Todos a Bordo

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Reportagem

Voe 10, ganhe 1: Programas de fidelidade aérea completam 30 anos no Brasil

Em 2023, os programas de fidelidade aérea completam 30 anos no Brasil. Eles concedem viagens de graça para viajantes frequentes e representam uma injeção de dinheiro nos caixas das empresas.

O primeiro de todos: TAM Fidelidade

Em 1993, nascia o primeiro programa de fidelidade aérea no Brasil, que viria a ser chamado de TAM Fidelidade. A criação foi encampada pelo comandante Rolim Amaro, fundador da empresa, sob a consultoria de marketing do publicitário Mauro Salles.

Nos três primeiros anos do programa, foram 230 mil passagens concedidas pelo programa. No ano 2000, o TAM Fidelidade já tinha atingido a marca de 800 mil Cartões Fidelidade distribuídos e 1 milhão de passagens emitidas.

Embarque em um Fokker 100 da TAM na década de 1990: Empresa foi pioneira nos programas de fidelidade no Brasil
Embarque em um Fokker 100 da TAM na década de 1990: Empresa foi pioneira nos programas de fidelidade no Brasil Imagem: Divulgação/Latam

Cada categoria de benefícios dava direito a um cartão de fidelidade de cor diferente: O branco era o mais básico, o azul era destinado para quem acumulasse 12 pontos e o vermelho era dedicado a quem atingisse 48 pontos no período estipulado pelo programa.

Viaje 10, ganhe uma

O TAM Fidelidade tinha um sistema bem simples de retorno para os seus passageiros. A cada voo no Brasil e América do Sul, era acumulado de 1 a 1,5 ponto, independente da distância e da rota voada.

A cada 10 pontos acumulados, o passageiro ganhava uma passagem cortesia. Ela poderia ser trocada para qualquer destino operado pela empresa dentro do Brasil.

Antigo cartão do programa TAM Fidelidade
Antigo cartão do programa TAM Fidelidade Imagem: Facebook/Latam Brasil
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Sistema era similar ao de restaurantes. Em muitos estabelecimentos, é fornecido um cartão fidelidade, onde cada refeição é carimbada nele. A cada dez, dá-se o direito ao portador em comer uma vez de graça.

O sistema adotado pelo TAM Fidelidade era similar: na prática, permitia-se um voo de graça a cada dez realizados ou menos, já que voos nas classes executiva e primeira classe permitiam acumular mais pontos a cada trecho.

Latam Pass: o sucessor do TAM Fidelidade

Clientes Latam Pass podem fazer o trajeto entre o avião e o terminal de passageiros de Congonhas em um carro Audi em vez dos ônibus tradicionais.
Clientes Latam Pass podem fazer o trajeto entre o avião e o terminal de passageiros de Congonhas em um carro Audi em vez dos ônibus tradicionais. Imagem: Divulgação/Latam
  • Ano de criação: 2019 (como Latam Pass, mas herdando os programas Latam Fidelidade (antigo Tam Fidelidade) e Multiplus
  • Quantidade de clientes: 22 milhões apenas no Brasil
  • Categorias: Categoria inicial e categorias elite: Gold, Gold Plus, Platinum, Black e Black Signature
  • Companhias parceiras: Aeromexico, Iberia, Lufthansa, British Airways, Japan Airlines, Qatar, Swiss, Virgin Atlantic, entre outras
  • Destinos: Mais de 1.000 destinos, incluindo os da própria Latam
  • Milhas já emitidas: A empresa não divulgou essa informação

O Latam Pass surgiu em 2019 após a fusão dos programas Multiplus e Latam Fidelidade, sucessor do Tam Fidelidade. A empresa investiu US$ 300 milhões à época para estruturar o novo serviço.

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Hoje, passageiros frequentes contam com carro Audi e-Tron elétricos para embarque em Congonhas. Serviço é oferecido para levar os passageiros até as aeronaves estacionadas nas áreas remotas. Com isso, não é preciso pegar o ônibus oferecido pela administradora do local.

Smiles: Criado pela Varig, hoje é da Gol

Avião da Gol taxiando para decolar no aeroporto de Congonhas (SP)
Avião da Gol taxiando para decolar no aeroporto de Congonhas (SP) Imagem: Alexandre Saconi
  • Ano de criação: 1994
  • Quantidade de clientes: 22,1 milhões
  • Categorias: Smiles, Prata, Ouro e Diamante
  • Companhias parceiras: Mais de 54, entre elas, American Airlines, KLM, Air France, TAP, Korean Air, Avianca, Taag, Etihad, Sky
  • Destinos: Cerca de 1.600 em 160 países
  • Milhas resgatadas: Cerca de 55,8 bilhões de milhas foram resgatadas apenas no terceiro trimestre de 2023

O Smiles foi criado no começo de 1994 pela extinta Varig. Em 2007, o programa passou a fazer parte da Gol, que ampliou as formas de acumular e resgatar os pontos.

Clientes podem assinar pacotes mensais. O programa permite que, a partir de R$ 31,5 por mês, sejam acumuladas 1.000 milhas. Ainda há planos para receber 2.000, 5.000, 7.000, 10.000 e 20.000 mensais, mudando a faixa de valor cobrada.

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TudoAzul: O mais novo

Avião com pintura especial do programa TudoAzul em 2021
Avião com pintura especial do programa TudoAzul em 2021 Imagem: Alexandre Saconi

Ano de criação: 2009
Quantidade de clientes: 16 milhões
Categorias: Básico, Topázio, Safira e Diamante
Destinos: 160 da Azul e mais de 3.000 com as empresas parceiras internacionais.
Milhas já emitidas: A empresa não divulga essa informação

O programa de fidelidade da Azul nasceu no segundo ano de operação da empresa. Além de passagens, os clientes podem trocar por produtos e serviços da própria companhia, como uma lista de 550 mil produtos do Shopping TudoAzul ou por pacotes e hospedagem de turismo oferecidos pela Azul Viagens, operadora turística do grupo.

Parceria permite ganhar até 500 mil pontos ao comprar um imóvel. O TudoAzul tem uma parceria com empresas do ramo imobiliário que permite acumular pontos adquirindo imóveis em Miami, Naples e Orlando, nos Estados Unidos, ou Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O valor é suficiente para viajar de classe executiva para alguns destes destinos.

Programa cresceu mais após entrada da Azul em Congonhas em março de 2023. Com a ampliação na quantidade de voos realizados no aeroporto na capital paulista, o programa TudoAzul registrou um crescimento de 50% no volume total de clientes cadastrados mensalmente em sua plataforma.

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Programas extintos

A Vasp (Viação Aérea São Paulo) mantinha o Vasp Plus. Assim como o TAM Fidelidade em sua origem, esse programa dava pontos por voos realizados, e não por distância percorrida.

No Vasp Plus, uma viagem nacional (ou para Aruba ou Buenos Aires, na Argentina) correspondia a um ponto. Já voos para Europa e Ásia representavam três pontos por trecho voado.

Se, em um ano, o passageiro acumulasse 24 pontos, tinha direito a uma passagem de ida e volta dentro do Brasil. Se o acúmulo fosse de 36 pontos no mesmo período, poderia fazer duas viagens nacionais ou uma internacional de ida e volta.

Avião da Avianca durante pouso em Guarulhos em 2018
Avião da Avianca durante pouso em Guarulhos em 2018 Imagem: Alexandre Saconi

A Avianca Brasil tinha o programa Amigo. Os clientes de categorias superiores puderam se candidatar para migrar para planos de fidelidade de algumas empresas aéreas do grupo Star Alliance após a quebra da companhia.

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Programa Amigo chegou a ir a leilão durante a recuperação judicial da Avianca Brasil. Entretanto, ninguém demonstrou interesse. A Avianca Brasil se chamava, originalmente, OceanAir Linhas Aéreas, e tinha a licença de uso da marca do grupo Avianca, sediado na Colômbia, mas não fazia parte do mesmo conglomerado.

A Itapemirim Transportes Aéreos também teve um programa de fidelidade, o ITA Clube. A Transbrasil, por sua vez, tinha o Transpass. Ambos deixaram de existir com o fim das operações das empresas.

O começo

Os programas modernos de fidelidade de companhias aéreas nasceram na década de 1980, nos EUA. Antes já existiam iniciativas para fidelizar os clientes, mas não nos moldes atuais. Um deles foi o AAdvantage, da American Airlines, que premiava quem voava com frequência com milhas que poderiam ser trocadas por passagens de graça.

Desde então, os passageiros poderiam acumular milhas ou pontos para voar sem custos ou obter outros produtos e serviços. Em geral, os programas criam status diferentes, com benefícios diferentes de acordo com o consumo dos clientes.

Também é possível comprar as milhas diretamente dos programas ou por usar cartões de crédito, por exemplo. Ou seja, não só acumulando elas através de viagens realizadas.

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Mais do que um benefício aos usuários, os programas ajudam a injetar dinheiro nos grupos aéreos. Durante a pandemia, esses programas tiveram um importante papel em manter entrada de dinheiro nas empresas, que foram impactadas pela suspensão de diversos voos.

Fontes: Smiles, TudoAzul, Latam, Pesquisa da dissertação de mestrado de Valesca Persch Reichelt apresentada à FGV (Fundação Getúlio Vargas) em São Paulo, acervo jornalístico do jornal Folha de S.Paulo

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