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Carla Araújo

Militares tentam convencer Bolsonaro a adotar postura do meio

Pronunciamento no dia 31 de março teve tom mais ameno - Reprodução/Youtube
Pronunciamento no dia 31 de março teve tom mais ameno Imagem: Reprodução/Youtube

Do UOL, em Brasília

01/04/2020 14h13

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O tom mais ameno do pronunciamento feito ontem à noite pelo presidente Jair Bolsonaro. A saída diária do Palácio da Alvorada sem parada para entrevistas ou brigas com a imprensa. E uma declaração oficial no Salão Oeste, ao lado de ministros que estão à frente das ações de combate ao coronavírus, para destacar as ações do governo.

Os três últimos episódios reforçam a ideia de que o presidente deu ouvido à ala mais experiente em guerra: os militares. Esses auxiliares são apontados em seu governo como "moderados" em contraponto à chamada "ala ideológica", que recebe a influência dos filhos do presidente.

Apesar das mudanças de tom do presidente e de tentar demonstrar mais seriedade diante da crise do coronavírus, que não chamou mais de "gripezinha", auxiliares não comemoram demais e seguem atentos para que ele mantenha uma linha institucional que ajude (ou pelo menos não atrapalhe) os esforços do governo na luta contra a Covid-19.

Até porque, membros do governo reconhecem a dificuldade de enquadrar Bolsonaro e lamentam que ele tenha começado o dia publicando e apagando uma informação errada.

Novo comandante

O ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, tem se firmado no papel de protagonista da crise. Depois de levar para o Palácio do Planalto as coletivas diárias, passou a mediar falas de ministros. Antes do anúncio do presidente de hoje, Braga Netto teve uma reunião na Casa Civil justamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

"Acredito que o presidente deve ter percebido que a virtude está no meio termo", diz uma fonte palaciana da ala militar. "Ao deixar que o ministro-Chefe da Casa Civil atuar, Bolsonaro adotou uma estratégia inteligente e pacífica", completou.

Braga Netto já definiu também que nas coletivas diárias sempre haverá a participação dele e do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Para hoje, o ministro afirmou que deve convidar outros três ministros, mas não quis antecipar os convocados do dia.

Nesta briga por um discurso mais sensato e alinhado com a liturgia do cargo de presidente da República, Braga Netto conta com o apoio de outro ministro general, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral). Também fazem parte deste núcleo de conselheiros, o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), que retornou ao Planalto após se curar do coronavírus, e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva.

No ministério comandado por Azevedo eram frequentes as reclamações de que o presidente não estava atento ao trabalho que as Forças Armadas estão fazendo durante a crise. No pronunciamento de ontem, Bolsonaro gastou justamente alguns minutos destacando o trabalho dos militares.

Dificuldades em alinhar a comunicação

É abaixo do ministério de Ramos que está a Secretaria de Comunicação, a Secom, que, no entanto, tem influência forte da chamada ala ideológica. O filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro, por exemplo, parece ter trocado o Rio de Janeiro por Brasília e é visto com frequência no Planalto, inclusive em fotos oficiais de reuniões.

Nesta semana, foi oficializado no posto de diretor de mídias sociais, Mateus Colombo, que se define como "olavete", em referência o guru da família Bolsonaro, Olavo de Carvalho. Foi já sob seu comando que um vídeo polêmico circulou nas redes oficiais no Planalto sugerindo o afrouxamento da quarentena.