Empresária abre loja de souvenir em favela pacificada do Rio
A pacificação do morro Santa Marta, na Zona Sul do Rio de Janeiro (RJ), em dezembro de 2008, trouxe à empreendedora Andréia Miranda, 31, a oportunidade de formalizar o bar que administra há dez anos e ainda diversificar a atividade, vendendo camisetas e souvenires a turistas que passaram a frequentar a comunidade.
Em 2009, Miranda comprou uma máquina de estampar camisetas e começou a comercializar o produto. A aceitação foi tão boa que há seis meses ela abriu uma banca onde vende aos visitantes as camisetas e também artigos decorativos produzidos pelos moradores da comunidade.
A banca fica num local estratégico, no alto do morro e a menos de 50 metros do mosaico produzido pelo artista brasileiro Romero Britto em homenagem ao cantor Michael Jackson, que em 1996 foi ao Santa Marta para gravar o clipe “They don’t care about us”.
“Percebi que a quantidade de turistas estava aumentando. Muita gente quer conhecer a comunidade onde o Michael Jackson gravou o clipe e eu precisava fazer algo para ganhar dinheiro”, declara. Ali também há uma estátua em bronze do artista.
A formalização trouxe ainda outros benefícios. A empreendedora conquistou o direito de ter conta corrente como pessoa jurídica e máquina de cartão de crédito e débito. Pouco depois, em 2011, ela conseguiu realizar um de seus sonhos: quitar a casa própria.
“Foi alívio quitar a casa. Era uma de minhas metas e sempre tive a preocupação de terminar de pagar aquele valor”, diz Miranda.
Empreendedoras montam café-bar com vista privilegiada
O alto do Morro da Providência, na Zona Norte, foi o local escolhido por sete mulheres para montar o próprio negócio. A vista privilegiada do centro carioca e da ponte Rio-Niterói é um atrativo para os turistas, mas faltava um ambiente gastronômico. Carência suprida com o café-bar Favela Point.
Segundo Carolina Pacheco dos Santos, 33, uma das sócias do estabelecimento, a região recebe um grande número turistas e, desde o início do plano de negócios, ela já tinha a intenção de atendê-los.
Porém, a falta de um espaço para os moradores da comunidade se alimentar foi o principal motivador para a abertura do negócio. “Pensamos em ter uma padaria, uma lan house e até uma loja de artesanato. Mas fizemos uma pesquisa na comunidade e vimos que precisava de um bar-restaurante”, afirma.
Policiais e trabalhadores locais são principais clientes
A empreendedora conta que a maioria dos estabelecimentos do ramo de alimentação na comunidade não atende durante o dia todo e os moradores ficavam sem opção.
“Quem saía para trabalhar cedo ou chegava tarde em casa não tinha onde comer. Temos entre nossos clientes policiais das UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora], moradores e até trabalhadores do plano inclinado.”
O plano inclinado é um tipo de bondinho para acessar as comunidades no alto dos morros cariocas. Ainda está em fase de obras no Morro da Providência e uma das paradas ficará próxima ao Favela Point, o que deve aumentar o número de clientes após a inauguração.
Sensação de segurança traz motivação para abrir negócio
De acordo com a sócia do Favela Point, depois da pacificação da comunidade, a circulação de pessoas está mais sossegada. Antes, por conta da presença dos traficantes de drogas, era mais difícil pensar em ter uma empresa.
“A violência diminuiu, o que dá mais segurança para abrir um negócio. Como eu ia abrir uma empresa antes se, de uma hora para outra, começasse a ouvir tiros e precisasse fechar as portas?”, diz.
Inaugurado em março deste ano, o Favela Point é fruto do projeto “Elas em Movimento”, uma iniciativa do fundo de investimento social para mulheres Elas. O negócio é acompanhado por uma gerente de empreendedorismo do fundo de investimentos para ajudar as sócias na tomada de decisões.
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