Guedes vê 2ª onda apenas se mortes atingirem 1.000 por dia; médica contesta
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem afirmado que o recente aumento do número de mortes por causa do coronavírus se trata de um repique e que ainda não considera a possibilidade de haver uma segunda onda da Covid-19 no Brasil.
O discurso ajuda a corroborar a decisão do governo de não prorrogar o auxílio emergencial, que acaba no fim deste ano.
Em meados do mês passado, o ministro afirmou publicamente que a "prorrogação do auxílio emergencial, se houver segunda onda, não é possibilidade, é certeza."
Guedes termina 2020 tentando provar que não está desacreditado e que ainda tem condições de conduzir sua agenda. Apesar disso, reconhece que o país e a economia estão paralisados por conta da eleição no Congresso.
Ao comentar o resultado do PIB do terceiro trimestre na semana passada, Guedes voltou a falar que espera trabalhar em 2021 sem a concessão do auxílio emergencial.
Nos bastidores, no entanto, o ministro tem admitido que, se o país voltar à média diária de 1.000 mortes, a situação pode mudar. Isso porque, após a primeira morte por Covid, em 16 de março, o Brasil viu os números crescerem até superarem um platô de mil mortes diárias por quase dois meses, que começou a ceder em agosto (932) e setembro (752), de acordo com números do Ministério da Saúde.
Ontem (7), o Brasil registrou mais 426 mortes causadas pela covid-19 nas últimas 24 horas, elevando a média móvel semanal de óbitos para 603, o número mais alto em quase dois meses e um aumento de 23% no índice em comparação com 14 dias atrás. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.
O ministro aguarda ainda decisões que virão de estados e municípios. Se as restrições de circulação, no comércio e nos serviços voltarem a ser mais rigorosas, Guedes reconhece que terá que ceder e repensar as medidas econômicas.
Visão médica
Para a médica Eliana Bicudo, infectologista e assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia, é um "completo equívoco" olhar para o número de mortes para que o governo ateste o crescimento da doença. Segundo ela, o país vive um recrudescimento dos casos, justamente por conta das flexibilizações que aconteceram recentemente nos estados.
"Nós que estamos na linha de frente sabemos que o número de novos casos tem crescido de forma absurda. Ainda vivemos um problema crônico de dificuldades de diagnósticos e os governos deveriam voltar a restringir a circulação", disse à coluna.
"Eu sei que a população está cansada da doença, mas sou contra festas de fim de ano, porque o que estamos vivendo hoje é reflexo real das eleições, das saidinhas nos feriados. Se a vacina começar no início do ano, ai teremos que avaliar os impactos nos novos casos e somente no fim de 2021 creio que teremos uma situação confortável".
Para o médico Renato Grinbaum, também da Sociedade Brasileira de Infectologia, a questão de classificação em segunda onda ou repique é "meramente semântica". "O que pontua a necessidade de realizarmos um isolamento mais rigoroso é a curva de casos e o nível de ocupação hospitalar", disse à coluna.
Ressaltando que não gostaria de entrar em qualquer componente político das decisões que estão sendo tomadas, o médico afirmou que para tomar qualquer tipo de decisão de ampliar o isolamento é preciso averiguar "esses dois dados de forma lúcida".
Saúde sem métricas
O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, também adotou o discurso de que o movimento da doença atualmente deve-se ao tal "repique".
"Estamos falando de repique de contaminações e mortos em algumas regiões do país. Sim, é só acompanhar nosso site, e nós podemos observar os dados. No Sul e Sudeste o repique é mais claro, e no Norte e Nordeste é bem menos impactante, com algumas cidades fora da curva. E o Centro-Oeste é mais no meio do caminho", disse, no último dia 26, após passar mais de duas semanas em silêncio sobre o aumento de internações por Covid-19.
Fontes do Ministério da Saúde afirmam que eles não estão trabalhando internamente com o conceito de segunda onda e que não há métricas organizadas de ocupação de leitos em hospitais.
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