Liquidação destrói R$ 173 bilhões de valor de empresas listadas na Bolsa
Junto com a disparada do dólar e dos juros futuros, veio o coice no valor das empresas brasileiras listadas na Bolsa: em dez dias, o valor de mercado das 367 companhias listadas na B3 encolheu R$ 173 bilhões.
É como se um Banco do Brasil (R$ 136 bi em valor de mercado) tivesse evaporado dos pregões dos últimos dias, com as vendas em massa que derrubaram as cotações.
Em 29 de novembro, as empresas da Bolsa valiam, no conjunto, R$ 4,34 trilhões. Nesta quinta (19), R$ 4,16 trilhões.
Em alguns setores, como o de empresas aéreas, que são expostas a dívidas em dólar, empresas valem menos hoje do que em março de 2020, mês em que a covid-19 foi declarada pandemia, alterando drasticamente as vidas de bilhões de pessoas ao redor do planeta para se proteger de uma doença para a qual não havia vacina.
O gatilho da atual crise foi a insatisfação da indústria financeira com o compromisso do governo Lula com o equilíbrio fiscal.
As preocupações fiscais, somadas à reação do Banco Central ao movimento do câmbio, desencadearam algumas vendas em pânico de detentores de ativos brasileiros. À Bloomberg, um gestor de investimentos americano resumiu a visão sobre os ativos brasileiros: "Vende primeiro, pergunta depois".
Fatores externos também passaram a contribuir, como as declarações de Jeremy Powell, presidente do Fed (a autoridade monetária dos EUA), de que os juros americanos poderão voltar a subir, o que tradicionalmente ajuda a secar recursos investidos em países emergentes.
Contaminação para economia real
Volatilidade - a variação abrupta das cotações de valores mobiliários - faz parte da vida do investidor em renda variável.
Mas especialistas agora acreditam que o novo patamar do dólar e dos juros balizados pelos títulos do Tesouro (que ultrapassaram 15% ao ano, no caso dos prefixados) pode trazer danos não apenas a investidores, mas para a estrutura de custos das empresas e, por tabela, para o consumidor.
No Brasil, há setores fortemente dolarizados, como companhias aéreas e empresas de agronegócio (que negociam commodities, como soja e carne, precificadas globalmente).
"Dívida em dólar não é um problema para quem tem receita em dólar, como uma Embraer, por exemplo. Mas nos demais setores, que faturam em reais mas têm parte da cadeia de produção em dólar, se o dólar se mantiver neste patamar, vão ter que repassar, mais cedo ou mais tarde, para o consumidor", analisa o economista Alexandre Chaia, professor do Insper e sócio da gestora Carmel Capital.
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