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Reportagem

Black Hawk: Entenda polêmica com helicóptero que Brasil comprará dos EUA

Em maio, o governo dos Estados Unidos autorizou a compra de 12 unidades novas do helicóptero do modelo UH-60M Black Hawk pelo Brasil. A medida viabiliza a venda de US$ 450 milhões nesse tipo de equipamento de defesa ao país, o equivalente a cerca de R$ 2,5 bilhões na cotação atual.

Além das aeronaves, foi autorizada a compra de 34 motores GE T700-GE-701D, sendo 24 que já estarão instalados nos helicópteros e outras dez unidades reservas, 28 equipamentos de navegação com GPS Honeywell Eagle-M (24 instalados e quatro de reserva) e 24 sistemas de rádio (um para cada posição onde ficam os pilotos).

O governo dos EUA ainda liberou previamente a compra de até US$ 500 milhões (R$ 2,8 bilhões) em outros tipos de equipamentos e serviços de defesa adicionais, totalizando um gasto permitido de até US$ 950 milhões (R$ 5,3 bilhões) caso todos os itens sejam adquiridos. Essa medida evita que, a cada nova compra, o Brasil tenha de pedir uma nova autorização ao país norte-americano, tendo em vista que a medida é obrigatória por fazer parte da estratégia de parcerias e defesa dos Estados Unidos.

Em nota, o governo norte-americano informou que a venda não irá alterar o "equilíbrio militar básico" na região e não impactará na prontidão da defesa do país.

Os Black Hawks

Helicóptero UH-60 Black Hawk do Exército Brasileiro
Helicóptero UH-60 Black Hawk do Exército Brasileiro Imagem: Exército Brasileiro

O modelo é fabricado pela Sikorsky, pertencente ao grupo Lockheed Martin, e é operado por 28 países. No Brasil, além do Exército, a Aeronáutica e a Marinha também usam o modelo, totalizando 26 exemplares somando aqueles disponíveis atualmente em todas as forças armadas.

O helicóptero pode ser usado em missões de ataque, evacuação aeromédica, combate a incêndios, transporte VIP, busca e salvamento, entre outras.

Hoje, mais de 4.000 exemplares do Black Hawk estão em operação no mundo, sendo o Exército dos EUA o maior operador do modelo, com cerca de 2.135 unidades da versão H-60 em uso.

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Helicóptero Black Hawk adaptado para o transporte do presidente dos EUA
Helicóptero Black Hawk adaptado para o transporte do presidente dos EUA Imagem: Departamento de Defesa dos EUA

Um dos helicópteros de transporte do presidente dos EUA é um Black Hawk adaptado. Denominado VH-60N, ele é apelidado de Marine One quando está com o mandatário a bordo.

Ficha técnica

Helicóptero UH-60 Black Hawk da Guarda Nacional dos EUA
Helicóptero UH-60 Black Hawk da Guarda Nacional dos EUA Imagem: Guarda Nacional dos EUA
  • Modelo: UH-60M
  • Fabricante: Lockheed Martin/Sikorsky
  • Tripulação: Quatro pessoas
  • Capacidade de transporte: 11 a 12 pessoas (além da tripulação)
  • Comprimento: 19,6 metros
  • Altura: 5,1 metros
  • Diâmetro do rotor principal: 16 metros
  • Capacidade do gancho externo para cargas: 4,1 toneladas
  • Peso máximo de operação (incluindo carga, pessoas a bordo e combustível): 10 toneladas
  • Velocidade de cruzeiro: 280 km/h
  • Motores: 2 x GE T700-GE-701D
  • Altitude máxima de voo: 6,1 km
  • Autonomia de voo: 1.100 km de distância ou 4 horas e 30 minutos de voo

Qual a frota do Exército?

Helicóptero UH-60 Black Hawk do Exército Brasileiro
Helicóptero UH-60 Black Hawk do Exército Brasileiro Imagem: Exército Brasileiro
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Hoje, o Exército possui um total de 94 helicópteros. São eles:

  • 34 AS550 Fennec/Esquilo
  • 34 AS365 K2 Pantera
  • 4 S-70A (UH-60L) Black Hawk
  • 8 AS532 UE Cougar
  • 14 H225M Jaguar

Exceto as quatro aeronaves da família Black Hawk, todos os 90 helicópteros do Exército, ou são produzidos ou podem ter a manutenção feita no Brasil pela Helibras (ex-estatal hoje pertencente ao grupo Airbus), empresa preterida pelo Exército na escolha da renovação de sua frota. De qualquer maneira, todas as aeronaves passam por procedimentos de manutenção em certos níveis pelas próprias equipes do Exército, sendo necessário recorrer aos fabricantes apenas em situações específicas.

O contrato de compra dos Black Hawks também contempla o suporte logístico integrado, o que inclui documentação técnica, ferramentas específicas, equipamento de apoio e assistência, segundo o Exército. A instituição ainda afirma que esse suporte inicial terá duração de cinco anos, permitindo que todos os procedimentos passem a ser feitos pelas próprias organizações militares nacionais após um período de aprendizado e adaptação, como é feito com os demais modelos da frota.

Por que os Black Hawks?

Helicóptero UH-60 Black Hawk do Exército Brasileiro
Helicóptero UH-60 Black Hawk do Exército Brasileiro Imagem: Exército Brasileiro
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Durante audiência na Câmara dos Deputados em abril deste ano, o comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, já havia anunciado que 12 helicópteros em operação na força armada estavam encerrando seu ciclo de vida: quatro Black Hawks e oito Cougars.

Ele justificou a compra informando que o modelo seria o único disponível no mercado atualmente. "Não tenho nenhuma aeronave de outra procedência que tenha a possibilidade de ser adquirida", disse o militar à época.

A previsão de entrega, informa o Exército, ainda está sendo negociada pelo país junto ao órgão responsável do governo dos EUA. Entretanto, esse período deve estar contido entre os anos de 2025 e 2029.

Na instituição, os Black Hawks realizam missões de transporte aéreo, combate e apoio em todo o território nacional, especialmente na faixa de fronteira e na região Amazônica. Ao mesmo tempo, as aeronaves serão empregadas em ações de apoio à população, como em situações de calamidade pública ou de desastres naturais.

Metralhadora M-134D-H montada no helicóptero UH-60 Black Hawk da FAB
Metralhadora M-134D-H montada no helicóptero UH-60 Black Hawk da FAB Imagem: Sargento Rezende/Força Aérea Brasileira

A autorização de compra também se estende à aquisição de metralhadoras M-134D-H. Elas são montadas na lateral da aeronave para serem disparadas durante o voo.

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Sem compensação tecnológica

O acordo entre os dois países dispensa a compensação tecnológica para a compra. Tema complexo dentro da área da defesa, o Brasil nem sempre adotou essa prática, que consiste em transferir ao país o conhecimento e tecnologias dos equipamentos adquiridos.

Um dos casos mais emblemáticos é o da compra dos caças Gripen para a FAB. O modelo da sueca Saab foi escolhido mediante acordo de transferência de tecnologia ao Brasil. Por meio de uma parceria com a Embraer, o avião está sendo produzido em Gavião Peixoto (SP), gerando empregos na região e ampliando a capacidade da indústria de defesa nacional.

Especialistas do meio ouvidos pelo UOL questionam se a urgência na renovação da frota justificaria esse tipo de medida, que é autorizada por lei diante de casos excepcionais. Essa justificativa, inclusive, é a dada pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro no despacho autorizando a dispensa.

Uma alternativa seria estabelecer um diálogo a longo prazo com fabricantes para poder trazer essas tecnologias para o Brasil se houvesse tempo, gerando empregos para o setor no país, defendem. Outra, seria adquirir helicópteros médios de outros modelos, como é o caso do H145M, que é fabricado pela Helibras em Minas Gerais e que poderia ter novas entregas em aproximadamente de dois anos.

O fato é que, diferentemente de um carro, uma aeronave demora anos para ser entregue após a compra. Não costuma haver estoque para repassar ao consumidor final, tanto no setor militar quanto no civil. E esse é um problema que as Forças Armadas têm de pesar na hora de planejar suas frotas a longo prazo, como se antecipar ao fim da vida útil das aeronaves e realizar as compras em defesa dos interesses nacionais.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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