José Paulo Kupfer

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Opinião

'Prévia' da inflação, IPCA-15 de março desta vez não é prévia da inflação

Como "prévia da inflação", a variação do IPCA-15 de março não cumprirá muito bem esse papel, a julgar pelas projeções mais confiáveis para a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deste mês.

Divulgado nesta terça-feira (26), o IPCA-15, que mede a marcha dos preços entre meados de um mês e o seguinte, registrou alta de 0,36% em março, enquanto as previsões para o IPCA cheio para o mês apontam alta em torno de 0,2%.

Inflação em acomodação

A diferença marcante entre o verificado no ritmo de alta dos preços entre 16 de fevereiro e 14 de março e o previsto para a medição no mês completo se deve justamente ao grupo alimentação, que foi o puxador do IPCA-15 de março para cima, mas está em processo de desinflação. Também a pressão residual da reoneração do ICMS na gasolina, que colaborou para a alta do IPCA-15 de março, sairá de cena no IPCA cheio do mês.

De um modo geral, a tendência da inflação para 2024 é de acomodação. De acordo com as projeções de Fabio Romão, economista responsável pelo acompanhamento de preços na LCA Consultores, referência do mercado em previsões de inflação, a alta de preços seguirá uma trajetória mensal comportada, com elevações mensais do IPCA inferiores a 0,5%.

No acumulado em 12 meses, a inflação ficaria, a cada mês, já a partir de março, sempre abaixo de 4%, encerrando 2024 entre 3,5% e 3,7%, dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas. É um nível abaixo das projeções depois da divulgação do IPCA de fevereiro, sinalizando cautela para as avaliações de que o Copom (Comitê de Política Monetária) vai reduzir o ritmo de cortes da taxa básica de juros (taxa Selic), a partir de junho.

Pressões nos preços dos alimentos cedem

As novas projeções mais benignas para a trajetória da inflação se contrapõem de certo modo às preocupações e incertezas reveladas na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), também divulgada nesta terça-feira.

Incertezas com relação às pressões sobre preços, sobretudo no setor de serviços, em função do ritmo de aquecimento da economia, com a consequente persistência de um ambiente favorável à absorção de mão de obra no mercado de trabalho, fizeram com que o Copom alterasse a orientação para suas decisões futuras sobre a taxa Selic.

Em lugar de manter um ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual a cada 45 dias, o Copom preferiu se comprometer apenas com mais uma redução desse porte em maio, deixando em aberto a trilha que seguirá daí em diante. A ata, em resumo, dá sinais de que o ritmo de cortes possa se reduzir a 0,25 ponto por reunião, mas também reforça indicações de que o plano de voo da política monetária, no futuro próximo, dependerá, desta vez com mais intensidade, da evolução dos indicadores econômicos, cuja direção o Copom considera ser incerta.

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No caso da inflação, e de um elemento chave na sua trajetória — a evolução do preços dos alimentos —, as projeções mais atualizadas parecem não indicar pressões relevantes. Depois de embicar para cima a partir do terceiro trimestre de 2023, a tendência de variação nos preços do alimentos é de queda daqui até o fim do ano. A exceção fica com a carne bovina, com previsão de alta ao longo de 2024.

Os preços dos produtos mais sensíveis da mesa e do bolso dos brasileiros —arroz e feijão —, que voaram a partir do segundo semestre de 2023, devem mostrar acomodação ao longo de 2024, segundo projeções de Fabio Romão, o economista responsável pelo acompanhamento de preços na LCA Consultores, referência do mercado em previsões de inflação.

Para o feijão carioca, cujos preços subiram mais de 30%, no acumulado do trimestre encerrado em fevereiro, a perspectiva é fechar o ano com preços em deflação acima de 10%. Quanto aos preços do arroz, que subiram 16,7%, no trimestre encerrado no mês passado, deverão chegar ao fim do ano com ligeiro recuo de 0,13%.

Se as projeções de Romão estiverem corretas, a alta de preços de alimentos no domicílio, em 2024, deve ficar abaixo de 4%. É uma elevação forte ante o recuo de 0,5% em 2023, mas longe dos níveis históricos da inflação dos alimentos na última década.

De 2015 para cá, a inflação de alimentos só ficou abaixo de 4% em 2017, quando a deflação chegou a 5%. A alta de preços de alimentos bateu 18% em 2020 e passou de 13%, em 2015 e 2022.

Núcleos e difusão recuam

Com relação aos demais grupos e itens do IPCA-15, a avaliação de especialistas é de que o resultado foi positivo, ainda que ligeiramente acima da média das estimativas.

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A média dos núcleos de inflação — medidas que excluem do cálculo fatores sazonais ou excepcionais —, por exemplo, recuou de 0,57%, em fevereiro, para 0,23%, abaixo do centro da meta de inflação, que é de 3% para 2024. Também o índice de dispersão — medida do número de bens e serviços com alta de preços, entre os quase 400 itens da cesta do IPCA — caiu de 60,5%, em fevereiro, para 54,5%, abaixo da média histórica de 62%.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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