José Paulo Kupfer

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Opinião

Emprego em alta é um outro lado dos déficits nas contas públicas

O mercado de trabalho continua aquecido, absorvendo mão de obra e pagando remuneração mais alta. Este é um resumo do que representam os números da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Contínua), para o trimestre encerrado em abril, e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em abril, divulgados nesta quarta-feira (29).

Na PNAD, que capta a situação no mercado de trabalho em geral, computando tanto o segmento formal quanto o informal, a taxa de desemprego recuou para 7,5% da força de trabalho (7,2% com ajustes sazonais). É a taxa mais baixa, para trimestres encerrados em abril, desde 2014.

Em linha com o aumento da ocupação, e a redução tanto do número de desalentados -- pessoas que desistiram de procurar trabalho -- quanto de subempregados -- pessoas que trabalham menos do que poderiam e gostariam -, a renda habitual voltou a crescer. Com isso, a massa salarial subiu ao recorde de R$ 313 bilhões, com alta de 8% sobre o trimestre fevereiro/abril de 2023.

Com 240 mil novos postos de trabalho em abril, o Caged acumula mais de 950 mil vagas abertas com carteira assinada, nos primeiros quatro meses de 2024. Em 12 meses, o volume de novos empregos passa de 1,7 milhão. Prova de mercado aquecido, o salário de admissão continuou subindo, com alta de 1,8% sobre março e de 2,2%, em relação a abril de 2023.

Gasto público aquece mercado

A trajetória de queda na taxa de desocupação vem desde 2021, quando o desemprego, em março daquele ano, atingiu um pico de 14,9%. Já no governo Bolsonaro, e com mais intensidade no início do terceiro mandato de Lula, a melhora nos níveis do emprego tem relação com a ampliação de programas de transferência de renda. Com Lula, ainda é preciso agregar a retomada da política de aumento real do salário mínimo, e a retomada de programas de obras públicas, como no caso do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)

Os gastos públicos destinados a esses programas impulsionam a atividade econômica pela via do consumo das famílias. Não é sem razão que o consumo das famílias aumenta desde 2021, numa batida nunca inferior a 3% a cada ano.

De modo indireto, esse impulso também acaba influenciando positivamente o investimento. Com alta no consumo das famílias e em programas de obras públicas, a demanda cresce na economia, abrindo perspectivas para novos negócios, ampliação ou modernização dos já existentes. O impulso no investimento será mais firme se as condições financeiras forem mais favoráveis.

Melhora nas condições de vida

Um mercado de trabalho capaz de absorver a oferta os trabalhadores disponíveis contribui para um crescimento também mais forte da economia. Não se deveria esquecer, além disso, que o alargamento do mercado de trabalho atua, diretamente, na melhora das condições de vida das pessoas e do bem-estar geral da sociedade. Esse é um outro lado da moeda da expansão fiscal e de déficits nas contas públicas.

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Estratégia tem limites

A estratégia de impulsionar a atividade com gastos públicos tem limites. A partir de um certo ponto, gastos e déficits públicos passam a operar no sentido contrário ao do estímulo da atividade, e do bom desempenho do mercado de trabalho. Se a dívida pública cresce, sua rolagem fica mais difícil, exigindo taxas de juros mais altas na colocação de títulos públicos, afetando todo o mercado financeiro. Juros mais altos são freios para a atividade. Se a atividade se reduz, os postos no mercado de trabalho tendem a encolher

Limites para a expansão das despesas públicas dependem do volume de receitas públicas que o próprio crescimento da economia é capaz de gerar, para compensar essa expansão, e também da capacidade de financiamento da dívida pública formada pelo excesso acumulado de gastos em relação às receitas.

Para 2024 e 2025, o governo Lula tem meta de déficit primário zero. Pelas regras do arcabouço fiscal, o déficit pode chegar a 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto). Mas economistas do setor privado estimam que o déficit, nesta ano, poderá alcançar 0,7% do PIB e ser ainda maior em 2025, pressionando a dívida pública, que já é alta.

A moral da história é que, até certo ponto, e em determinadas circunstâncias, desequilíbrios fiscais não deveriam ser repelidos — e muito menos demonizados. Mas esse não pode ser um poço sem fundo, sob pena de reversão dos avanços alcançados.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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