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Como em filme, brasileiros ficam 'presos' em aeroporto argentino por greve

Um grupo de brasileiros ficou "preso" na área de embarque do aeroporto Jorge Newbery (conhecido como Aeroparque), na região metropolitana de Buenos Aires, na Argentina, devido a uma paralisação de aeroviários locais na manhã desta sexta-feira (30). Assim como todas as que estavam programadas para partir de tal aeroporto, a aeronave que levaria o grupo de volta ao Brasil não pôde decolar porque os funcionários que fazem o abastecimento dos aviões e controlam o tráfego aéreo cruzaram os braços no final da manhã para participar de uma assembleia trabalhista, bem como os servidores que cuidam do departamento de imigração. Dessa forma, os passageiros que chegaram à sala de espera junto aos portões de embarque no meio da paralisação não estavam conseguindo nem voar nem voltar para trás.

Segundo a imprensa Argentina, no total, cerca de 20 voos foram cancelados ou remarcados, afetando mais de 5.500 passageiros. Os funcionários da estatal Aerolíneas Argentinas estão fazendo paralisações e assembleias há algumas semanas, em meio a uma campanha por reajuste salarial.

O que aconteceu

A consultora de empresas brasileira Ester Luchini Cunha e outros passageiros brasileiros contam que chegaram ao Aeroparque Jorge Newbery no meio da manhã. Cunha diz que ouviram no rádio do táxi, a caminho do aeroporto, algumas notícias sobre a possibilidade de uma paralisação, mas conseguiram fazer o check-in e despachar as bagagens no guichê da Latam Airlines normalmente.

Depois de passarem pela imigração e pelo raio-X, os passageiros alcançaram a área de embarque. Como os painéis informativos espalhados no saguão não informavam o portão em que sua aeronave estava estacionada, eles procuraram funcionários da Latam, que explicaram que todo o serviço no Aeroparque havia sido interrompido pela assembleia.

"Estamos nos sentindo como o Tom Hanks no filme 'O Terminal'", diz a consultora de empresas brasileira, que embarcaria de Buenos Aires para Guarulhos (SP) em um vôo da Latam às 10h55. No longa-metragem de 2004, Hanks interpreta um cidadão da Europa Oriental que viaja para os Estados Unidos justamente quando um golpe derruba o governo de seu país. Ao chegar ao aeroporto em Nova York, descobre que seu passaporte foi cancelado e as fronteiras de seu país estão fechadas, o que o deixa morando no aeroporto por alguns dias, sem poder sair.

Alguns passageiros, incluindo Cunha, conseguiram remarcar o vôo para a noite desta sexta (30) e o sábado. Mas não existe confirmação de quando efetivamente as aeronaves vão conseguir decolar. Mais cedo, os vôos que saem do Aeroparque chegaram a ser adiados em uma ou duas horas até surgir a informação da paralisação.

Segundo Cunha, os passageiros foram informados que os funcionários do aeroporto estavam em assembleia. "De tempos em tempos, da área de embarque era possível ouvir sons de palmas ou pés batendo no chão", diz.

A assessoria de imprensa da Latam no Brasil disse ao UOL que está havendo atraso na entrega de bagagens e na saída de voos do aeroporto por causa de "medida sindical" adotada por funcionários da empresa Intercargo. O problema atinge todas as companhias aéreas que operam no Jorge Newby. Segundo a companhia aérea, o voo de Ester Cunha, número LA8033, foi reprogramado para 19h desta sexta (30).

A companhia lamenta os transtornos causados que esta situação, alheia ao seu controle, tenha causado e sugere que todos os seus passageiros verifiquem o status de seus voos e as alternativas disponíveis através do site www.latam.com ou do app LATAM Airlines.
Assessoria de imprensa da Latam, em nota ao UOL

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Procurada pelo UOL, a Gol disse que dois voos da companhia no Aeroparque com destino a Guarulhos sofreram atraso nesta sexta-feira (30). "Todos os clientes afetados receberam as facilidades previstas. A companhia reforça que os impactos nas duas operações aconteceram por fatores alheios ao seu controle", segundo a nota. A Azul não tem voos para esse aeroporto.

De acordo com o jornal argentino "La Nación", os atrasos e cancelamentos se devem a uma paralisação dos membros da Associação de Pilotos de Linhas Aéreas e da Associação Argentina de Aeroviários, que ficaram em assembleia das 8h às 11h, no horário local (mesmo horário de Brasília). Somente a Aerolíneas Argentinas, companhia de aviação estatal, teve cerca de 3.000 passageiros afetados.

Caos em toda parte

Retirada de bagagens do aeroporto Jorge Newby em meio a paralisação de aeroviários
Retirada de bagagens do aeroporto Jorge Newby em meio a paralisação de aeroviários Imagem: Esther Luchini Cunha/Arquivo pessoal

Todos os passageiros que estão passando pelo Jorge Newbery nesta sexta (30) estão enfrentando o caos. Quem conseguiu desembarcar no aeroporto pela manhã estava levando de três a quatro horas para recuperar suas malas, de acordo com relatos de brasileiros no local.

Karina Maranhão chegou de Recife ao aeroporto argentino por volta das 11h, e até as 14h não tinha conseguido pegar a bagagem. Ela conta que vai encontrar o marido e os filhos, que estão na estação de esqui de Bariloche há uma semana. Segundo ela, voos que partiriam do aeroporto de Bariloche nesta sexta (30) também foram cancelados, e havia brasileiros tentando chegar à capital Buenos Aires de carro para remarcar a passagem.

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Uma nova reunião entre os representantes dos trabalhadores e a Aerolíneas Argentinas está marcada para segunda-feira (2). Os sindicatos reclamam de uma perda de 72% do poder aquisitivo de seus salários desde novembro de 2023. Como pano de fundo da crise, está um descontentamento com as políticas para a aviação comercial no país e mudanças nas leis trabalhistas, com o possível fim dos acordos coletivos celebrados pelos sindicatos com as empresas, segundo o "La Nación".

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