José Paulo Kupfer

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Opinião

Queda da inflação em junho terá repique em julho; ano fecha com mais de 4%

Depois da surpresa positiva com a inflação em junho, quando a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) chegou a 0,21% contra previsões de 0,35%, a expectativa é de alta mais forte em julho, seguida de recuos na variação do índice para menos de 0,2%, em agosto e setembro. As previsões para 2024 voltaram a subir, ficando acima de 4%, mas ainda abaixo do teto de 4,5% previsto no intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação.

O que fez a inflação recuar no mês passado foi o mesmo componente que a pressionou em maio — as dramáticas inundações ocorridas no Rio Grande do Sul entre abril e maio. Os preços dos alimentos, embora ainda a principal contribuição para a variação do IPCA em junho, com quase metade do total, refluíram e devolveram parte da alta de maio.

Com os aumentos nos preços da gasolina e do gás de cozinha, decretados agora em julho, em combinação com a aplicação da bandeira amarela nas tarifas de energia elétrica, as previsões passaram a ser de alta em torno de 0,45% para a inflação neste mês. As estimativas, antes desses aumentos, era de alta em torno de 0,2%.

No acumulado em 12 meses, se as previsões se confirmarem, a inflação de julho superará o teto do intervalo de tolerância, alcançando 4,57%. Nas projeções da LCA Consultores, este seria o pico do ano, com a variação do IPCA se mantendo acima de 4%, no acumulado em 12 meses, no restante de 2024, mas em curva descendente, até encerrar o ano com alta de 4,2%.

A alta prevista para a cotação do dólar até o fim do ano, com fechamento em R$ 5,30 por dólar no fim do ano (e de R$ 5,15 no fim de 2025) explica uma parte da elevação das projeções de inflação em 2024. Como a previsão para a inflação cheia do ano era de 3,9% e agora subiu para 4,2%, o efeito final da alta do dólar, nas projeções da LCA para a inflação deste ano, pode se limitar a 0,2 ponto percentual.

Os resultados da inflação de junho, divulgados nesta quarta-feira (10) pelo IBGE, trouxeram dados moderados e benignos, contribuindo para o alívio momentâneo no mercado de câmbio e nas taxas de juros futuros.

A média dos núcleos — medidas que excluem eventos sazonais ou inesperados — recuou de 0,39% em maio para 0,22% em junho, mostrando descompressão nos dados de inflação.

Também a taxa de dispersão — medida que indica quantos preços, na cesta de 380 bens e serviços do IPCA, aumentaram — caiu de 57,29% em maio para 52,25% em junho, mantendo-se abaixo da média histórica de 62%.

No setor de serviço, acompanhado de perto pelo Copom (Comitê de Política Monetária), para a decisão da taxa básica de juros (taxa Selic), a alta dos preços em junho mostraram bom comportamento. Isso apesar da manutenção das condições favoráveis de absorção de mão de obra, o que se reflete na massa de renda do trabalho em nível elevado.

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Os preços, no chamado segmento de serviços adjacentes — uma espécie de núcleo dos preços dos serviços, que excluem aqueles muito voláteis, como passagens aéreas — recuaram de 0,41% em maio para 0,36% em junho, ficando também bem abaixo da alta de 0,62%, em junho de 2023. No conjunto de 2024, segundo projeções, os preços dos serviços subjacentes subirão 5,4%, acima dos 4,8% de 2023.

Dos nove grupos de bens e serviços que compõem o IPCA, as projeções apontam alta da inflação, em relação a 2023, em três deles — alimentação, vestuário e artigos de residência. No caso da alimentação em domicílio, a aceleração se deveria a quedas menores em algumas commodities e efeitos negativos do fenômeno climático La Niña.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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