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Como uma janela de avião se quebra e o que acontece depois disso?

As janelas dos aviões são feitas para resistirem a fortes impactos sem serem destruídas. A resistência é essencial para suportar a diferença entre a pressão do ar dentro e fora do avião.

Somente uma peça muito grande e lançada com extrema força poderia quebrar uma janela de avião. Precisa ser um objeto duro, muito rápido e com muita energia para causar o acidente.

Ou seja, nem martelada e nem trombada de aves podem corromper a estrutura.

Mesmo uma colisão com pássaros não seria suficiente para quebrar a janela da cabine de passageiros, pois, por conta da velocidade do avião, o pássaro não teria como atingir o avião lateralmente. Nesse caso, o risco maior seria nas janelas dos pilotos.

No caso dos passageiros, o pássaro não teria como atingir diretamente as janelas.

O engenheiro mecânico Rob DeCosta afirmou, em artigo no site Quora, que seria necessária uma força de mais de 2.200 quilos para quebrar uma janela de um Boeing 777, por exemplo. Como comparação, ele citou que um lutador de boxe profissional consegue aplicar golpes com 600 quilos de força. No entanto, acidentes podem acontecer.

Até o furinho na janela tem uma função

Produzidas com material acrílico resistente, as janelas dos aviões têm de ser capazes de suportar até 33% a mais do que a força exercida pela diferença de pressão dentro e fora do avião.

Elas são feitas em duas camadas, com um espaço entre elas, exatamente por causa dessa diferença de pressão.

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Até mesmo o formato influencia na resistência. Elas têm os cantos arredondos para distribuir melhor a força.

No início da aviação, alguns aviões foram projetados com janelas quadradas. Os cantos pontiagudos formavam pontos de tensão, criando rachaduras na fuselagem.

O pequeno furo presente nas janelas também tem como função permitir um melhor equilíbrio das pressões internas e externas.

Acidentes

Há registro de pelo menos dois casos em que motores de aviões sofreram danos em voo.

Em agosto de 2016, um Boeing da Southwest perdeu parte do motor. Em fevereiro de 2018, aconteceu o mesmo com um Boeing 777 da United Airlines.

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Nos dois casos, no entanto, não houve danos à fuselagem dos aviões.

Após peças do motor se soltarem e atingirem a fuselagem do Boeing 737-700, uma das janelas se rompeu. A abertura fez com que a passageira Jennifer Riordan fosse parcialmente sugada para fora do avião. Ela foi a única vítima fatal do acidente.

As investigações preliminares apontam que uma das paletas frontais do motor se soltou, sendo lançada em direção à fuselagem. Um motor de avião gira a 18 mil rotações por minuto. Quando uma peça se solta, atinge a fuselagem com força extrema. Esse é um evento raríssimo e com poucas chances de se repetir.

Efeito aspirador de pó e ventania a bordo

Durante o voo, a cabine do avião está totalmente pressurizada. Mesmo voando a uma altitude de 36 mil pés (11 quilômetros), a pressão do ar dentro do avião é equivalente a uma altitude de 8.000 pés (2,5 quilômetros). Isso significa que o ar interno é muito mais denso do que o externo.

Quando a janela quebra, ocorre a despressurização. Para que a pressão interna fique igual à externa, o ar mais denso sai do avião pelo buraco que se abriu. A janela do avião vira um aspirador de pó, sugando tudo o que está dentro do avião.

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Esse fenômeno ocorre até que as pressões interna e externa fiquem equivalentes (todo o ar pressurizado saia do avião).

As máscaras de oxigênio caem porque, em altitude elevada, o oxigênio disponível na atmosfera não é suficiente para manter a respiração humana. Assim que a despressurização acontece, o piloto precisa diminuir a altitude do avião até um nível aceitável para o corpo humano.

Sugestão: apertem os cintos

Apesar do pânico generalizado a bordo, os riscos de haver uma vítima fatal podem ser minimizados. Para tanto, vale seguir à risca os direcionamentos para uso do cinto de segurança.

No caso do Boeing 737-700, em que houve uma vítima fatal, é possível que a passageira que foi sugada estivesse sem o cinto de segurança ou com o cinto afrouxado. Por isso, é essencial seguir as orientações dos comissários de bordo de manter sempre o cinto bem afivelado.

Fontes: Jorge Eduardo Leal Medeiros, engenheiro aeronáutico e professor de transporte aéreo e aeroportos da Escola Politécnica da USP; e Shailon Ian, engenheiro aeroespacial e ex-tenente da Força Aérea Brasileira, com matéria publicada em 20/04/2018

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