Cama, ducha e lounge a bordo: veja mordomias e luxo do segmento VIP do VIP
Voar em um jato executivo é algo para poucos. A prática faz parte do mercado conhecido como VIP (Very Important Person, ou, Pessoa Muito Importante).
Entretanto, na aviação, existe um mercado mais luxuoso ainda que o VIP, chamado de VVIP, ou Very VIP. Ele é concentrado em pessoas com elevadíssimo patrimônio líquido (Ultra High-net-worth Individuals), geralmente, acima da casa de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões).
Mais do que uma aeronave cara, esse segmento quer uma personalização extrema, que só eles podem ter. Veja a seguir mais detalhes dessa ostentação.
Aviões e helicópteros especiais
Aeronaves são desenvolvidas especialmente para esse público bilionário. Entretanto, não é só para eles, podendo atender às demandas de líderes de governo também.
Uma aeronave VVIP pode ser configurada de três maneiras: Ser fabricada do zero sob este conceito, ter um exemplar que já está em circulação modificado ou aproveitar a estrutura de uma aeronave comum e a finalizar para que seja diferente de versões comuns, segundo Luis Manuel Barrajon, diretor de Marketing da Airbus Corporate Jets para a América.
É um mercado voltado especificamente para bilionários, afirma o executivo. Ele ainda destaca que essa fatia da população está caminhando para os 3.000 indivíduos em todo mundo. Para atender a essas demandas, qualquer avião moderno da Airbus pode ser convertido para um jato particular, diz.
Empresas também optam por esse mercado. Em algumas situações, aviões do tipo são usados para transportar executivos a serviço de suas companhias e, quando disponíveis, são utilizados para o lazer dos donos das empresas.
Não é apenas para levar a pessoa do ponto A para o ponto B. Trata-se de levar toda sua vida a bordo, com escritório, casa, espaço de lazer, permitindo que se trabalhe de São Paulo ao Rio de Janeiro ou Miami (EUA), Londres (Inglaterra), Madri (Espanha)
Barrajon, da Airbus
Quanto aos helicópteros desse mercado, são, principalmente, aqueles do ramo intermediário. Nem tão pequenos, para até cinco passageiros, nem tão grandes, como os que levam mais de 15 pessoas a bordo, diz Rubens Augusto Cortellazzo, diretor de vendas para o Brasil da divisão de helicópteros da fabricante italiana Leonardo.
Em várias situações, são pessoas que antes possuíam helicópteros menores. Em um segundo momento, buscam exemplares maiores e com configuração mais confortável para atender às suas necessidades, diz Cortellazzo.
O que é diferente?
Um exemplo entre os aviões desse mercado é o Airbus A220 na versão VVIP. Com mais de 210 unidades entregues até hoje, cerca de 25% estão nas mãos de indivíduos ou de governos, e não em empresas aéreas.
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Quero receberO modelo comercial da aeronave comporta de 100 a 150 passageiros. Na versão executiva, entretanto, é possível configurar o avião em até seis ambientes que somam 73 m² de área e levam até 19 pessoas. Esses espaços podem incluir lounges, quarto com cama, banheiro com chuveiro, espaço para cozinha, sala de conferências, entre outros.
Entre as alterações estão a adição de mais tanques de combustível na parte inferior do avião para aumentar seu alcance. Como não é necessário levar tantas bagagens como em um voo de passageiros convencional, sobra espaço para aumentar a autonomia da aeronave.
Pressão na cabine mais próxima à do solo. Um diferencial do modelo VVIP é que a pressão interna da aeronave reproduz uma atmosfera mais próxima ao nível do mar do que um avião comercial, o que diminui os efeitos do voo sobre o corpo e diminui o cansaço.
Sua estrutura é a mesma do modelo comercial. Em um certo momento, ele é separado da linha de produção e passa a ter seu interior montado de acordo com o contratado pelo cliente. Também é possível adaptar um avião que já voa em empresa aérea para ser um modelo VVIP.
Não há exemplar do avião no Brasil ainda. A fila de espera para receber um desses está entre 24 a 36 meses.
O preço estimado desse luxo é de US$ 80 milhões (R$ 399 milhões).
Personalização ao máximo
Ter uma aeronave completamente personalizada é um dos diferenciais do mercado VVIP. Um simples helicóptero ou avião, por exemplo, pode ter centenas de configurações, desde telas, tecido, costura, cores até equipamentos que aumentem o conforto a bordo.
Cortellazzo, da Leonardo, diz que são feitas reuniões com o cliente para definir o que ele quer. A partir disso é escolhida a cor, assento, configurações, entre outras opções.
A marca tem agregado o fator de ser italiana, que se destaca pelo design e performance, afirma o executivo. Mesmo com um centro avançado de manutenção no Brasil, o serviço de configuração VVIP acaba sendo realizado na Europa.
O cliente quer conversar com a gente e definir a configuração da aeronave na Itália. Ele quer ter essa experiência na nossa fábrica, dentro do nosso centro de customização, sentir todos os materiais
Rubens Cortellazzo, da Leonardo Helicópteros
Um exemplo é o de um cliente não revelado que quis o helicóptero idêntico ao seu Lamborghini. Tanto a cor da pintura quanto o tecido e a costura. A empresa fez todo o levantamento e conversou com os profissionais da fabricante automotiva para atender a essa demanda.
Em especial, a empresa trabalha com o helicóptero AW169, exclusivo para o mercado VVIP. A aeronave não dispõe de configuração padrão, apenas aquela personalizada pelo cliente em todos os seus detalhes ou para serviços públicos (que está distante de um transporte executivo de alto padrão).
O preço estimado desse luxo é de US$ 12,5 milhões (R$ 62,3 milhões) e o prazo para a entrega passa de um ano.
Regulação dificulta venda
Alguns marcos regulatórios brasileiros impedem a venda de alguns modelos de aeronaves ao Brasil. Segundo fontes ouvidas pelo UOL, a defasagem entre legislações brasileiras e europeias ou americanas restringe o comércio de certos exemplares VVIP.
Uma delas é a capacidade dos helipontos. A regulamentação atual impede que helicópteros de tamanho maior pousem em certos locais, ao contrário do que é permitido em outros países. Com isso, mesmo com interesse de possíveis clientes, a restrição na quantidade de espaços para operar afasta os compradores.
Questões tributárias também dão tom de incerteza. Com a reforma tributária e a previsão de cobrança de IPVA de aeronaves particulares, o mercado também pode sentir negativamente os efeitos da indefinição jurídica no setor.
Ficha técnica
Veja as informações técnicas do Airbus A220 na configuração executiva:
A220 ACJ (Airbus Corporate Jets)
Comprimento: 35 metros
Envergadura: 35,1 metros
Altura: 11,5 metros
Comprimento interior da cabine de passageiros: 23,8 metros
Largura do interior da cabine de passageiros: 3,3 metros
Altura interior: 2,1 metros
Capacidade: Até 19 passageiros (versão comercial leva até 150 passageiros)
Autonomia: 10.465 km (versão comercial voa até cerca de 6.300 km de distância)
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