Eles foram franqueados de outras marcas; hoje são donos do próprio negócio

Você já pensou em ser dono de uma franquia? Nem sempre a experiência pode dar certo. O UOL selecionou três empreendedores que foram franqueados, mas, por alguns motivos, abriram mão da franquia e hoje, com mais expertise, são donos da própria marca.

Comprou franquia de pastel; hoje tem rede de restaurantes

Em 1995, Flávio Gagliardi, 59, comprou uma franquia da Pastel Mel, em Londrina (PR), e investiu R$ 500 mil. O negócio foi aberto em sociedade com o seu irmão, Lélio Gagliardi. Flávio conta que gostava da área de alimentação e escolheu a marca porque ela já existia desde 1980 e era bem conhecida na cidade, além de não ter unidade em shopping. "Vi ali uma grande oportunidade de negócio", afirma.

Dois anos depois, o contrato com a franqueadora foi rompido. Segundo Flávio, ele e o irmão desistiram do negócio porque a franqueadora não tinha procedimentos definidos. "Ela não oferecia suporte necessário para os franqueados, como apoio logístico, e também ela não investia em inovações como atualização de cardápio", afirma. Procurada pelo UOL, a Pastel Mel não respondeu às perguntas sobre as críticas do ex-franqueado.

Em 1997, os dois irmãos criaram a Mr. Pastel e, em 2011, o Mr. Cheff. O Mr. Cheff surgiu para expandir o negócio do Mr. Pastel e atender o público que buscava por refeições completas. O investimento foi de R$ 350 mil. "Na mesma época, rompemos a sociedade, e cada um de nós ficou com uma marca. Eu fiquei com o Mr. Cheff", diz Flávio Gagliardi, que hoje é o único sócio.

O Mr. Cheff passou a operar no franchising em 2017. Hoje, a rede de restaurantes tem 19 unidades, sendo três próprias e 16 franquias. Para abrir uma franquia da marca, o investimento inicial é de R$ 350 mil. Mais informações no site da empresa.

Em 2022, o faturamento foi de R$ 38 milhões. O lucro foi de R$ 1 milhão.

O que faço para dar certo é sempre estudar. Não paro nunca de aprender e compartilhar experiência. Além disso, busco me cercar de profissionais competentes que podem fazer a diferença no meu negócio.
Flávio Gagliardi, fundador e CEO do Mr. Cheff

Ex-franqueado tem rede de ótica com 16 franquias

Marcio Kendi é fundador e diretor operacional da Ótica Center
Marcio Kendi é fundador e diretor operacional da Ótica Center Imagem: Divulgação
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Marcio Kendi, 38, investiu R$ 130 mil e comprou uma franquia da Óticas Carol, em Mauá (SP), em 2006. Na época, o pai de Kendi, Yoshio Tamai, era dono da Ótica Rubi, na mesma cidade. A Rubi, que funciona desde 1979, vendia semijoias e óculos e consertava relógios.

Durante quatro anos, Kendi diz que enfrentou dificuldades com a franqueadora. Além de ter aberto a região onde ele atuava para outros franqueados, Kendi afirma que senti falta de sinergia e alinhamento com os valores do franqueador e até mesmo com outros franqueados. "Vi também que meus resultados estavam abaixo da linha da concorrência, mesmo com a expectativa alinhada. Ou seja, notei que com a marca não conseguiria um retorno tão positivo como outras marcas obtinham", afirma.

Em nota, a Óticas Carol informa que oferece suporte total ao franqueado. A empresa diz ser a principal rede de franquias do ramo ótico do Brasil, com 1.450 lojas no país. "Nosso foco é manter a excelência do serviço em todo o território nacional e seguir contribuindo para profissionalizar o mercado brasileiro, por isso investimos em inovação e oferecemos suporte total ao franqueado", diz a nota.

Em 2010, Kendi fez uma mudança de bandeira. Segundo ele, só foi preciso avisar com 90 dias de antecedência que estava deixando o negócio. No contrato, estava estabelecido que ele poderia trabalhar no setor também, com bandeira própria. Então, após esse período de três meses do aviso, o Kendi mudou a bandeira e transformou a loja em própria, com o nome de Ótica Rubi — o mesmo nome da loja do seu pai, que era ótica e joalheria. Hoje, Kendi está à frente das duas lojas da Ótica Rubi em Mauá, e o pai se aposentou. Elas não têm mais o serviço de joalheria.

Em 2018, ele abriu uma nova empresa: a Ótica Center. A primeira unidade própria foi aberta em Guarulhos (SP). Em 2021, o negócio virou franquia, e hoje todas as 16 unidades da rede são franqueadas. Mais informações no site da empresa.

A Ótica Center tem dois modelos de negócio. O modelo turn é para virada de bandeira, e o smart é um modelo padrão: são lojas maiores com serviço completo e com um laboratório interno de montagem. O investimento inicial varia de R$ 110 mil a R$ 421 mil.

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Focada nas classes C e D, a Ótica Center tem sete marcas próprias de óculos de grau, óculos de sol e armações. Em 2022, o faturamento da empresa foi de R$ 46 milhões. O lucro não foi revelado.

A franqueadora tem vários sócios investidores. Os principais são Kendi, que é diretor operacional da Ótica Center, e seu irmão, Laerte Yoshio, que é diretor de expansão.

Aprendi, principalmente, que é extremamente necessário ter os mesmos valores da empresa que está investindo. Além disso, é importante conversar com os franqueados e entender suas necessidades, para definir caminhos sólidos e alinhados.
Marcio Kendi, diretor operacional da Ótica Center

Teve 22 franquias da Subway

Fábio de Juarez Marques Jr. é CEO da Detroit Steakhouse; ele teve 22 franquias da Subway
Fábio de Juarez Marques Jr. é CEO da Detroit Steakhouse; ele teve 22 franquias da Subway Imagem: Divulgação

Em 2002, Fábio de Juarez Marques Jr., 46, foi dono de franquias da Subway, rede americana de restaurantes fast food. Ele chegou a ter 22 unidades em Goiânia, Aparecida de Goiânia e Trindade (todas em Goiás).

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O investimento inicial foi de R$ 200 mil. Sua sócia era sua então namorada, Lisa; hoje sua mulher. "O ramo de alimentação funciona muito bem mesmo em crise, porque é uma necessidade, e o Subway era um fast food na época com uma proposta saudável e diferente do mercado", declara.

Dez anos depois, em 2012, ele vendeu todas as franquias. Marques Jr. afirma que a gestão da marca mudou e a rentabilidade do franqueado deixou de ser o foco principal. Em nota, a Subway informou que "a rentabilidade é um dos pilares estratégicos da marca" e que "segue focada e trabalhando na melhoria contínua, revisando portfólio e precificação de produtos e promoções". Segundo a empresa, a competição aumentou de 2011 até os dias atuais, mas ainda assim as vendas "atingem duplo dígito de crescimento no 1º semestre de 2023 quando comparado ao 1º semestre de 2022".

Ele abriu a Detroit Steakhouse, em Goiânia. Em dezembro de 2011, pouco antes de terminar de vender as franquias antigas, Marques Jr. abriu sua própria empresa. Ele investiu R$ 3 milhões no negócio. Lisa é sua sócia hoje também.

A Detroit Steakhouse é uma rede de restaurantes, sendo a carne o carro-chefe. O ambiente dos restaurantes tem sistema multimídia que exibe clipes, esportes nacionais e americanos. Hoje, a rede tem 22 unidades em funcionamento. Mais informações no site da empresa.

Para abrir uma franquia da marca, o investimento inicial é a partir de R$ 380 mil. Em 2022, o faturamento da empresa foi de R$ 70 milhões. O lucro foi de R$ 12 milhões.

A maior lição que tirei da minha experiência antes é a importância de trabalhar sempre em conjunto com os franqueados. Na Detroit Steakhouse, cinco deles fazem parte do comitê para a tomada das decisões mais importantes.
Fábio de Juarez Marques Jr., CEO da Detroit Steakhouse

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Cuidado na hora de comprar franquia

É importante tomar alguns cuidados antes de investir em franquias. Siga recomendações de especialistas, como não investir todo o seu dinheiro no negócio. É importante também ler atentamente a Circular de Oferta de Franquia (COF), verificar as taxas cobradas, a sustentabilidade do negócio e se o franqueado não corre o risco de se tornar, na prática, apenas um revendedor de produtos e serviços da franqueadora.

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