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Sabia que a soja e o milho afetam o preço do seu aluguel? Entenda o IGP-M

Juliana Elias

Do UOL, em São Paulo

22/08/2018 04h00

Quem está com o contrato de aluguel para completar um ano pode levar um susto: ele deve ficar em torno de 8% mais caro, mesmo em um momento em que a inflação geral (IPCA) está em 4,5%. Mas é essa a variação atual do IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), calculado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e tradicionalmente usado para reajustar alugueis.

O que está por trás dessa alta são itens que, no geral, passam bem longe da vida de um inquilino ou do dono de um imóvel: soja, minério de ferro, milho a granel, boi vivo e querosene de avião são apenas alguns exemplos de produtos que estão embutidos no cálculo do IGP-M. E, para azar dos inquilinos (e sorte dos proprietários), eles dispararam nos últimos meses. 

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O valor da saca do milho, por exemplo, acumula aumento de 58,4% em um ano, segundo a FGV (já considerados os primeiros dez dias de agosto, medidos pelo IGP-10, uma prévia do IGP-M). A soja a granel está 24,9% mais cara e, o minério de ferro, 7,13%. 

"O IGP-M é composto por muitos produtos que são cotados em Bolsas internacionais e são muito sensíveis ao dólar, que teve uma apreciação muito forte", disse André Braz, um dos coordenadores dos índices de preços feitos pela FGV. De janeiro até aqui, a alta do dólar está na casa dos 18%. 

Inflação do consumidor x inflação da indústria

O índice tem componentes bastante diferentes dos do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ou do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), os índices oficiais de inflação do país medidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Esses últimos consideram apenas bens e serviços que podem ser usados pelo consumidor final, como gasolina, transporte público, o leite e o tomate no supermercado ou um corte de cabelo no salão de beleza.

O IGP-M, por sua vez, inclui essa cesta, mas também tem uma parcela grande só de produtos voltados para empresas e indústrias. Juntos, eles representam 70% do total da conta e são o que faz, não raras vezes, os índices caminharem em direções diferentes. 

Estatísticas do governo não eram muito organizadas

"O IGP-M não tem nada a ver com aluguel, mas foi o que acabou ficando", disse o diretor de legislação do inquilinato do Secovi-SP (Sindicato da Habitação), Jaques Bushatsky.

"Isso começa lá atrás, quando o país tinha ainda muito inflação, e as pessoas queriam ter uma maneira de ajustar o aluguel. Como, porém, as estatísticas do governo não eram ainda muito organizadas, muitos escolheram a FGV, que tinha um histórico longo de credibilidade."  O IGP-M começou a ser medido pela instituição em 1989.

IGP-M deixa aluguel mais caro?

Bushatsky, do Secovi, afirmou que não há nada que obrigue o uso do IGP-M na hora de fechar um contrato de aluguel. "A lei das locações só impõe duas restrições: que o reajuste não pode ser atrelado à moeda estrangeira, como o dólar, nem ao salário mínimo", disse. "Mas ela diz que deve haver o reajuste, para que ninguém perca dinheiro, e que para isso pode ser escolhido qualquer índice oficial."

A troca por outros índices, porém, faria pouca diferença no final das contas, na opinião dos especialistas. "Como o IGP-M é mais sensível às oscilações do câmbio e a produtos cotados no mercado internacional, há uma impressão de que ele dá uma variação maior e beneficia os proprietário, mas não é sempre assim", disse Braz, da FGV. 

"Há momentos em que o IGP-M sobe mais, há momentos em que o IPCA sobe mais, mas, no médio e no longo prazo, eles acabam convergindo", afirmou. Hoje, quem tivesse um contrato pelo IPCA, teria o reajuste de 4,5% no aluguel, contra os 8,3% do IGP-M. Nem um ano atrás, porém, a situação já era completamente diferente. No fim de 2017, o IPCA subiu 3%, enquanto os contratos pelo IGP-M não tiveram aumento nenhum: ele fechou o ano em queda de 0,5%.

No acumulado dos últimos cinco anos, a alta do IGP-M é 33,9%, do INPC, 35,3% e do IPCA, 36,2%. Veja no gráfico abaixo quem subiu mais nos últimos anos, IGP-M ou IPCA: