nanny State Uproar as Labour Declares War on Teenage Sex" ("Estado-babá gera alvoroço com declaração de guerra do Partido Trabalhista ao sexo entre adolescentes").

Durante anos a estratégia pareceu não estar funcionando. A taxa de gravidez na adolescência continuou na casa de 40 e poucas para cada mil garotas até 2008. Mas então, repentinamente, a taxa começou a cair a cada ano -- um declínio de até 12 por cento. Em 2015, quando os primeiros bebês nascidos sob o novo programa do governo completaram 16 anos, a taxa havia chegado a 21 concepções para cada 1.000 garotas.