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Macadâmia cultivada com café produz mais cedo e se paga na metade do tempo

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

17/01/2014 06h00

Uma pesquisa realizada em São Paulo revela que é possível antecipar a produção de macadâmia, se ela for cultivada juntamente com café. Com isso, a recuperação do investimento para a formação de pomares da noz, que normalmente leva dez anos, pode ser encurtada em cinco ou seis anos.

Segundo Marcos Perdoná, 43, engenheiro agrônomo da Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), que transformou a pesquisa em tese de doutorado, o retorno mais rápido do investimento poderá incentivar o crescimento da produção de macadâmia no país, que é inferior à demanda.

A macadâmia, mais precisamente a amêndoa da noz, pode ser consumida torrada e salgada. Também é usada pela indústria na composição de confeitos, chocolates, sorvetes e pães, e ainda serve como matéria-prima para a fabricação de cosméticos.

Devem ser produzidas neste ano 5.500 toneladas de macadâmia em casca (noz), um crescimento de 14,8% em comparação com 2013, segundo a ABM (Associação Brasileira de Noz Macadâmia).

De acordo com Perdoná, ao se consorciar os dois tipos de plantas, o sombreamento e a adubação proveniente dos cafezais favorecem o desenvolvimento da raiz da árvore de macadâmia, o que leva a planta a antecipar e a aumentar a produção de nozes.

Se o cultivo for feito em uma área de café irrigado, afirma o pesquisador, a produção paga os custos de implantação do pomar no quarto ano após o plantio dos pés de macadâmia. A pesquisa teve como base o preço médio da saca (60 kg) de café entre 2010 e 2012, de R$ 380; para a macadâmia, o preço de referência foi de R$ 4 para o quilo da noz (com casca) e R$ 16 para o quilo de amêndoa.

O agrônomo afirma, porém, que o custo de produção de um hectare do plantio consorciado e irrigado, de R$ 20.368,94, é quatro vezes superior ao do hectare da macadâmia solteira (R$ 4.833,71), ou seja, cultivada em área exclusiva, sem o café.

Com o consórcio e irrigação, a média anual de produtividade de macadâmia no período (de cinco anos) é de 345 kg de amêndoas (macadâmia sem casca) por hectare, contra 98,3 kg no pomar de plantas solteiras, diz o pesquisador.

Se o produtor, de acordo com Perdoná, fizer a plantação consorciada com o café, mas sem a irrigação, o custo de implantação de um hectare cai para R$ 12.262,36. Nesse caso, o retorno do dinheiro investido ocorre no quinto ano, quando há a quarta safra de café e a terceira de macadâmia.

O agrônomo afirma que, no futuro, a oferta de macadâmia no país deverá se equilibrar à demanda, quando os preços do produto poderão cair. "Mas, enquanto isso não ocorrer, não acredito em diminuição dos preços, seja ao produtor ou mesmo ao consumidor", diz.

Falta de macadâmia faz empresa processar pouco volume

A maior indústria do setor de torrefação da noz no Brasil, a Queen Nut, de Dois Córregos (262 km de São Paulo), processou 1.440 toneladas ou 30% de toda a produção nacional em casca em 2013. De acordo com Pedro Toledo Piza, 49, diretor da empresa, ela poderia processar 4.000 toneladas, se houvesse matéria-prima disponível.

“A [baixa] produção limita todo mundo. Se o Brasil não se reestruturar, vai faltar produto”, afirma Piza, que também é diretor da ABM.

Em 2012, o Brasil foi o sétimo produtor mundial de macadâmia, com 4.420 toneladas da noz em casca, o que corresponde a 3% da produção global. Os maiores produtores foram Austrália (com 29% do total) e África do Sul (29%), seguidos dos Estados Unidos (15%) e Quênia (11%).

Alimento faz bem ao coração, mas consumo deve ser moderado

O consumo de noz macadâmia ajuda a proteger o coração de doenças, mas deve ser feito de forma moderada devido a seu alto valor calórico, segundo Marciane Milanski Ferreira, professora de nutrição da Unicamp (Universidade de Campinas).

De acordo com ela, cada cem gramas da amêndoa apresentam 700 calorias. A gordura presente na noz é eficiente no combate ao colesterol, segundo a professora da Unicamp.