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Bateu em caminhão: 5 anos da queda de helicóptero que matou Ricardo Boechat

Há cinco anos, morria o jornalista Ricardo Boechat, aos 66 anos. Nascido na Argentina e radicado brasileiro, ele era um dos mais premiados profissionais do país.

O dia do acidente

Ricardo Boechat participava de uma palestra em Campinas, no interior de São Paulo. Ele estava em uma convenção da empresa farmacêutica Libbs.

O jornalista havia deixado os estúdios da rádio BandNews FM por volta das 9h30. O trajeto até o local da palestra foi feito de helicóptero.

Reconhecido pelo seu bom humor e sagacidade, ele fez piadas sobre calvície e com o ex-presidente Fernando Collor durante o evento. Em seguida, ele voltava para São Paulo, quando o acidente aconteceu.

O voo

O helicóptero era um Bell 206B JetRanger da RQ Serviços Aéreos Especializados. Quem pilotava era Ronaldo Quattrucci, um dos proprietários da empresa que era dona da aeronave.

Naquela manhã, ele buscou Boechat no heliponto Bandeirantes, localizado na sede da emissora, em São Paulo. Antes disso, o helicóptero havia decolado do Campo de Marte.

Esse primeiro trecho foi feito em oito minutos. Pouco depois, a aeronave voava rumo a Campinas, onde chegou com cerca de meia hora de voo.

Após a palestra, às 11h49, o helicóptero com Boechat e Quattrucci decolava do heliponto Royal Palm Plaza, em Campinas. A previsão era de que o pouso no heliponto da Bandeirantes fosse realizado às 12h15, mas isso acabou não acontecendo.

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A queda

11.fev.2019 - Partes do helicóptero onde estava o jornalista Ricardo Boechat são vistas na Rodovia Anhanguera
11.fev.2019 - Partes do helicóptero onde estava o jornalista Ricardo Boechat são vistas na Rodovia Anhanguera Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Com poucos minutos de voo, o helicóptero começou a apresentar problemas. O piloto teria iniciado uma manobra de autorrotação, que ocorre quando há uma falha no motor e visa conseguir realizar um pouso de emergência.

Análise das imagens de câmeras da concessionária indicam que o piloto queria tocar o solo entre as duas pistas elevadas do Rodoanel no cruzamento com a rodovia Anhanguera. A aeronave, entretanto, passou pelo vão entre elas e caiu na pista localizada logo abaixo.

Helicóptero foi atingido por um caminhão. A pouca distância de tocar o solo, a aeronave foi atingida pelo veículo, que não conseguiu vê-la caindo.

Boechat e o piloto morreram no local em decorrência de vários traumatismos causados após a colisão com o caminhão. O motorista do veículo sofreu ferimentos leves.

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Em seguida, o helicóptero pegou fogo. A aeronave ficou totalmente destruída.

O acidente foi registrado como falha ou mau funcionamento do motor. Dias depois, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) suspendeu as operações da empresa e interditou as aeronaves que ela operava.

Pós-acidente

Entre as possíveis causas apontadas pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado à FAB (Força Aérea Brasileira), estão:

  • Atitude: o operador do helicóptero não teria observado recomendações de segurança, além de desconsiderar a proibição em se realizar táxi aéreo.
  • Indisciplina de voo: além de voar em uma operação para a qual não estava autorizado, um componente do helicóptero estava com o prazo de manutenção vencido.
  • Manutenção da aeronave: falhas em procedimentos da empresa permitiram que o helicóptero voasse mesmo com falha na manutenção.

Entre as recomendações emitidas pelo Cenipa após o acidente, se destacam:

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  • Divulgar os conhecimentos obtidos com a investigação para evitar que novos acidentes acontecessem.
  • Reforçar atuação junto ao sistema de aviação civil para coibir a realização de táxi aéreo de maneira clandestina.

Meses depois, a Anac lançou a plataforma Voe Seguro, onde é possível consultar se empresas e aeronaves estão autorizadas a realizar táxi aéreo. A motivação principal do lançamento não foi o acidente de Boechat, afirma o Cenipa em seu relatório final sobre a investigação do ocorrido, mas a ferramenta se tornou uma eficiente aliada para o consumidor não correr riscos ao contratar voos.

Em 2023, a empresa farmacêutica onde Boechat fez uma palestra foi condenada a pagar R$ 1,2 milhão aos familiares do jornalista morto. À época, a empresa declarou que não comenta decisões judiciais. Anteriormente, ela havia afirmado que não tinha responsabilidade pelo acidente, porque o táxi aéreo havia sido contratado pela organizadora do evento.

Por que o táxi aéreo irregular?

Ronaldo Quattrucci era piloto de helicóptero que levava Boechat
Ronaldo Quattrucci era piloto de helicóptero que levava Boechat Imagem: Reprodução/Facebook

O relatório do Cenipa aponta que aceitar esse tipo de transporte não era habitual na empresa, segundo entrevistas feitas pelo órgão. Isso se deve ao fato de que esse tipo de tarefa não poderia ser realizado naquela aeronave.

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Segundo a Anac, a RQ Serviços Aéreos Especializados possuía autorização para prestar serviços como aerofotografia e aerocinematografia. Entretanto, não poderia executar o serviço de transporte remunerado de passageiros, modalidade exclusiva de empresas de táxi aéreo.

Pressão financeira teria feito levado à aceitação do voo. "[...] a empresa estava com pouca demanda de trabalhos na época, voando cerca de três horas e meia por mês, o que deixava o piloto preocupado", afirma o relatório do Cenipa.

Piloto era muito habilidoso e criterioso, segundo colegas próximos. A investigação do acidente ainda destaca relatos da capacidade técnica do piloto Ronaldo Quattrucci e sua excelência na pilotagem.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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