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Carla Araújo

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Questionada por Bolsonaro, CoronaVac será distribuída pela OMS ao mundo

 imagem ilustrativa mostra ampolas da vacina Coronavac - Kevin David/Estadão Conteúdo
imagem ilustrativa mostra ampolas da vacina Coronavac Imagem: Kevin David/Estadão Conteúdo

e Jamil Chade, do UOL

12/07/2021 12h38

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Impulsionado por seus anseios políticos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já tentou questionar por diversas vezes a CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

As dúvidas levantadas pelo presidente não têm pano de fundo científico e sim uma estratégia política clara de tentar atacar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que incentivou o uso do imunizante desde o início da pandemia.

Agora, o presidente terá contra o seu discurso mais uma decisão da OMS (Organização Mundial da Saúde) que considerou a CoronaVac "eficaz e segura" e, com isso, o imunizante passará a ser comprado pelo consórcio Covax Facility agora no mês de julho.

Segundo o acordo divulgado nesta segunda-feira (12), há matéria-prima disponível para a fabricação de 102 milhões de doses que "estarão imediatamente disponíveis" para os países do Covax Facilty.

De acordo com a decisão, o aumento de oferta de doses da CoronaVac acontece num "momento importante" por conta do surgimento de novas variantes do vírus.

Discurso do governo

Nos bastidores do Palácio do Planalto, auxiliares do presidente têm dito nas últimas semanas que a CoronaVac estaria sendo responsável por algumas filas e atrasos na vacinação. Nas palavras de um auxiliar, os postos de saúde "estão ficando vazios" quando a vacina oferecida é a CoronaVac.

Recentemente, em uma de suas lives semanais, o presidente deixou o ministro das Comunicações, Fabio Faria, em uma saia-justa ao questionar sobre qual imunizante iria tomar.

Bolsonaro perguntou se o ministro aceitaria a CoronaVac. Constrangido e diante da insistência do presidente afirmou: "Não, vou ver se tem a outra", respondeu o ministro.

O governo avalia internamente outros discursos que podem prejudicar ainda mais a confiança no imunizante e já solicitou ao Ministério da Saúde alguns estudos que possam avaliar a possibilidade da aplicação de uma dose de outra vacina às pessoas que tomaram a CoronaVac.

Trabalho técnico

Chancelada pela OMS e por 32 países, a CoronaVac passou por seis meses de avaliação por parte dos técnicos da agência, que chegaram a visitar os laboratórios da empresa. Em maio, esperava-se que a aprovação viria. Mas novas dúvidas surgiram e a OMS exigiu mais respostas por parte da Sinovac.

Foi apenas em junho que, com todos os dados em mãos, os técnicos da OMS aprovaram a vacina e as doses passaram a ser reconhecidas como capazes de garantir a proteção.

Para isso, a entidade avaliou os dados da vacina no Brasil, Turquia, Chile e Indonésia. Também foi avaliada a questão da segurança, levando em consideração dados de 35 milhões de chineses.

As conclusões foram as seguintes:

  • elevado nível de confiança sobre eficácia contra covid-19 entre adultos
  • nível moderado de confiança sobre efeitos colaterais em adultos
  • nível moderado de confiança sobre eficácia contra covid-19 em populações mais velhas
  • nível moderado de confiança sobre eficácia contra covid-19 entre pessoas com comorbidades
  • baixo nível de confiança sobre efeitos colaterais para pessoas com comorbidades

No caso chileno, por exemplo, constatou-se que a vacina tem 67% de eficácia de prevenir um efeito grave da covid-19, contra 85% de queda de hospitalização. A vacina ainda tem 80% de eficácia na prevenção de mortes.

Para a OMS, os dados foram considerados como suficientes para recomendar a vacina e ainda iniciar negociações para permitir que as doses possam entrar no mecanismo criado pela entidade para distribuir vacinas pelos países mais pobres.

Europeus de olho no turismo chinês

A chancela da agência ainda permitiu que países europeus, como Espanha ou Suíça, incluíssem a vacina como um dos critérios para voltar a receber turistas.

O foco, porém, não é facilitar a vida dos brasileiros que queiram viajar. Mas sim a dos chineses, amplamente vacinados com a CoronaVac. Governos e o setor do turismo na Europa aguarda com ansiedade a volta dos turistas chineses para ajudar a recuperar a economia local.

Só em 2019, mais de 2,4 milhões de turistas chineses desembarcaram em Paris, deixando mais de US$ 5 bilhões na economia local. De acordo ainda com a Organização Mundial do Turismo, 149 milhões de chineses viajaram para fora do país em 2018, com gastos de US$ 277 bilhões. Isso representou 20% de toda a renda internacional do turismo.