Todos a Bordo

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Reportagem

Voo mais lotado da história repatriou mais de 1.000 judeus de uma só vez

Em 1991, cerca de 15 mil judeus foram retirados da Etiópia e levados para Israel em aviões. Durante o processo de repatriação, um dos voos marcou o recorde de maior quantidade de pessoas a bordo de uma aeronave, com 1.088 dentro de um Boeing 747 em voo.

Como foi o recorde?

Resgate humanitário foi encabeçado pelas forças de defesa de Israel. A missão de repatriação dos judeus no país africano, em sua maioria negros, foi batizada de Operação Salomão, que foi rei de Israel e teria dado origem a uma dinastia imperial na Etiópia.

Números não são exatos. A versão mais adotada é que 1.088 pessoas estiveram a bordo do avião, incluindo dois bebês que nasceram durante o voo.

Crianças teriam voado escondidas. Com isso, somado à possibilidade de erro na contagem devido à pressa na evacuação, relatórios mais recentes contabilizam que este número poderia variar entre 1.078 e 1.122 pessoas a bordo.

Como avião aguentou?

Modelo pode levar até cerca de 600 passageiros. Esse limite é dado pelo tempo total em que as pessoas que estão dentro da aeronave conseguem sair do avião em até 90 segundos. Entretanto, para a missão humanitária, esse "detalhe" foi deixado de lado.

Para todos caberem, os assentos foram removidos. Os passageiros viajaram sentados no chão ou apoiados uns nos outros, e, também, não levavam bagagens.

Menos combustível foi usado, deixando o avião mais leve. O Boeing 747 usado na missão pode voar quase 13 mil km com os tanques cheios, mas a distância entre a capital Adis Abeba (Etiópia) e Israel é de cerca de 2.600 km. Como não voaria tanto tempo, poderia levar mais peso do que o habitual a bordo.

Pessoas mais magras favoreciam a maior quantidade a bordo. Era esperado que o avião levasse até 760 repatriados a bordo, mas, segundo as forças de defesa de Israel, muitos dos judeus etíopes estavam desnutridos, o que permitiu que mais deles fossem transportados naquele voo.

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Oficial israelense auxilia judeus etíopes repatriados na Operação Salomão após saírem do avião C-130 Hercules
Oficial israelense auxilia judeus etíopes repatriados na Operação Salomão após saírem do avião C-130 Hercules Imagem: Israeli Tsvika/Governo israelense

Contexto histórico

Em 1991, a Etiópia caminhava para o fim de uma guerra civil. O confronto teve início em 1974, com a deposição do imperador Haile Selassie, também chamado de Rás Tafari.

Judeus do país estavam em perigo. O risco era que rebeldes pudessem causar o extermínio dessa comunidade judaica no país, também chamada de Beta Israel.

Em março, diplomata israelense falou da necessidade de retirar os judeus de lá. Uri Lubrani recomendou a elaboração de um plano de emergência para a evacuação da comunidade judaica na Etiópia.

O destino seria Israel. Isso se deve à Lei do Retorno, uma legislação que permite a residência e a cidadania a qualquer judeu de qualquer parte do mundo que queira se estabelecer naquele país.

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O que foi a Operação Salomão?

Judeus etíopes a bordo do C-130 Hercules durante voo de repatriação na Operação Salomão
Judeus etíopes a bordo do C-130 Hercules durante voo de repatriação na Operação Salomão Imagem: Forças de defesa de Israel

A missão de repatriação ocorreu em entre os dias 24 e 25 de maio de 1991. Ao todo, foram levados para Israel cerca de 14.500 judeus etíopes em um período de ação de 36 horas.

Influência dos EUA. O presidente dos EUA à época, George H. W. Bush, enviou uma carta ao governo etíope para que permitisse a retirada de forma humanitária dos judeus do país.

Liberação também teve um custo. Um total de US$ 35 milhões (valores de 1991) foi levantado da noite para o dia para ser entregue ao governo da Etiópia com o objetivo de permitir a repatriação.

Ao todo, 34 aeronaves foram utilizadas. Foram aviões como o militar C-130 Hercules e os civis Boeing 707 e 747, arrendados da companhia aérea El Al.

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Outras ondas de migração de pessoas dessa religião já aconteciam desde 1980, mas aquele momento se tornava crítico para eles.

A operação com o Boeing 747 foi apenas um dos vários voos realizados. Ao total, foram 40 voos sem parar por todas as aeronaves.

Primeiro avião teve de esperar meia hora para pousar. Tráfego aéreo sobre o aeroporto era intenso diante da saída do país. Ele pousou na Etiópia às 10h do dia 24, e logo em seguida os militares montaram uma base de apoio para a operação.

Risco chegava à capital Adis Abeba. Um dos militares que participou da missão lembrou em depoimento ao site das forças de defesa de Israel que a torre de controle de tráfego aéreo ao norte do país sequer respondia aos chamados dos pilotos pois já havia sido tomada por rebeldes.

Primeiro avião pousava em Tel Aviv (Israel) em segurança às 17h do mesmo dia. Enquanto os etíopes desembarcavam, eram cumprimentados pelo então primeiro-ministro do país, Itzhak Shamir, e outras autoridades antes de serem encaminhados para onde iriam se estabelecer.

Judeus etíopes a bordo de avião durante voo de repatriação na Operação Salomão
Judeus etíopes a bordo de avião durante voo de repatriação na Operação Salomão Imagem: Forças de defesa de Israel

Outras repatriações e racismo

Antes da Operação Salomão, judeus etíopes já haviam migrado para Israel. Duas delas haviam acontecido ainda na década de 1980.

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A operação Moisés ocorreu em 1984. Já a operação Josué aconteceu em 1985, e contou com a ajuda de seis aviões Hercules dos Estados Unidos.

Reclamações de racismo contra judeus etíopes são constantes em Israel. Em 2015, um policial israelense foi flagrado agredindo um soldado judeu de origem etíope. O caso foi duramente criticado e comparado ao racismo sofrido em outras partes do mundo pela população negra.

Estima-se que cerca de 160 mil judeus etíopes vivam em Israel. Até os dias atuais é registrada uma alta taxa de desemprego entre eles.

Reportagem

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