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Na hora da compra, homem vai à caça e mulher quer atenção, diz especialista

Getty Images
Imagem: Getty Images

Aiana Freitas

Do UOL, em São Paulo

15/03/2014 06h00

Num passado distante, a vida do homem se resumia a sair para caçar e trazer alimento para casa. À mulher, cabia basicamente a tarefa de satisfazer as necessidades de sua prole.

Muita coisa mudou, mas o instinto caçador do homem e o caráter acolhedor da mulher permanecem inalterados. Eles ainda determinam nosso jeito de agir, inclusive na hora das compras, diz o consultor em biologia do comportamento do consumidor Pedro Camargo.

"Nossa espécie passou 98% do tempo na savana. Temos um cérebro antigo, com a mesma química e a mesma arquitetura, só que num mundo novo. Isso acontece porque a cultura anda mais rapidamente do que a biologia", diz.

Assim, apesar de termos acesso a supermercados que funcionam 24 horas e serviços de entrega de comida, ainda sentimos necessidade de estocar alimentos na despensa de casa.

Afinal, era assim que faziam nossos antepassados, que viviam numa época em que a disponibilidade de comida não era grande como hoje.

As diferenças entre homens e mulheres

Os processos cerebrais também explicam as diferenças dos hábitos de consumo de homens e mulheres, de acordo com o especialista.

"O cérebro do homem é diferente do da mulher. Não estou falando em capacidade, mas sobre a forma como processamos informações. A mulher se comunica mais, tem mais empatia com o outro", afirma ele.

Para a mulher, é importante criar uma relação com o vendedor antes de se decidir por uma compra –o que, muitas vezes, faz até com que ela compre algo de que não precisa. O homem quer apenas cumprir aquela obrigação rapidamente.

"A mulher é mais apegada às pessoas. Ela precisa de atenção e quer ser bem tratada na loja. Ela também tem mais paciência para escolher os produtos. O homem, não. Seus antepassados saíam para caçar e voltavam para casa. Então, na loja, até hoje ele entra, pega o que quer e sai."

Conquista, reprodução e consumo

As estratégias reprodutivas diferentes também explicam a forma como homens e mulheres consomem, diz o especialista.

Por ter uma quantidade limitada de óvulos, a mulher procura homens com bons genes e que ajudem a cuidar dos filhos. São, portanto, seletivas. Já os homens querem se reproduzir com muitas mulheres. Escolhem menos.

Mas ter um cérebro estruturalmente “antigo” não significa que estamos fadados a ter um comportamento determinado, diz o especialista. Segundo ele, quanto mais conscientes formos do nosso processo cerebral, mais chances temos de nos controlar.

"O cartão de crédito, por exemplo, abstrai o processamento que acontece na ínsula, que é uma área cerebral que trabalha com o nosso medo. Se você dá dinheiro para o caixa, o cérebro reconhece aquilo como uma perda. Se você dá um cartão para o caixa, ele é devolvido, e o cérebro não reconhece isso como uma perda. Sabendo disso, não saia de casa com cartão. Ande com dinheiro."

Hormônios também influenciam na hora da compra

Além da biologia, o especialista tem se debruçado sobre outra área que, segundo ele, influencia o modo como consumimos: a endocrinologia. Ele é autor do livro "Eu compro, sim! Mas a culpa é dos hormônios..." (Editora Saraiva).

“Existem estudos que mostram que, quando vemos um produto que queremos, nosso cérebro decide comprar esse produto 500 milésimos de segundos antes de tomarmos consciência dessa decisão. Quando vejo algo, meu cérebro se inunda de dopamina e ‘compra’ aquele produto antes de eu tomar essa decisão conscientemente."

Esses temas, diz ele, só agora começam a ser estudados a fundo no Brasil e usados por empresas que querem saber como conquistar consumidores. Ele falará do assunto em palestra durante o Neurobusiness Expo Forum, que será realizado entre os dias 16 e 18 de maio em São Paulo.

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