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Yellen diz que mercado de trabalho dos EUA ainda sofre e pede política "pragmática"

22/08/2014 12h50

Por Howard Schneider

JACKSON HOLE EUA (Reuters) - Os mercados de trabalho dos Estados Unidos continuam prejudicados pelos efeitos da Grande Recessão e o Federal Reserve deve agir cautelosamente ao determinar quando a economia estará forte o suficiente para que a taxa de juros suba, afirmou nesta sexta-feira a chair do banco central norte-americano, Janet Yellen.

Em discurso na conferência de bancos centrais em Jackson Hole, Yellen apresentou em detalhes os motivos pelos quais sustenta que a taxa de desemprego sozinha não é suficiente para avaliar a força do mercado de trabalho dos EUA e porquê o Fed precisa agir cautelosamente ao decidir quando elevar os juros.

Ao mesmo tempo, ela acenou às preocupações de algumas autoridades do Fed que estão cada vez mais apreensivas com o nível do estímulo de política monetária do banco central.

A taxa de desemprego tem caído mais rapidamente do que o esperado, mas Yellen afirmou que os problemas econômicos dos últimos cinco anos deixaram milhões de trabalhadores afastados do mercado, desencorajados ou presos em empregos de meio período --fatos que não são capturados pela taxa de desemprego.

Julgar se a economia está perto do pleno emprego é algo "complicado pelas mudanças contínuas na estrutura do mercado de trabalho e a possibilidade de que a recessão severa tenha provocado mudanças persistentes no funcionamento do mercado de trabalho", disse Yellen no discurso de abertura da conferência anual de política econômica do Fed.

"Avaliações do grau de ociosidade remanescente no mercado de trabalho precisam se tornar mais diversificadas devido à incerteza considerável sobre o nível de emprego consistente com o duplo mandato do Federal Reserve" de preços estáveis e pleno emprego, completou ela.

O discurso de Yellen tentou capturar o dilema enfrentado pelo banco central. Ela admitiu que existe risco de o Fed ter interpretado mal o grau de ociosidade no mercado de trabalho e possa ter de mexer nos juros rapidamente. Mas afirmou que existe também uma chance de que a economia possa decepcionar ou de que trabalhadores afastados possam retornar à força de trabalho, aliviando qualquer pressão inflacionária.

"Não existe receita simples para uma política apropriada", disse Yellen, pedindo uma postura "pragmática" que dê às autoridades espaço para avaliar dados conforme eles chegam, sem se comprometerem com um caminho pré-determinado.

"JULGAMENTOS DIFÍCEIS"

A reação dos mercados financeiros foi mínima ao discurso de Yellen, com o dólar subindo ligeiramente ante o euro e os preços dos Treasuries tinham pouca alteração.

"Janet Yellen confirmou a visão majoritária (do comitê de política do Fed): uma recuperação muito maior do mercado de trabalho é necessária antes que o Fed eleve as taxas de juros", disse o presidente do Cumberland Advisors, David Kotok.

O discurso de Yellen incluiu referências prolongadas à possibilidade de que os mercados de trabalho possam de fato estar mais pressionados do que parecem e de que o Fed possa estar em risco de ter que elevar os juros mais cedo e mais rápido do que o esperado.

Mas, no geral, as declarações marcaram a defesa de sua premissa básica de que a crise financeira e a recessão de 2007-2009 afetou a economia e a força de trabalho de maneiras que não foram totalmente compreendidas.

O Fed tem mantido as taxas de juros referenciais perto de zero desde dezembro de 2008 e afirmado que vai esperar "um tempo considerável" após encerrar seu programa de compra de títulos em outubro antes de elevá-las. Os mercados financeiros projetam no momento que as taxas de juros subirão por volta de meados do ano que vem.

O debate sobre a avaliação de Yellen dos mercados de trabalho --e sobre quando elevar os custos de empréstimos --está se intensificando dentro do comitê de política do Fed.

Na última reunião do banco central em julho, algumas autoridades argumentaram contra caracterizar o tamanho da ociosidade no mercado de trabalho como "significativa", o que o Fed fez em seu comunicado pós-reunião. Muitas autoridades concordaram que essa caracterização pode ter que mudar em breve.

(Reportagem de Howard Schneider, Michael Flaherty e Jonathan Spicer)