Viagem ao Chile inspira empresário a abrir fábrica de pimenta gourmet
O molho de pimenta que experimentou durante as férias com a família no Chile foi o empurrão para o empreendedor Léo Spigariol, 34, abrir o negócio próprio. O sabor extra picante misturado com frutas e a adoração dos chilenos pelo tempero despertaram a curiosidade do brasileiro e a vontade de criar algo parecido no Brasil.
“Na hora vi que eles tratavam a pimenta com muito mais respeito e adoração do que no Brasil. Por aqui, só existe o molho vermelho tradicional, sem distinção de tipo ou forma de cultivo da pimenta”, diz.
Foram dois anos de estudos até a De Cabrón, marca de molho de pimentas gourmet, entrar para o mercado. Hoje, a empresa consome, em média, três toneladas de pimenta por mês, o que gera cerca de 20 mil frascos de molho. Os preços variam de R$ 12 a R$ 18 para cada frasco.
Ainda no Chile, Spigariol já começava a se informar sobre o produto. Ao conversar com o dono da banca onde comprou o molho, descobriu que a mercadoria fazia sucesso com turistas e donos de restaurantes locais.
“Em uma viagem, o empreendedor precisa deixar de olhar as coisas do ponto de vista turístico e olhar como empresário, estar atento a formas de consumo diferentes. É só começar a prestar atenção, não tem segredo”, afirma Spigariol.
Sítio da família virou fábrica de molhos
De volta ao Brasil, o empresário percebeu que poderia utilizar o sítio da família em Santa Cruz do Rio Pardo (a 346 km de São Paulo) para fazer o cultivo da pimenta. Deu-se início, então, à fase de pesquisa de mercado, análise dos concorrentes, condições climáticas e do solo para o plantio e o posicionamento da marca.
Foi preciso até que o sócio e primo, Marcelo Prado Filho, 27, viajasse para o México por dois meses para entender o processo de produção de um molho de pimenta gourmet. Alguns produtos da empresa são desenvolvidos em parceria com chefs de cozinha e contêm leve sabor de frutas como manga, maracujá e abacaxi.
O empresário desenvolveu até um "índice de picância", que mostra o nível de ardência do produto na embalagem, por exemplo: picância mirim (suave), picância humana (média, equivalente à dos molhos comuns), picância profissa (forte) e picância insana (extra-forte).
Atualmente, o sítio da família abriga a fábrica de molhos. O plantio das pimentas é feito em pequenas fazendas próximas, das quais a empresa compra toda a produção.
Empreendedor deve ter olhar crítico sobre novos produtos
Veja 5 dicas para aproveitar ideias em viagens
1
Mantenha o "radar ligado"
Durante a viagem, o empreendedor deve deixar de lado a visão de turista e olhar de maneira crítica para produtos e serviços locais, identificando formas de melhorá-los e quais necessidades atendem.
2
Faça contatos
Aproveite a oportunidade para conversar com empresários locais e descobrir curiosidades sobre o negócio. Além disso, estes contatos podem, futuramente, tornarem-se parceiros ou fornecedores da empresa.
3
Torne-se um cliente
Outra forma de descobrir detalhes sobre o funcionamento do negócio durante uma viagem é ser um cliente da empresa. Avalie o atendimento, tire dúvidas sobre o produto e converse com outros clientes para saber a opinião deles a respeito do que estão comprando.
4
Adapte a ideia à sua região
Um negócio que deu certo em um lugar pode ser um fracasso em outro. Antes de implantar a ideia é importante avaliar as diferenças climáticas, culturais e nos hábitos dos consumidores da sua região e adequar o conceito para atender esta nova demanda.
5
Seja ágil na implantação
Demorar demais para tirar a ideia do papel pode abrir espaço para que outros empresários tomem a sua frente. Aproveite enquanto não há ou há poucos concorrentes diretos com a mesma proposta de negócio.
É comum ideias de negócios surgirem quando os empreendedores entram em contato com outras culturas e mercados. Segundo consultor do Sebrae-SP, Fabiano Nagamatsu, mesmo em uma viagem, o futuro empresário deve permanecer com o “radar ligado”. Olhar novos produtos e serviços de maneira crítica e pensar formas de melhorá-los podem ser decisivos para identificar oportunidades.
No entanto, apenas o “faro” apurado não é o bastante. Ainda na viagem, o empreendedor pode conversar com empresários e clientes locais, conhecer um pouco sobre o funcionamento do negócio e anotar contatos para possíveis parcerias no futuro.
“É importante fazer networking antes mesmo de abrir o negócio. Na hora de fazer planejamento, o empreendedor precisa saber quais parcerias serão viáveis após a abertura de empresa”, declara o consultor.
Ideia de negócio deve ser adaptada à realidade local
Para o coordenador-adjunto do centro de empreendedorismo e novos negócios da FGV (Fundação Getulio Vargas), Marcelo Aidar, viagens, especialmente ao exterior, costumam gerar novas ideias. No entanto, nem sempre o sucesso de um produto lá fora significa que ele será bem-sucedido por aqui.
Diferenças culturais, climáticas e nos hábitos de consumo, por exemplo, podem inviabilizar a aplicação de uma ideia. Neste momento, o empresário precisa fazer adaptações no modelo de negócios para a sua região. “O papel do empresário é saber adequar produtos e serviços à realidade exigida”, diz.
De acordo com Aidar, a implantação do negócio não pode ficar parada por muito tempo no papel. É possível que outros empresários tenham a mesma ideia ao viajar para o mesmo destino, principalmente se for uma região turística.
“O ideal é que o empresário aproveite a chamada janela de oportunidade, que é quando não há ou há poucos concorrentes diretos com a mesma proposta de negócio ou quando a demanda por um produto está em crescimento”, afirma.
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