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Ações da Bayer caem após condenação da Monsanto por câncer

Joel Rosenblatt, Robert Burnson e Naomi Kresge

13/08/2018 10h59

(Bloomberg) -- As ações da Bayer tiveram a maior queda em quase sete anos devido à preocupação com os possíveis custos de uma prolongada batalha jurídica relacionada ao herbicida Roundup, o principal produto da recém-adquirida Monsanto.

A Monsanto foi condenada a pagar uma indenização de US$ 289 milhões no primeiro julgamento relacionado à acusação de que o herbicida provoca câncer, após a vitória do ex-jardineiro de escola Lee Johnson, na sexta-feira, no tribunal estadual de São Francisco. A empresa, cujo valor de mercado caiu mais de 10 bilhões de euros (US$ 11,4 bilhões) na segunda-feira, afirma que o Roundup é seguro.

O julgamento foi um teste importante das evidências contra a Monsanto e servirá de modelo para o processamento de milhares de outras acusações relacionadas ao herbicida. A Bayer fechou acordo para comprar a Monsanto por US$ 66 bilhões em junho. Se gerar grandes veredictos, a questão pode afetar significativamente os resultados da Bayer, disse Chris Perrella, analista da Bloomberg Intelligence.

O veredicto surpreendeu os investidores da Bayer e pode trazer à tona recordações sobre o escândalo da Lipobay, uma pílula para redução do colesterol, segundo Markus Mayer, analista do Baader Bank. A Bayer pagou mais de US$ 1,1 bilhão para encerrar os processos abertos por causa do medicamento para o coração.

"Os investidores podem ficar com medo de que isso vire um 'Lipobay 2.0'", disse Mayer.

As ações da Bayer chegaram a cair 12%, maior recuo desde setembro de 2011, em Frankfurt, nesta segunda-feira (13). Com isso, o recuo acumulado neste ano chegou a 19%. O total de 1,5 bilhão de euros em títulos da Bayer com vencimento em dezembro de 2029 recuou 3 centavos de euro, atingindo o nível mais baixo desde a emissão realizada em junho para ajudar a pagar a aquisição da Monsanto.

O glifosato, o ingrediente ativo do Roundup, teve o uso aprovado pela primeira vez no herbicida da Monsanto em 1974. Apesar de ter se tornado o herbicida mais popular e mais amplamente usado no mundo, ambientalistas, órgãos reguladores, pesquisadores e advogados debatem calorosamente se ele provoca câncer ou não -- mas a Monsanto insiste há décadas que o produto é perfeitamente seguro.

"Mais de 800 estudos e análises científicas -- e conclusões da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e de autoridades regulatórias de todo o mundo -- respaldam o fato de que o glifosato não causa câncer, nem provocou câncer no sr. Johnson", disse o vice-presidente da Monsanto, Scott Partridge, em comunicado na sexta-feira.

A dependência da empresa americana -- e agora de sua compradora alemã -- em relação ao Roundup vai muito além de sua simples venda como herbicida. A Monsanto modificou geneticamente o DNA do milho, da soja e de outras culturas para torná-los resistentes ao Roundup; atualmente, a empresa gera mais receita com sementes e traits (tecnologias inseridas em sementes) do que com o herbicida.

Os jurados concederam a Johnson, o jardineiro, US$ 39 milhões por seus prejuízos e US$ 250 milhões para punir a Monsanto após considerá-la responsável por um defeito de design e por não alertar sobre os riscos do Roundup. A empresa informou que apelará da decisão.

--Com a colaboração de Gabriella Lovas, Chitra Somayaji, Jade Cano e Chris Vellacott.