Não foi Santos Dumont: O primeiro voo da América Latina foi em... Osasco
Em setembro de 1906, Santos Dumont realizou o primeiro voo registrado com o avião 14-Bis em Paris, na França. Por aqui, entretanto, esse marco não foi conquistado pelo pai da aviação.
O primeiro voo realizado no Brasil e na América Latina foi concretizado por Dimitri Sensaud de Lavaud, na cidade de Osasco (SP).
O primeiro voo
Na manhã de 7 de janeiro de 1910, o aviador Dimitri Sensaud de Lavaud decolou com o avião São Paulo após uma série de testes, onde hoje é a cidade de Osasco. O local no qual o voo foi feito ficava próximo ao Chalé Brícola, onde a família de Lavaud morava e que hoje abriga um museu com o nome do inventor.
Em poucos instantes, o avião cruzava a atual avenida dos Autonomistas, no centro da cidade. Após correr 70 metros, o avião saiu do chão, e percorreu 103 metros em seis segundos a uma altura entre dois e quatro metros acima do chão.
Apesar de o motor ter sido testado por duas horas ininterruptas antes do voo, ele parou repentinamente, causando a queda do avião. Durante o pouso forçado, o avião quebrou uma roda, e os espectadores demonstraram apreensão com o piloto.
Lavaud conseguiu sair do assento do avião impactado por conta própria, e foi aplaudido por quem estava testemunhando a façanha. Os testes foram interrompidos após o acidente, mas já foi suficiente para registrar o marco de primeiro voo realizado no Brasil e na América Latina.
O avião São Paulo
A aeronave usada foi desenvolvida pelo próprio Lavaud com o auxílio do mecânico Lourenço Pelegatti. O São Paulo foi inspirado no monomotor francês Blériot, e tinha as seguintes características:
- Velocidade de 54 km/h
- Comprimento de 10,2 metros
- Largura de 10 metros
- Peso total, incluindo o piloto, de 260 kg
- Tanque com capacidade para 25 litros de combustível
- Estrutura feita de peroba e pinho
- Asa feita com tecido à base de algodão
O motor foi construído completamente no Brasil, e pesava 25 kg. Ele atingia 1.200 rotações por minuto, e, em conjunto com a hélice, conseguia gerar uma força de três toneladas de impulso.
Após realizar outros voos, o avião foi vendido nos anos seguintes à façanha. O original acabou destruído em um acidente com o seu novo dono.
Uma réplica do São Paulo ficou em exposição no Museu Asas de um Sonho/TAM, em São Carlos (SP), até o seu fechamento em 2016. A aeronave levava esse nome por ter sido desenvolvida na cidade de São Paulo, que abrigava onde hoje fica a cidade de Osasco.
Quem foi Lavaud?
Nascido no ano de 1882 em Valladolid, na Espanha, Dimitri Sensaud de Lavaud se mudou para o Brasil no final do século 19. Naturalizado brasileiro, o filho da russa Alexandrine Bognoff e do barão francês Evariste Sensaud de Lavaud foi morar com sua família em Osasco.
Apesar de nunca ter estudado em uma escola de engenharia, tornou-se engenheiro autodidata, inventor e aviador. Após realizar o primeiro voo no Brasil, mudou-se para o Canadá e voltou para a Europa na década de 1920, onde patenteou um modelo de automóvel com sistema automático de transmissão.
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Quero receberDois anos depois, registrou um sistema que mudava o funcionamento da hélice dos aviões em voo, melhorando o consumo de combustível e a performance das aeronaves e que é usado até os dias de hoje. Uma situação envolvendo essa patente resultou em acusações de colaborar com o regime nazista, o que se provou falso.
Ele vivia na França ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, e foi coagido a demonstrar o seu novo invento, que poderia ser usado nos aviões da Luftwaffe. Lavaud, entretanto, sabotou o sistema, causando uma falha.
Com o fim da administração alemã na França, Lavaud ficou preso por oito meses acusado de envolvimento com os nazistas. Ele apenas foi solto em 1945, após intervenção da diplomacia brasileira.
Morreu em Paris (França) em 1947, aos 64 anos, em decorrência de um infarto cardíaco. O aviador deixou centenas de patentes registradas, e jamais teria se recuperado emocionalmente das acusações feitas na época da guerra.
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