Bancos crescem, mas enfrentam inadimplência; compare resultados
O período de divulgação dos resultados trimestrais das empresas listadas na Bolsa é um dos momentos mais aguardados pelos investidores. É possível adquirir percepções a respeito do desempenho financeiro, das estratégias de crescimento e da saúde geral dos negócios das empresas, o que viabiliza tomar decisões melhores sobre investimentos e otimizar sua carteira de ativos.
Já as grandes instituições bancárias geram ainda mais interesse. Essa relevância advém do fato de que os principais bancos brasileiros, em conjunto, representam mais de 10% do índice Ibovespa, e esses resultados tende a movimentar o mercado.
Os últimos trimestres, em virtude da elevada taxa Selic e do alto endividamento das empresas e famílias, têm se mostrado um momento bastante desafiador para os bancos. Embora taxas de juros maiores em teoria sejam benéficas para os bancos, elas também pressionam os níveis inadimplência, que aumentam as provisões por parte das instituições financeiras.
Apesar dessa complexa conjuntura, alguns bancos se destacando positivamente: Itaú e Banco do Brasil. Em contrapartida, a redução da margem com o mercado e o aumento da inadimplência e das provisões exerceu um peso significativo sobre o desempenho de Bradesco e Santander. Abaixo iremos analisar os resultados referentes ao segundo trimestre de 2023, visando verificar se houve alguma alteração nessas dinâmicas ao longo deste último trimestre.
Ao analisar a margem financeira bruta, percebemos que, de forma consistente com os últimos trimestres, Itaú e Banco do Brasil seguem como protagonistas. Em uma perspectiva anual, o desempenho de Itaú e Banco do Brasil é ainda mais notável, dado os resultados negativos de margem com o mercado de Bradesco e Santander. Os dois bancos têm uma sensibilidade negativa com o movimento dos juros maior nesta linha de receita, o que levou a piores resultados em razão do movimento do Banco Central de aperto monetário no último ano.
Na análise trimestral, já conseguimos alguma melhoria marginal na margem com o mercado para o Bradesco e Santander. Este movimento tende a ser fortalecido nos trimestres subsequentes, à medida que o ciclo de redução da taxa Selic se intensifique. No entanto, é importante ressaltar que a melhora desses dois bancos deve ser gradual.
Ao observar a composição da carteira de crédito dos bancos, o segundo trimestre confirmou a tendência de desaceleração no ritmo de crescimento desta, à medida que os bancos adotaram medidas para conter o aumento dos índices de inadimplência através de uma abordagem mais seletiva na concessão de crédito. Durante esse período, os maiores crescimentos foram provenientes do Banco do Brasil, impulsionado pelo aumento na carteira destinada às grandes empresas, e do Santander, devido ao incremento na linha de títulos privados.
Na comparação anual da evolução da carteira, quando consideramos o crescimento em termos nominais ao invés de percentuais, os destaques são o Banco do Brasil e Itaú. O substancial crescimento anual na carteira de crédito do Banco do Brasil foi primordialmente alavancado pela expansão do crédito para o agronegócio no segmento de Pessoa Física, bem como pelo aumento das carteiras destinadas a Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs), além da modalidade de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) com consignação para Pessoa Física.
No caso do Itaú, a expansão anual da carteira provém principalmente do aumento do crédito nas modalidades pessoal e imobiliária para Pessoa Física, além do crescimento nas operações relacionadas a títulos privados.
Os números do segundo trimestre mostraram que os bancos adotaram uma estratégia mais conservadora para a carteira de crédito, focando na manutenção de indicadores de inadimplência em detrimento de um maior crescimento, visando com isso assegurar a solidez e a qualidade de seus ativos financeiros.
O cenário desafiador mencionado no início do texto torna-se particularmente evidente nos indicadores de inadimplência e provisões. Conforme ilustrado na tabela acima, os bancos mais impactados pelo aumento da inadimplência são notadamente o Bradesco e o Santander, destacando-se especialmente o primeiro. A piora na taxa de inadimplência exerceu também influência sobre os níveis de provisões. Vale lembrar também o impacto no 4T22 e 1T23 do evento Americanas, o que levou a necessidade de provisões extraordinárias.
Para os próximos trimestres, considerando a abordagem mais cautelosa que os bancos têm adotado na concessão de crédito, pautada na seletividade na originação de operações e priorizando aquelas de natureza mais segura e com garantias, a perspectiva é de uma gradual melhora nos indicadores de inadimplência ao longo dos próximos trimestres. Contribui para esse cenário o início do ciclo de redução da taxa Selic, o que resulta em um alívio no ônus das despesas financeiras para os devedores.
Analisando o resultado final dos bancos, quando comparamos os resultados anuais, torna-se evidente que a estagnação da margem financeira e o aumento das provisões desempenharam um papel relevante na queda dos lucros do Bradesco e Santander. Esse declínio impactou diretamente a rentabilidade dessas instituições. Por outro lado, os destaques positivos foram o Itaú e o Banco do Brasil, que conseguiram manter níveis sólidos de rentabilidade mesmo em um cenário macroeconômico mais desafiador.
Ao analisar o cenário trimestral, já é possível identificar uma ligeira melhora no Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) do Bradesco e Santander, o que é positivo. A redução das taxas de juros deve contribuir para uma melhoria da margem financeira e o controle da inadimplência desses dois bancos ao longo dos próximos trimestres, embora a recomposição do ROE deva ocorrer de forma gradual ao longo do tempo.
Para o próximo trimestre, é plausível esperar uma tendência semelhante àquela observada no trimestre atual. Os bancos provavelmente apresentarão um crescimento mais moderado na carteira de crédito, buscando um portfólio com menor risco e menor inadimplência. A margem financeira com o mercado, especialmente no caso do Bradesco e Santander, tende a continuar melhorando ao longo do tempo, assim como a rentabilidade dessas instituições.
A trajetória de redução das taxas de juros também deve gerar um alívio gradual na inadimplência e uma melhoria na margem financeira com o mercado. Dentro desse contexto, esperamos que o Itaú e o Banco do Brasil continuem se destacando dentro do setor no próximo trimestre. Com base nessa perspectiva, os dois ativos estão incluídos em nossas carteiras recomendadas. O Itaú faz parte da carteira SuperPag, enquanto o Banco do Brasil está presente na carteira Rendeira.
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