Trabalhadores acham recolocação e 1º emprego em cidades do interior do país
Em meio ao noticiário de crise e demissões, há quem comemore a conquista de um emprego em 2015. A reportagem do UOL visitou duas cidades que estão entre as que mais geraram emprego em 2015, em regiões diferentes: Franca (SP) e Arapiraca (AL).
O número de empregos gerados é o saldo, ou seja, o total de contratações menos o de demissões no período. Por exemplo, se em uma cidade foram contratadas 20 mil pessoas, mas outras 15 mil perderam seus empregos, o saldo é de 5.000, que é o número de vagas geradas (20.000 - 15.000 = 5.000).
Em Franca, as mais de 5.000 vagas geradas em 2015 ajudaram a recolocar profissionais no mercado. O presidente de uma associação que reúne bancas de pesponto [acabamento de costura], Claudinei Rocha, diz que a tendência é de criação de vagas nos próximos meses.
As bancas têm geralmente até dez funcionários e são contratadas por grandes indústrias do setor calçadista para terceirização da produção. Segundo Rocha, são quase 4.000 bancas, que geram mais de 12 mil postos de trabalho. O piso da categoria é de R$ 980.
Boom de vagas até novembro
"A crise está a todo vapor, mas neste ano a expectativa é que as bancas sobrevivam e que vagas sejam criadas. O ano passado foi muito ruim, e certamente teremos demissões no fim do ano, mas isso é cíclico, a economia da cidade funciona assim. Até o fim de novembro, haverá um 'boom' de vagas, com grande geração de emprego", afirma Rocha.
Um dos donos de banca de pesponto é o microempresário José Raimundo Alves, 54. Ele trabalhou por mais de dez anos na empresa Samello, que foi uma das maiores calçadistas do país nas décadas de 80 e 90.
Desde a crise da empresa, no fim dos anos 90, ele abriu sua própria banca e passou a prestar serviços, primeiro para a própria Samello e depois para outras empresas do setor. Ele conta que, no fim do ano passado, chegou a manter apenas um funcionário, além dele e da mulher.
"O serviço diminuiu e fui dispensando. Neste ano, a demanda aumentou de novo, já contratei quatro funcionários e talvez contrate mais um ou dois até o fim do ano."
Esperando demissão no fim do ano
Na outra ponta da cadeia, os sapateiros que conseguiram voltar ao mercado de trabalho já se preparam para o fim do ano e para uma eventual demissão. É o caso de Marcos Felipe Castro, 23, que foi demitido em setembro de 2014 e voltou a trabalhar como chanfrador --profissional que faz parte do acabamento nos calçados.
"Eu peguei meu seguro-desemprego em outubro [do ano passado] e fiquei parado até o começo do ano, fazendo bicos. Trabalhei como mototaxista até que consegui ser contratado por uma banca em março", conta.
Reserva para quando perder trabalho
A coladeira Rosilena Silva Pessoni, 27, trabalha desde fevereiro em uma fábrica da cidade, mas também já começou a fazer trabalhos free-lancer para duas bancas de pesponto da cidade em seu tempo livre.
"Quero fazer um pé de meia para comprar meu carro, por isso esse serviço extra é importante", conta ela. "E, se a crise não passar e a firma demitir, tenho alguma reserva".
Primeiro emprego
Outra cidade que vem despontando com criação de vagas, especialmente no setor de serviços, é Arapiraca (AL). Graças à abertura de novos empreendimentos, teve um saldo positivo de 2.829 vagas com carteira assinada. Alguns trabalhadores arrumaram o primeiro emprego, como ocorreu com Douglas Julião, 24.
Estudante de psicologia, Julião conta que Arapiraca tem largado a antiga vocação agrícola para dar oportunidades em empresas de serviço.
"A cidade tem se desenvolvido muito nos últimos anos com a chegada dessas empresas e realmente não faltam oportunidades”, diz o jovem, que trabalha na recém-aberta empresa AeC, especializada em serviço de atendimento ao consumidor.
Promoção em três meses
Maria Alcione, 24, também conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada. Formada em Letras, até então tinha trabalhado apenas como monitora de escola para o governo do Estado. "Está sendo uma oportunidade excelente. Em três meses, consegui uma promoção". Hoje ela atua como supervisora de operações.
A cidade também atrai com boas oportunidades de emprego. Há 14 anos no ramo de shoppings, Geraldo Lira de Oliveira, 43, conta que deixou a gerência de um em Maceió para assumir a gerência do primeiro de Arapiraca. Ele foi contratado em março.
“Apesar de ser interior, a proposta era bem melhor do ponto de vista de carreira e salário. Sem contar que o grupo que é proprietário aqui tem um método de trabalho melhor, com procedimentos de gestão modernos. Tudo aqui é muito controlado”, afirma.
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