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Este investimento está mal na Bolsa neste ano. E agora: comprar ou vender?

Veja por que recibos de ações de empresas estrangeiras estão caindo na Bolsa e orientações de profissionais de mercado sobre esse investimento - Getty Images/iStockphoto
Veja por que recibos de ações de empresas estrangeiras estão caindo na Bolsa e orientações de profissionais de mercado sobre esse investimento Imagem: Getty Images/iStockphoto

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/06/2022 11h00

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Depois de brilhar em 2020 e 2021, o mercado de BDRs (Brazilian Depositary Receipts, recibos de ações de empresas estrangeiras) não está indo muito bem na Bolsa este ano. Os BDRs permitem investir indiretamente em empresas estrangeiras. O índice do setor, o BDRX, acumula queda de 26% no semestre, até o dia 28 de junho, desempenho abaixo do Ibovespa e de outros índices de ações brasileiras.

A expectativa de desaceleração econômica mundial, o aumento dos juros nos Estados Unidos e na Europa e a desaceleração do dólar ante o real este ano na comparação com 2021 são apontados por profissionais de mercado como principais motivos para a desvalorização dos BDRs. Nesse cenário, o que o investidor deve fazer? Veja o que dizem especialistas ouvidos pelo UOL.

Desempenho negativo após anos de valorização

Os BDRs são uma das formas de investir em ações estrangeiras. A baixa do índice de BDRs na Bolsa brasileira já corroeu parte do ganho do ano passado. No acumulado em 12 meses, o indicador também tem variação negativa.

O BDRX perde este ano para o Ibovespa e para o Ifix, que acompanha as cotas dos fundos de investimento imobiliários (FIIs).

  • BDRX: -26,08% em 2022 / -21,06% em 12 meses
  • Ibovespa: -4,04% em 2022 / -22,05% em 12 meses
  • Ifix: -0,40% em 2022 / +3,25% em 12 meses

O último ano em que o índice que acompanha os BDRs na Bolsa brasileira B3 teve variação negativa foi 2016. De 2017 a 2021, o indicador acumulou variação positiva de 288%.

Veja a variação anual do BDRX desde 2016

  • 2016: -9,71%
  • 2017: 24,06%
  • 2018: +12,02%
  • 2019: +35,67%
  • 2020: +54,01%
  • 2021: +33,65%

Mercado maior hoje

A primeira queda dos BDRs desde 2016 acontece justo no momento em que a quantidade de brasileiros investindo nesse mercado vem crescendo de forma mais acelerada.

O impulso veio em outubro de 2020, quando começaram a valer novas regras dos BDRs aqui no Brasil. As novidades ampliaram o acesso do pequeno investidor a uma maior quantidade desses papéis e reduziram os valores mínimos para a aplicação.

Esse período em que o acesso dos BDRs foi democratizado coincidiu com um ciclo de juros baixos no Brasil, quando investidores buscaram opções de investimento com rendimentos maiores que os entregues pela renda fixa. Essa migração de recursos ajudou a aumentar os negócios com os BDRs.

Investidores

  • 2016: 500
  • 2017: 600
  • 2018: 1.500
  • 2019: 2.900
  • 2020: 121,9 mil
  • 2021: 306,1 mil
  • 2022: 368,5 mil

Volume de negócios

  • 2016: R$ 3,4 bilhões
  • 2017: R$ 2,1 bilhões
  • 2018: R$ 5,6 bilhões
  • 2019: R$ 5,1 bilhões
  • 2020: R$ 28,6 bilhões
  • 2021: R$ 91,4 bilhões
  • 2022: R$ 53,1 bilhões (até maio)

Motivos da valorização saem de cena

Os BDRs são recibos de ações de empresas estrangeiras, principalmente de companhias americanas, que faturam em dólar. Então, a valorização desses papéis tem relação com a moeda americana e com o desempenho positivo dessas companhias.

Segundo profissionais de mercado, três fatores que ajudaram a alimentar a valorização dos BDRs até 2021 estão, agora, saindo de cena em 2022.

  1. Juros americanos baixos: Nos últimos anos, os juros americanos estavam zerados, o que favoreceu a atividade econômica para essas empresas. Mas este ano, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou a subir novamente os juros, para combater a maior inflação em décadas.
  2. Economia forte: Nos últimos anos, os juros baixos ajudaram os Estados Unidos a manterem a economia aquecida o suficiente para que as empresas de lá atravessassem a pandemia preservando vendas e lucros. Mas este ano, com a alta dos juros, a atividade econômica deve desacelerar. E, por tabela, isso reduz o espaço para as empresas venderem e lucrarem mais, dizem analistas, que citam até o risco de recessão no radar.
  3. Dólar forte ante real: O dólar valorizado ante o real ajudou os BDRs, inflando os ganhos das empresas e as cotações das ações de companhias americanas quando os números de lá são convertidos para a moeda brasileira. Entre o fim de 2017 e o fim de 2021, o dólar saltou 68%, de R$ 3,31 para R$ 5,57. Mas agora em 2022, embora a moeda americana siga apreciada ante o real, ela perdeu força e já caiu 8%.

A combinação dos ativos internacionais perdendo valor por preocupações quanto à subida de juros nos países desenvolvidos (e um consequente desaquecimento da economia global) e a apreciação do real que estão por trás do fraco desempenho dos BDRs neste ano.
Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora

O que investidor pode fazer?

Segundo profissionais de mercado, esses fatores que estão atrapalhando o comportamento dos BDRs este ano devem seguir no radar por mais alguns trimestres.

Por isso, apostas de curto prazo —como, por exemplo, comprar BDRs agora para apurar um lucro de forma rápida, em menos de um ano— representam uma estratégia bastante arriscada, dizem especialistas.

Veja a seguir o que dizem profissionais de mercado para diferentes situações de investimentos em BDRs.

Quem aplicou algum tempo atrás e ainda está no lucro: Segundo profissionais de mercado ouvidos pelo UOL, considerando o risco de elevação de juros e de recessão nos Estados Unidos e Europa, o aplicador que está no lucro pode aproveitar esse momento para migrar parte da carteira de BDRs para Bolsa brasileira.

Mas isso depende da composição da carteira de cada pessoa, que precisa levar em consideração os prazos e o grau de diversificação de todas as suas aplicações.

O ponto de entrada do investidor não deveria ser relevante na sua decisão de manter ou não uma aplicação, mas somente a perspectiva futura do investimento. Dito isso, A nossa perspectiva de curto prazo para bolsa americana é pessimista, de baixa.
Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama

Quem aplicou este ano e já está no prejuízo: O aplicador que está perdendo em BDRs precisa considerar o tempo que tem para o resgate. Se o foco está no longo prazo, para daqui a mais de três anos pelo menos, a pessoa pode aguardar o mercado se recuperar para resgatar o dinheiro em um melhor momento.

Mas se a aplicação nos BDRs tem um objetivo mais curto, até 2023, por exemplo, o aplicador deve considerar a possibilidade de migrar a aplicação para uma opção mais conservadora, como renda fixa, até o momento do saque. Isso porque há no radar o risco de as perdas nas bolsas globais se agravarem, dizem economistas. O que pode acentuar a desvalorização dos recibos de ações dessas companhias estrangeiras.

O importante ao se investir é a perspectiva futura mais do que o histórico. Mas se a pessoa está no vermelho em BDRs e tem outras posições internacionais na carteira, pode reduzir a exposição a Bolsas globais e aumentar em Bolsa brasileira. Isso, claro, considerando a composição da carteira e a necessidade de manter a diversificação em ativos não correlacionados à economia brasileira.
Eduardo Cubas, sócio e head de alocação da Manchester Investimentos

Quem está fora e pensa em entrar: Apesar do cenário global ainda bastante incerto, aplicar parte da carteira em ativos internacionais é uma forma de diversificar investimentos e reduzir a exposição a problemas específicos da economia brasileira, dizem profissionais de mercado. Assim, investir em BDRs pode ser uma opção válida para quem não tem nada desse ativo. Mas sempre com atenção ao objetivo de longo prazo e ao perfil de risco da pessoa, dizem especialistas.

Apesar da maior volatilidade no curto prazo, a recente queda de preços configura uma oportunidade de entrada nesse mercado, dado que os principais índices internacionais voltaram a negociar abaixo das suas respectivas médias históricas. O contexto é favorável aos que desejam iniciar ou aumentar a exposição em BDRs.
Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora

O BDRX é um índice que acompanha o desempenho dos BDRs mais negociados, em uma cesta formada por 40 papéis. O indicador está em queda porque os papéis de maior peso na carteira e mais negociados estão indo mal este ano. Mas há alguns BDRs que estão com desempenho positivo. Entre os destaques este ano, quase todos são do setor de petróleo, beneficiados pela valorização do produto no mercado global.

O investidor pode reduzir a exposição a BDRs, mas sem zerar posições, para manter a diversificação na carteira. Ele pode fazer ajustes na alocação, por exemplo, migrando para posições em empresas mais resilientes neste momento, como as de petróleo, que estão indo bem.
João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos

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