José Paulo Kupfer

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Inflação piora em maio e dá munição para Copom estancar cortes nos juros

A inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em maio, subiu acima das expectativas e jogou as projeções de alta de preços no fim de 2024 para a vizinhança de 4%, ante projeções de 3,7% depois do IPCA de abril. Se confirmadas as projeções, a inflação terminaria o ano ainda dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas, cujo centro está fixado em 3%, mais perto do teto do intervalo, que é de 4,5%.

Conforme divulgado pelo IBGE, nesta terça-feira (11), a elevação no mês passado foi de 0,46%, o que levou a variação no ano a 2,3%, e no acumulado em 12 meses a 3,9%, ante 3,7% em abril.

Piora nos números

Houve piora na qualidade do conjunto de preços pesquisados. O índice de dispersão — medida dos aumentos ocorridos no mês, em relação ao total de quase 400 itens da cesta de bens e serviços do IPCA — ficou estável, mas a média dos núcleos — que medem a inflação descontados efeitos sazonais e variações inesperadas de preço —, ainda abaixo da inflação cheia, subiu de 0,26%, em abril, para 0,37%, em maio.

Há consenso de que o IPCA de maio deu munição as expectativas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) pode encerrar, ou pelo menos interromper, o ciclo de cortes na taxa básica de juros (taxa Selic), na reunião marcada para a semana que vem. Pesquisas apontam que, neste momento, é quase unânime no mercado financeiro a expectativa de manutenção da Selic, no Copom de junho.

Alta em alimentos preocupa

Alimentação e Habitação foram os grupos que mais pressionaram a inflação em maio, seguidos de Transporte e Saúde. Alimentos, com alta de 0,62%, e Habitação, de 0,67%, responderam por metade da elevação da inflação no mês. No conjunto, os quatro grupos foram responsáveis por 90% da variação do IPCA em maio.

A alta dos alimentos, em maio, ficou abaixo do resultado de abril, quando os preços do grupo subiram 0,7%. Mas a variação no mês passado, já influenciada pela calamidade climática no Rio Grande do Sul, é expressivamente alta diante do histórico de alívio sazonal nos preços de alimentos em meses de maio.

Projeções para a trajetória de alta de preços no grupo Alimentação preocupam. Nos cinco primeiros meses de 2024, preços de alimentos subiram 4,3%, em ritmo mais do dobro do conjunto do IPCA. No acumulado em 12 meses, a elevação é de 3,6%, ainda menor do que a da variação cheia do IPCA, mas com pressões à frente.

Depois de fechar 2023 com recuo de 0,5%, o grupo Alimentação pode encerrar 2024 com alta de 5,7% acima do avanço de 4% que está sendo agora prevista para a inflação do ano. Essas projeções são do economista Fabio Romão, experiente especialista em acompanhamento de preços da LCA Consultores.

"Para 2024, temos projeções de quedas menos intensas do que em 2023 em algumas commodities, o que, conjuntamente aos efeitos previstos das intempéries no Sul do Brasil e do fenômeno climático La Niña, justificam a aceleração que projetamos para Alimentação no domicílio em 2024". Fábio Romão, economista da LCA Consultores

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Influência do dólar

Essa alta em alimentos, que também foi observada em bens industriais já reflete alguma influência da elevação nas cotações do dólar, que deve se intensificar em junho. No caso dos bens industriais, mais afetados pelo dólar, as previsões de que o ritmo de alta de seus preços, em 2024, possa ser o dobro do que registrado em 2023, com alta de 2,1%, ante 1,1%, no ano passado.

Os preços no setor de serviços, inclusive no segmento de serviços intensivos em trabalho, que é um dos pontos observados pelo Copom, também subiram em maio. No acumulado em 12 meses, passaram de 4,6%, em abril, para 5,1%.

De todo modo, para junho, Romão projeta recuo do IPCA para alta de 0,33%, o que levaria o acumulado em 12 meses a 4,35%. Daí em diante, os índices mensais não superariam 0,4%, com o acumulado em 12 meses recuando mês a mês, mas sempre dentro da faixa de 4%.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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