O que foi o apagão de 2001? A conta de luz subiu? Pode acontecer de novo?
Um fantasma do passado voltou a rondar o país em 2021: o risco de apagão elétrico. O conceito, porém, pode ser desconhecido da população mais jovem, que não tem lembranças ou nem chegou a viver o período de racionamento elétrico há 20 anos.
Em 2001, o governo federal recorreu a blecautes programados para evitar o colapso do sistema elétrico brasileiro. Famílias e empresas tomaram uma série de ações, como trocar lâmpadas e equipamentos, para reduzir o consumo de energia. As ruas ficaram parcialmente sem iluminação pública e houve proibição de eventos noturnos, como shows e partidas de futebol.
Vinte anos depois especialistas apontam que novo risco de racionamento existe devido à atual seca por que passam algumas regiões do Brasil, além de problemas relacionados à transmissão de energia elétrica.
Na semana passada, o governo federal chegou a emitir um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro, em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
O comunicado indica que a situação na região é classificada como "severa" e a previsão é de pouco volume de chuvas para o período.
Por conta disso, serão adotadas algumas medidas para garantir água nos reservatórios das hidrelétricas. O objetivo é evitar que seja liberado volume utilizado, por exemplo, para navegação em rios e assegurar água potável para os municípios onde a força dos rios que deságuam no mar evita o retorno de água salgada.
A crise de 2001 também teve um pano de fundo político, já que ocorreu no último ano do segundo mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Politicamente, o apagão é visto como um dos fatores que elevaram a impopularidade de FHC e reduziram as chances do partido tucano na eleição de 2002, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Conheça ou relembre a seguir os principais detalhes da crise elétrica no Brasil no início dos anos 2000.
Veja perguntas e respostas sobre o apagão de 2001
O que foi o apagão de 2001?
O termo se refere a um corte programado de energia elétrica, para reduzir o consumo no país em 20% e, assim, evitar um colapso no abastecimento em todo o território nacional.
O governo determinou o racionamento por parte de consumidores residenciais e industriais no Distrito Federal e em mais 16 estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.
Quanto tempo durou?
Previsto para começar em 1º de junho de 2001, o apagão foi antecipado pelo governo para 17 de maio e durou nove meses. A partir desta data, cerca de um terço da iluminação pública das ruas foi apagada.
O racionamento obrigatório para as indústrias e o comércio começou em 1º de julho daquele ano. Para as famílias, as restrições foram obrigatórias a partir de 4 de junho.
"Independentemente das críticas, algumas justas, sobre erros na condução da política energética e de falta de previsão no uso dos reservatórios de água, o fato é que houve drástica redução das chuvas na região Sudeste, que representa 70% da capacidade de armazenagem de águas de todo o país", disse FHC ao anunciar o racionamento em um discurso de rádio e televisão.
Quando acabou?
O fim do apagão também foi anunciado pelo presidente da República em um discurso no rádio e na televisão, no dia 19 de fevereiro de 2002.
"Você apagou a luz e iluminou o Brasil", disse FHC em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão.
Por que aconteceu?
Além da seca que atingia o país, com escassez de chuvas, havia problemas como falta ou o atraso de obras de transmissão e geração de energia, conforme relatório produzido pela Comissão de Análise do Sistema Hidrotérmico de Energia Elétrica, ligada ao grupo criado pelo governo e que ficou conhecido como "Ministério do Apagão".
Como foi o racionamento?
O apagão reduziu a iluminação pública de ruas, monumentos, peças de publicidade e fachadas de prédios públicos federais. Durante a noite, foi proibida a realização de atividades esportivas, shows, festas, exposições e rodeios.
Também não podiam funcionar parques de diversão e circos. A população também passou por algumas mudanças comportamentais, como troca de equipamentos e adoção de lâmpadas mais econômicas.
Como funcionavam as atividades essenciais?
Os serviços indispensáveis à população, como hospitais e delegacias, ficaram de fora do racionamento.
O racionamento buscava justamente assegurar energia para o funcionamento dessas atividades.
Naquela época, era baixa a quantidade de geradores em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), o que aumentava a preocupação com a prestação desses serviços.
Qual foi o impacto nas contas de energia?
A conta de luz sofreu uma série de alterações, com previsão de bônus, multa e até corte de energia para quem não cumprisse as determinações de reduzir em 20% o consumo de energia elétrica.
Conforme a medida provisória que tratava do apagão, a referência para os consumidores seria a média mensal dos meses de maio, junho e julho de 2000.
A meta era de 100% da média mensal para contas de até 100 kWh. Para qualquer valor acima dessa faixa, a meta de redução consumo era de 20%.
A conta ficou mais cara?
Isso dependia do quanto as pessoas iriam consumir de kWh (quilowatt-hora) por mês. Para quem consumisse até 100 kWh, por exemplo, não havia necessidade de redução -mas isso não significava que quem consumisse 80 kWh poderia aumentar o consumo até essa faixa.
Acima dos 100 kWh, era obrigatório racionar o consumo em 20%. Para as contas de energia que fossem superiores a 200 kWh, havia uma cobrança de 50% a mais sobre o que excedesse esse nível. Para contas acima de 500 kWh, a sobretaxa era de 200%.
Como funcionava a cobrança?
O consumo entre 101 kWh e 200 kWh não tinha cobrança de tarifa extra, mas era necessária a redução de 20% do consumo médio verificado em maio, junho e julho de 2000 (um ano antes do racionamento).
Para o consumo compreendido entre 201 kWh e 500 kWh, incidiria uma sobretaxa de 50% apenas para quem não atingisse a meta de consumo. Nas contas acima de 500 kWh, a sobretaxa para o descumprimento da meta era de 200%.
O que acontecia com quem não cumprisse a meta?
Os consumidores que descumprissem a meta mensal fixada estavam sujeitos à suspensão do fornecimento de energia elétrica, a partir da leitura de consumo do mês de junho de 2001.
No primeiro descumprimento, havia apenas uma advertência por escrito. Se houvesse reincidência, o corte de energia poderia acontecer após 48 horas da entrega da conta que indicasse o descumprimento da meta.
O corte tinha duração máxima de três dias na primeira suspensão do fornecimento. Nas suspensões subsequentes, a interrupção do fornecimento variava de quatro a seis dias.
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