Entidades da indústria aprovam novo programa anunciado pelo governo

O NIB (Nova Indústria Brasil), anunciado ontem (22) pelo governo federal, repercutiu bem entre representantes da indústria. Entidades e associações avaliam o plano como algo muito positivo para o setor. Segundo o governo, o principal objetivo do novo projeto é reverter a "desindustrialização precoce do país" e estimular o setor produtivo de forma sustentável.

O que diz a indústria

As associações elogiaram a iniciativa. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) declarou que o novo programa vai fomentar a neoindustrialização do país. Léo de Castro, vice-presidente da confederação, ressaltou a importância de contar com o setor público no processo de retomada da indústria brasileira. "Esse é o anúncio de uma política pública moderna, que redefine escolhas para o desenvolvimento sustentável, com mais investimento, produtividade, exportação, inovação e empregos, por meio da neoindustrialização", disse.

O programa prevê um aporte de R$ 300 bilhões para os próximos quatro anos. A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), que também se manifestou favorável, declarou que as diretrizes apresentadas contribuirão para a retomada industrial em bases sustentáveis.

A associação frisou, no entanto, que o governo deverá desenvolver um sistema para controlar os programas lançados. "Também é importante direcionar atenção às missões apontadas como prioritárias na execução da política industrial, que acompanham de perto ações em vigor no mundo todo", declarou.

A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) celebrou a nova política, que contribuirá para o "robustecimento da indústria". Por outro lado, a associação destaca que para que o Brasil ocupe um lugar de destaque no cenário global em um contexto de rápidas mudanças tecnológicas e de intensa competição entre os países industrializados, o programa de incentivos deverá continuar após 2026.

Medida também foi elogiada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A federação disse que o novo programa deve ser aplaudido, porque demonstra que o governo federal "reconhece a importância da indústria de transformação para colocar a economia brasileira entre as maiores do mundo".

A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) lembra que a indústria perdeu espaço nas últimas décadas e "um chamado à ação não pode ser ignorado". A entidade avalia que a nova política é apropriada para o atual momento socioeconômico, mas medidas que gerem um grande impacto no orçamento público e que não se traduzam em benefícios econômicos tangíveis devem ser evitadas.

'É um bom ponto de partida'

Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, destaca que os R$ 300 bilhões não são suficientes, mas ainda assim, trata-se de "um belo ponto de partida". Ele explica que em outros lugares do mundo, como Estados Unidos e na Europa, os investimentos são consideravelmente maiores.

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Apesar de o valor ser insuficiente, Lucchesi diz que prefere focar nos pontos positivos do plano. Ele exaltou a janela de oportunidade dentro das metas de emissão de carbono e energia verde. "O Brasil pode se tornar uma Arábia Saudita da energia verde", diz.

O porta-voz da CNI também acredita que o impacto fiscal do programa será "zero". "A política monetária está sendo muito bem conduzida pelo ministro Fernando Haddad, então, a política não tem nenhum ônus para o equilíbrio macroeconômico fiscal".

A sociedade deve apoiar a indústria, afirma Rafael. Ele explica que é um setor com cadeias mais complexas, que gera mais empregos e paga melhores salários. "[A indústria] gera mais classe média, que é quem consome. Tudo isso gera um efeito dinâmico, isso move a economia. O agro gera poucos empregos, as cadeias do agro são curtas. No mundo inteiro, todos os países investem em política industrial. A indústria é responsável por mais de 70% do gasto em inovação", diz.

Controvérsias

O plano, no entanto, não é consenso. A segunda das seis metas detalhadas, por exemplo, envolve a área da saúde. O governo pretende produzir 70% das necessidades nacionais em medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos.

Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos), acredita que metas irreais podem acabar com a credibilidade de um programa. "Os planos na área de saúde são muito arrojados. É impossível, mesmo num programa de dez anos, você ter 70% de abastecimento interno na área de saúde. Nenhum país do mundo tem isso, Estados Unidos não tem, nenhum país na Europa tem, nem China ou Índia. Quando a política é muito arrojada e não dá certo, começa a cair em descrédito. É um problema que precisamos evitar que aconteça", diz Mussolini.

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Entenda o programa

O governo federal lançou na segunda-feira (22) uma nova política industrial para o país, com metas para o desenvolvimento do setor até 2033. O texto foi entregue pelo CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) ao presidente Lula (PT). A política foi desenvolvida durante o segundo semestre de 2023 pelo Conselho (composto por 20 ministérios), pelo BNDES e por 21 entidades que representam a sociedade civil, o setor produtivo e os trabalhadores.

O montante considera os R$ 106 bilhões anunciados na primeira reunião do CNDI, em julho, e mais R$ 194 bilhões incorporados. Os recursos serão geridos BNDES, Finep e Embrapii.

A nova política prevê linhas de crédito especiais, recursos não-reembolsáveis, ações regulatórias e de propriedade intelectual e uma política de obras e compras públicas. O programa tem metas para todas as seis missões definidas, que devem ser cumpridas até 2033.

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